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quinta-feira, 8 de agosto de 2024

A quem interessa prolongar programas de lixo?

Ao longo do ano vemos que muitos programas televisivos são vazios de conteúdos e de propostas dignas de elevarem a humanidade: são vazios, feitos na base do logro, não passando de lixo na forma e no aproveitamento que deles podemos fazer. São verdadeiramente o que há de mais asqueroso da nossa sociedade e com influência na nossa cultura popular…

1. Há canais que arranjam aliciantes, sob a forma de serem concursos, almejando, no final, prémios fortemente chorudos, mesmo que à custa da intriga, da maledicência, dos jogos entre as pessoas, numa aculturação pelo medíocre de tudo e de todos. Os concorrentes não são mais jovens ou adolescentes como noutras épocas, hoje são homens e mulheres que se expõem ao ridículo e à ridicularização. Teoricamente desempenham papéis que uma organização – dita produção – anónima (mas suficientemente conhecida) usa e abusa para que haja audiências, sobretudo nas horas de maior atenção do público, o dito ‘prime time’. Uns brincam com os sentimentos e os compromissos do casamento, outros desfiam interpretações do mundo do futebolês; uns tantos fazem de conta de vivem uma vida vigiada, embora mais pareça um teatro com atores de má qualidade; nalguns canais passam concursos feitos à medida de raramente atingir o topo da vitória; anos a fio entram-nos pela casa dentro programas com dezenas de anos em exibição, onde a tentativa de ganhar se mistura com a sageza de fazer contas na plateia; boa parte destes programas acontecem em canais (ditos) abertos, embora se esmiúcem as razões noutros que são pagos…

2. Várias questões se podem colocar perante esta panóplia de programas: quem paga e quem ganha? Por que se estende este produto no tempo e no espaço, numa forma quase acrítica? Não estaremos a formatar um povo quase cultura só vê cifrões numa luta sem tréguas nem quartel? Não se nota já que pessoas deixaram de ser atendidas na sua mínima dignidade para que se concretize a pretensão de ficar rico a baixo preço ou insignificante custo? O consumo destes programados não obedecem a um plano propositado de confusão de valores e de critérios ético/morais?

3. Algo seria aceitável se não víssemos que, ainda não terminou um programa, já se lançam os desafios para outras experiências, em bastantes casos com as mesmas figuras e mais uns pozinhos de novo: os mais polémicos, que dão audiências, tornam-se as personagens benquistas. Esta onda banalidades percorre a maioria dos países da cultura ocidental, deixando-nos a sensação de que algo é suficientemente perigoso para que nos mantenhamos calados, pois o silêncio pode significar concordância e aceitação de todo este projeto melindroso, embora efetivo.

4. Outros fatores contribuem para que coisas de somenos se tornem ‘factos’ de grande projeção nas redes sociais. Às vezes custa a acreditar como certas futilidades se tornam comentadas nos mais díspares espaços, onde o disparate não tem rédeas nem a inconsequência mental é assumida. Os ditos ‘influencers’ pagos por bastas quantias, são os que fazem ser ou desaparecer por inutilidades ditas ou escritas. Noutras épocas chamava-se a estas figuras, comentadores, agora urdiram uma palavra estrangeira para recorrer à capacidade de lançar uma apreciações e com isso querem dar a entender que outros seguem os que eles/elas pretensamente dizem… Pobre sociedade que se deixa manipular por tais mentores!

5. Cada vez mais é urgente saber escolher os programas de entretenimento. Embora muitas pessoas já recorram aos serviços da internet, as televisões ainda são quem mais é democrático, porque de acesso a todos e com condições não muito dispendiosas. Seria útil e necessário que a Igreja consiga dar formação para os critérios de escolha e de seguimento dos programas televisivos (e não só): sem teor moralista, mas com ética; sem paternalismo, mas com sabedoria; sem querem vender o seu produto, mas ajudando a escolher…



António Sílvio Couto

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