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terça-feira, 30 de julho de 2024

Férias – direito, mito ou anseio?

Agora que parece que tudo, quase em manada, vai para férias – não consigo compreender porque todos têm de feriar em tempo de agosto e/ou do verão – há questões que podem e devem ser refletidas, se mais não seja para termos assunto para esse tempo que se deseja possa ser uma oportunidade de descanso.

1. Vejamos alguns dados disponíveis sobre o tema no quadro da união europeia (escrevemos com minúsculas por contraste com as pretensões em queremo-nos ver e em que vejam esta porção do Planeta como grande potência, que não o é de verdade) e com percentagens à nossa medida.

– Em 2022, mais dois milhões de pessoas na União Europeia não tinham dinheiro para ir de férias, em comparação com o ano anterior;

– Em França, onde, embora ainda abaixo da média da UE, quase cinco milhões de pessoas não puderam ir de férias;

– Na Irlanda, 14,8%, entre 2021 e 2022, era o número de pessoas entre a população ativa do país que não podiam pagar férias;

– Há 13 países onde a situação é pior do que a média de 14,6% do bloco, com a Roménia na cauda, com 36%;

– Cerca de metade dos trabalhadores europeus considera que o stress é comum no local de trabalho e que é uma das questões mais problemáticas em matéria de segurança e saúde no trabalho;

– 62% dos residentes da UE fizeram pelo menos uma viagem turística pessoal em 2022 e metade delas foram curtas e domésticas;

– Os alemães são os que gastam mais dinheiro em viagens internacionais, com 85,2 mil milhões de euros, seguidos de França, com 39,2 mil milhões de euros.

2. Recolhidos estes dados – segundo vários indicadores de entidades europeias ligadas ao mundo do trabalho e da economia – precisamos de olhar para a nossa realidade portuguesa, naquilo que tem de semelhante ou que possa ser mais específico. Desde logo se nos depara com a possibilidade ou não de que as pessoas possam ter férias em família e como família. Com efeito, nunca como agora se encheu a boca com a palavra ‘família’ e, dá a impressão, de nunca como até agora se fez tão pouco por esta realidade essencial da sociedade. Desde logo se deve explicar o que se entende por ‘família’ e de não nos servirmos do conceito que nos faça conveniência. Alguns entendimentos e práticas de ‘família’ são tão amplos, desconexos e complexos que melhor seria inventar outra terminologia para que se não de fale de forma igual daquilo que é, manifestamente, diferente. Veja-se a inclusão dos animais – de estimação, de companhia ou de proteção, nesse conceito de ‘família’. Certas tendências – mesmo do âmbito legislativo – deixam muito a confundir quem tenha da família um conceito mais humano e sob a conduta judaico-cristã. Dá a impressão que, sob a capa da confusão (assumida ou presumida), se vão tentando formas e fórmulas para desacreditarem a família, como célula da sociedade e vínculo de estabilidade…humana e cultural.

3. Muito mal vai um país ou uma economia se alicerçada só no turismo, vimo-lo aquando da recente pandemia (2020-2023). Ora, neste momento, o nosso tecido económico está fundado nesse aliciante, que ora pode ser lucrativo, ora poderá desabar em breves instantes. E, se quem conduz a política social e económica, tiver um mínimo de visão saberá que as apostas e propostas de investimento têm de ser continuamente aferidas, tanto aos objetivos, quanto às opções em cada momento. Olhemos, por isso, alguns dos aspetos dos tempos mais recentes: as poupanças dos emigrantes já não têm o mesmo significado nem o resultado; o investimento com fundos europeus já foram chão com resultados baratos; as grandes obras de regime foram… Ainda não aprendemos a lição de que ‘nem tudo o que reluz é ouro’!

4. Aquelas férias de promoção de estatuto social podem iludir durante algum tempo e uns tantos, mas depressa caem. Os lugares da moda passam e as deceções emergem. Verdade, a quanto obrigas!



António Sílvio Couto

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