Por
decisão da Unesco, no passado dia um, na Namíbia, o chocalho – ou a ‘arte
chocalheira’ – português foi declarado património cultural imaterial da
humanidade com necessidade de salvaguarda urgente.
Esta
arte é, predominantemente, exercida (fabricada e executada) no Alentejo… embora
entendendo-se de Trás-os-Montes até aos Açores… Para alguns dos interessados em
preservar esta arte, a classificação agora conseguida, pretende denunciar
aquilo que não tem sido feito para que um certo mundo da pastorícia não morra!
= O que
é um chocalho? Uma espécie idiofone (isto é, instrumento de percussão) em ferro
forjado, colocado numa coleira ao pescoço dos animais (ovelhas ou gado bovino)
contendo um badalo que emite sons que ajudam a localizar os animais… Embora
tenham várias sonoridades, conforme a arte de fabrico, esta peça de artesanato
torna-se, assim, em mais um motivo de salvaguarda da tradição e um grito contra
o abandono do setor rural…em Portugal.
= Que
tem (ou pode ter) este acontecimento a ver com a (nossa) situação política
atual? Que coincidências haverá? Este fenómeno cultural que significado poderá
ter para o resto da conjugação do país? Certas intervenções no mundo cultural
não serão mais um arremedo da arte chocalheira… em risco? Que lições podemos
tirar para o futuro próximo da Nação?
= Por
que não acreditamos em coincidências, a classificação da Unesco do chocalho
aconteceu no ‘dia 1 de dezembro’, dia da evocação da restauração da
independência de Portugal do jugo castelhano. Ora, diante desta conjugação de
datas, poderemos considerar que há muita gente – em tantos e variados campos –
que faz muito barulho e pouco acrescenta à nossa identidade nacional. Pelo
contrário, chama a atenção para dar a saber onde está, mas não se compromete na
construção da mudança. Muitos lutam até atingirem o poder – usando todos os
meios e sortilégios – e depois descansam nos benefícios. Com efeito, o cheiro
do poder gera tal aconchego que até as ideologias mais extremistas se submetem
à mais básica sedução…
= Dizem
que haverá pouco mais de uma dezena de artífices da ‘arte chocalheira’. Portanto,
esta tradição está em vias de extinção como modo de vida. Ora, se, em Portugal,
ainda houvesse outros tantos que fossem capazes de fabricar homens/mulheres com
princípios, talvez ainda nos salvássemos deste lodaçal em que estamos a
afundar-nos…a olhos vistos e sem perspetiva de mudança a curto prazo. Quantos
‘miguéis de vasconcelos’ (da restauração) proliferam nos gabinetes de tantas
instâncias políticas! Quantos traidores se deixam seduzir por míseros vinténs e
fazem calar a voz da consciência! Quantos estão, vistosos e radiantes, na hora
da vitória e se vão tentando escapulir pelas portas dos fundos quando lhes
cheira a certo de contas!
= De
facto, seria muito útil regenerar as oficinas da ‘arte chocalheira’ em ordem a
serem produzidos novos e mais sonoros chocalhos para serem colocados ao pescoço
de tantos incompetentes e corruptos, de tantos enganadores e oportunistas, de
tantos falsários e dissimuladores… A transumância pode começar…pela Assembleia
da República… Que orquestra bela irá ser feita, neste imenso Portugal!
= Porque
acreditamos que só a verdade vence, deixamos extravasar esta reflexão, pois
acreditamos que ainda podemos construir um país mais humano porque mais
fraterno e solidário. Agora que o tempo de Natal se aproxima não gostaríamos de
ver continuada a sensação de que só nesta época se pensa nos mais
desfavorecidos nem de que os governantes irão continuar a usar os seus
concidadãos como peças de xadrez nos seus intentos mais subterrâneos…Que o
chocalho nos acorde para a realidade nua e crua. Assim sejamos dignos desta
arte ancestral e popular…
António
Sílvio Couto
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