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quinta-feira, 25 de maio de 2023

Volodymyr ou Vladimir – quem ganhará?

 

Quinze meses depois da invasão da Ucrânia pela Rússia vemos constantemente estes dois homens – Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky – respetivamente presidentes da Rússia e da Ucrânia – em confronto bélico e de personalidades, conquistando apoios ou animosidades ao perto e ao longe.

Depois da estupefação geral em finais de fevereiro do ano passado, vemos prolongar-se um conflito que tem servido para trazer à luz algo do pior do nosso tempo, com sinais preocupantes à mistura com recordações de um passado com mais de sete décadas e que deixou marcas ainda não-superadas...

1. Como noutras situações bélicas, os números são possíveis, deixando a desconfiar para com uns os outros e todos sobre o resto. Estima-se que a Rússia sofreu 180 mil mortos e feridos, enquanto a Ucrânia teve 100 mil mortos ou feridos em ação, juntamente com 30 mil mortos civis.
Todos vimos e, nalguns casos, atendemos, a onda de refugiados ucranianos, bem como fomos participando, cada a seu modo, no socorro às vítimas de guerra, que já dura há tempo em excesso.

2. Apesar de serem povos afins, russos e ucranianos - diz quem os conhece de perto - são muito idênticos e as ‘atrocidades’ ditas de uns podem, em breve, ser denunciadas por outros. Por isso, certas benesses da União Europeia e da Nato para com a Ucrânia podem voltar-se contra os benemerentes, na medida em que nem sempre a razão está só de um lado, embora seja revoltante a ocupação expansionista russa nesta fase da história da Europa. Valha-nos a subtileza de que a entrada e aceitação nestas duas organizações - UE e Nato - exigem que haja paz e democracia no território do candidato...

3. Embora sejam duas personalidades distintas e quase antagónicas, Zelensky e Putin como que simbolizam os seus povos, naquilo que têm de excelente ou até de malévolo. Por vezes aparecem-nos como representantes de visões sociopolíticas divergentes, no entanto, não passam de figuras - naquilo que tal expressão representa - sob as quais se encobrem outros pensamentos, visões ou leituras da vida em contexto de confronto quase cultural. Não podemos esquecer que as ‘zangas’ atuais já foram cumplicidades noutras épocas, por concordância ou sob condicionamento estratégico.

4. Putin tem escola na longa tradição russa, que nos dois últimos séculos viveu sob a tutela de grandes façanhas e numa tentativa de ser um dos eixos da política europeia e internacional. A pomposa imagem de brilho e fascínio, que tantas vezes ostenta, parece continuar a seduzir os ocupantes do poder a partir de Moscovo - dos czares à momenclatura comunista se alimenta ainda hoje Putin, não se sabendo em qual delas se encontra de verdade ou aonde quer chegar como utopia. Dúvidas continuam a ser lançadas sobre o Ocidente quanto à sua cultura pretensamente democrática...

5. Por seu turno, Zelensky chegou ao poder, em 2019, ridicularizando-o, como ‘presidente-palhaço’. Assumiu o papel, depois de eleito, e tem lutado pela sobrevivência daquela nação...sempre sob a forma de tentativa e menos com o reconhecimento tão credível como, por vezes, tenta incutir. O seu ar arrapazado em veste militar parece nem sempre dar-lhe a força credível, embora se lhe dê alguma tolerância. As forças ocidentais quase que o usam como arma-de-arremesso contra Moscovo e o que tal poder significa, agora e no passado.

6. Completados quase quinhentos dias de belicismo - 15 meses - continuamos sem saber quem vai ganhar a guerra na Ucrânia, mais por inépcia do Ocidente do que por estratégia das forças russas. Estas continuam a estar sob suspeita e contestação dentro e fora da tutela de Putin. Quando se esgotarem os stocks das armas em desuso perceberemos quem canta vitória, mesmo que o adversário seja vencido pela inoperância e o cansaço. Como semelhantes com dificuldade reconhecerão a derrota!


António Sílvio Couto

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