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sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Num país de migrantes e de turistas

 



Neste jardim à beira-mar plantado nota-se que há duas vertentes humanas e sociais, económicas e culturais que polarizam a nossa vida coletiva: somos um país de migrantes – milhões que saíram e outros milhões que vieram – numa dose atropelada de tantos outros que nos procuram como turistas, reais ou em trânsito para outras paragens bem mais apelativas, ricas e modernizadas.

1. Desde a aventura das descobertas no século quinze que temos sido uma nação em movimento endógeno (dentro do próprio país) e exógeno (para outros continentes e acentuadamente para a Europa): temos a saga de partir e o condão de ir à procura de condições mais favoráveis de vida. Sejam quais forem os dados ditos e credíveis andaremos por mais de cinco milhões fora da fronteiras, disseminados onde menos possa ser previsível. A força de sair conseguiu trazer novos conhecimentos, rasgar horizontes, gerar nova economia e quase fazer dos emigrantes alguém que fez movimentar o país com recursos sempre novos e quase sempre aproveitados por forças políticas que tinham a visão fora da ditadura das coisas estatais.

2. Desde o início do milénio que fomos sendo atrativos para outros povos e culturas, desde a África à América Latina e passando mais recentemente pela Europa do norte e de leste, sem esquecer (nos últimos dez anos) o extremo Oriente…ultrapassando a fasquia de um milhão de pessoas. Não fossem essas novas forças de trabalho e o país estaria em crise de matéria-prima para laborar senão mesmo num mais acentuado inverno demográfico e de quase colapso dos serviços de segurança social.

3. A escapatória mais significativa para não cairmos num fosso de défice económico-cultural tem sido a vaga de turistas que nos invade com a exceção dos anos da pandemia: muitos dos proventos das nossas parcas empresas têm vindo do turismo nas suas mais diversificadas componentes, onde o sol e a simpatia já não vendem o produto…

O turismo é uma atividade económica fundamental para a geração de riqueza e emprego em Portugal e os dados turísticos de 2023 reafirmam essa importância. Em 2023, o setor do turismo ultrapassou os níveis pré-pandemia nos principais indicadores da procura (+10,0% nas dormidas; +10,7% nos hóspedes; +18,9% nas receitas turísticas), batendo novos recordes. Foram registados 30 milhões de hóspedes dos quais 18,3 milhões estrangeiros, o que representa um aumento de 13,3 % e 19,1%, respetivamente, em relação a 2022.

4. Nesta fase da nossa história coletiva é essencial, para além de um diagnóstico sério, sereno e sensato, uma boa capacidade de vermos quais são os investimentos culturais dos migrantes (os que partem e os que chegam) e dos turistas, pois, podemos, de forma fácil e inconsequente, deitar tudo a perder, se fizermos de conta que estas forças de vida produzem frutos sem cuidarmos das razões e se só nos ativermos às consequências. Num mundo aberto e interrelacionado um pequeno descuido poderá deixar marcas irreversíveis. Temas como a segurança ou a proteção na saúde, referências aos valores sociais e à necessária capacidade de acolhimento, propostas diversificadas para além do mero lazer e da gastronomia, correção no trato e verdade nas políticas de habitação… poderão ser itens de boa promoção daquilo que somos e de quanto queremos ‘vender’…lealmente.

5. Mais do que produtos de índole material temos de saber apresentar outras facetas da nossa cultura, rica em temas ligados à natureza, às iniciativas de caráter espiritual, sem reduzir ao religioso tradicional de ‘festas e romarias’, mas também à descoberta de vivências de idiossincrasia multifacetada e sem rebusco de matérias cristãs. Temos um largo e longo leque de propostas que precisam de serem trabalhadas em sincronia com todos os intervenientes. Certamente que migrantes e turistas terão muito a ganhar, se todos forem atores e não meros consumidores. Queira Deus que todos remem para o mesmo lado!



António Sílvio Couto

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