Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Quando o ‘bodo’ caiu, antes de ser…


Nos tempos que correm temos de desconfiar cada vez mais e, sobretudo, cada melhor como atitude de vida – intelectual, reflexiva e mesmo de bom senso – sobre as mais diversas promessas, seja de quem governa, seja de quem pretende influenciar as decisões dos outros…cívica e cinicamente.

O pretenso ‘bodo aos pobres’ que foi publicitado – particularmente por quem sustenta o poder…embora na retaguarda – já não vai ter tanta expressão como diziam: as contas não permitem desafetar rigores – a ‘austeridade’ que cunharam para se referir ao assunto vai sendo substituída por outros termos similares ou dissimulados…embora com efeitos idênticos – e os favores a pagar/receber por certos apoios – salário mínimo, redução da taxa de impostos ou devolução da sobretaxa e outros – começam a tremelicar…embora a contestação possa ser, por agora, mais surda ou na surdina.

= Do salário mínimo…

Há setores de atividade para quem o aumento do salário mínimo – embora desejável, necessário e urgente – se torna uma espécie de garrote para a sustentabilidade das instituições. Falamos daqueles que têm por atividade a ‘economia social e solidária’, isto é, aqueles que têm de governar instituições particulares de solidariedade social e afins, bem como as iniciativas que não envolvem produção de matéria comercial de venda ao público. Para algumas instituições/associações poderá ser a machada final no equilíbrio das contas, tanto mais que a torneira do Estado – segurança social e demais entidades subsidiadoras – dá cada vez menos para que se possa fazer um serviço ainda digno e com dignidade.

Não se pode pedir às famílias que comparticipem com algo de acrescento, se mesmo elas vivem em contenção e presas por fios para equilibrar o que conseguem pagar…

Não se creia que bastará acrescentar uns tantos euros à conta do ordenado ao final do mês e logo isso reverterá em benefício de equilíbrio das obrigações das famílias… tanto mais que algumas já vivem penduradas nas reformas dos mais velhos – nalguns casos retirando-os das casas onde eram cuidados – para que consigam sobreviver desempregados e com filhos dependentes.

Aos senhores e senhoras do parlamento – tão sensíveis às questões sociais ‘de papel’ – desafiamos a que nos contem casos em que viram as pessoas a pedirem-lhes a possibilidade de estarem num local onde os filhos possam comer… Um dia, um casal de desempregados pediu-me que seu filho pudesse estar no jardim-de-infância, pois iriam fazer todo o esforço por pagar a mensalidade… mesmo que mínima, pois a criança teria onde comer, ao menos uma vez por dia!

As instituições de solidariedade social – muitas delas ligadas à Igreja católica – passam por dificuldades, quase fazem, diariamente, milagres… mesmo que sintam a concorrência (um tanto) desleal doutras ligadas ao setor público… Não somos – como ipss’s – e nunca seremos postos de ‘lavagem de dinheiro’, como foi dito – abusiva e caluniosamente – por certos extremistas no parlamento… Pelo contrário, a maior parte das ipss’s fazem com pouco dinheiro o que outros gastam a triplicar e com fracos resultados!

= … Ao controlo do salário máximo

Se há condições de justiça mínima e aceitável, ousamos replicar aos legisladores que cuidem em não aumentar os salários máximos, pois os pobres também são gente e não merecem continuar a ver uns engordar e pavonearem-se em carros e comezainas e outros a contar os cêntimos…envergonhada e ciclicamente.

É preciso que não se esqueçam daquilo que disseram e tenham a honestidade mental, sentimental e moral em serem comedidos nos seus autoaumentos, pois tornar-se-á vergonhoso que, quem nunca teve de sujar as mãos a trabalhar no duro, venha dar lições a quem sofre e em que o que tem foi conquistado com sangue, suor e lágrimas…

Se formos todos mais verdadeiros poderemos perceber que a conquista do poder não justifica tudo e nem o seu contrário. Ainda não perceberam que já não são levados a sério? O ‘bodo aos pobres’, afinal, faliu ainda antes de ser distribuído…nestes parcos dias do ano a terminar. E depois, que virá? Haja moralidade!

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário