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quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Livros em feira… pessoas e questões

 

No mesmo dia em que fui adquirir novas estantes para organizar os livros comprados, tive a oportunidade de visita a ‘feira do livro’, no Porto. Num determinado momento dei comigo, essencialmente, a observar as pessoas que deambulavam pelos jardins do palácio de cristal. Deixei a quase centena e meia de stands e fixei-me nas pessoas – novos e velhos, crianças e adultos, no masculino e muito mais no feminino – comparando-as com as de outras paragens, sobretudo da região do ‘vale do Tejo’, bem diferentes destas de Ribadouro…

1. Anotei a observação de quem me acompanhava: tanto esforço para fazer um livro e depois é vendido a dois euros… Referia-se às razoáveis três dezenas de stands de vendedores de livros usados, alfarrabistas e exemplares em maré de saldo. De vez em quando passava alguém com sacos de compras, num misto de interesse ou de ritual de visita ao recinto da sua devoção.

2. Detive-me a observar algumas jovens teenagers com largos calhamaços à inglesa com capas luzidias, mas cujo conteúdo, sei de outras partilhas, cheirando a exoterismo, procurado ou induzido. Parecia que já andavam a seguir certos escritores/as e as suas artimanhas, numa convivência que pode ser atrativa, mas perigosa. Com efeito, hoje, como no passado, o que é proibido ou menos recomendado torna-se mais sedutor e, porque não, fascinante. Antes eram coisas de teor sexual, agora parecem ser mais os temas do foro psicológico e nas franjas do espiritual.

3. Houve tempos em que os responsáveis – sociais e religiosos, eclesiais e moralistas – se preocupavam com aquilo que as pessoas viam na televisão e a influência desta sobre os comportamentos das pessoas. Se atendermos aos dados disponibilizados, hoje, uma ínfima minoria de jovens vê televisão – há não muito tempo ouvi uma referência à percentagem de cinco por cento – ou segue os ditames desta. Uma quase totalidade anda pelas redes sociais, mesmo para se sentirem informados. Dá a impressão que muita coisa mudou e demasiado depressa. Será que o percebemos?

4. Recordo a conversa de um governante ao tempo, há cerca de quarenta anos, quando um grupo de alunos de uma escola onde estava quis dele ouvir algumas impressões da sua área da juventude. Ao que ele referia que brevemente (nessa época) iremos ter acesso a milhentos canais de televisão e as pessoas ouvirão o que lhes dissermos, mas verão o que quiserem, mesmo sem a nossa concordância. Ao que ele reportava como importante: têm – dizia-o relativamente à Igreja católica – de saber educar para os valores e critérios. É isso a que hoje somos desafiados sem-apelo-nem-agravo…

5. Deixamos, neste contexto, um excerto da carta do Papa Francisco sobre o papel da literatura na educação: «Ao contrário dos meios audiovisuais, onde o produto é mais completo, e a margem e o tempo para “enriquecer” a narrativa ou para a interpretar são geralmente reduzidos, o leitor é muito mais ativo quando lê um livro. De certo modo, reescreve-o, amplia-o com a sua imaginação, cria um mundo, usa as suas capacidades, a sua memória, os seus sonhos, a sua própria história cheia de dramatismo e simbolismo; e assim surge uma obra muito diferente daquela que o autor pretendia escrever. Uma obra literária é, portanto, um texto vivo e sempre fértil, capaz de falar de novo e de muitas maneiras, capaz de produzir uma síntese original com cada leitor que encontra. Este, enquanto lê, enriquece-se com o que recebe do autor, mas isso permite-lhe, ao mesmo tempo, fazer desabrochar a riqueza da sua própria pessoa, pois cada nova obra que lê renova e expande o seu universo pessoal» (n.º 3).

Urge, por isso, dar passos que cimentem os conhecimentos e façam com que cada um de nós saiba pensar pela própria cabeça, sentir com o seu coração e agir numa vontade educada e forte.



António Sílvio Couto      

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