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sexta-feira, 19 de maio de 2023

A par com o mundo: de que modo?

 


Quem ouça uma estação de rádio de âmbito nacional conhecerá este slogan entre o publicitário e o quase-identitário. Se tem a ver com esta vertente de identidade que dirá de quem fazer a comunicação – tanto humana como a (dita) religiosa – que possa fazer-nos acreditar em algo sério e credível? Se nos quedarmos pelo publicitário, com que ‘mundo’ se está a par?

A estação radiofónica em causa tomou ainda como epiteto – ‘emissora católica portuguesa’. Assim sendo que mundo mostra, serve e anuncia? Será, naquela observação pertinente, uma entidade que mede o temperatura (termómetro) ou deveria ser, antes termóstato, isto é, que influencia (para mais ou para menos) a temperatura do meio onde se encontra?

1. Enquanto serviço da Igreja católica em Portugal, a entidade que nos suscita esta reflexão comporta ou revela – desgraçadamente – o estado da nossa Igreja nos diversos itens de presença: estamos, mas não influenciamos, ocupamos espaço, mas não marcamos a diferença… há riso com, mas não risco para! Se usássemos uma expressão evangélica poderíamos recorrer ao sal que perdeu o sal, correndo o risco de ser pisado e lançado fora!

2. Desde a primeira hora a Igreja foi vista, sentida e entendida como sinal de paradoxo, isto é, de contradição, de questionamento, de provocação e, por que não, de perseguição e, consequentemente, de testemunho/martírio. Desde a linguagem até aos atos, a Igreja esteve – e está – sob sério escrutínio, não deixando qualquer dúvida sobre a inconciliação com o mundo e aquilo que se opõe a Deus. Por isso, certas atitudes de conformismo para com as coisas do mundo será, além de atraiçoar a mensagem do Evangelho, um incorrer em censura e, em muitos casos, em condenação.

3. Estar a ‘par com o mundo’ poderá ainda comportar uma necessária adequação da linguagem da Igreja para que seja entendida pelo mundo. No entanto, aquela precisa de não descer tanto ao nível do interlocutor que se confundam conceitos, termos e valores. Valeria a pena recorrer ao inquestionável método tomista de definição dos termos para que não estejamos a usar palavras idênticas, mas dando-lhes significados diferentes…conforme possa convir. É assinalável um certo esforço da Igreja, se bem que nem sempre seja correspondida…

4. Por estes dias celebra-se o ‘dia mundial das comunicações sociais’ (domingo da ascensão), sob o tema: falar com o coração, testemunhando a verdade no amor.

Eis um breve excerto da mensagem do Papa Francisco:

«’Também na Igreja há grande necessidade de escutar e de nos escutarmos. É o dom mais precioso e profícuo que podemos oferecer uns aos outros». Duma escuta sem preconceitos, atenta e disponível, nasce um falar segundo o estilo de Deus, que se sustenta de proximidade, compaixão e ternura. Na Igreja, temos urgente necessidade duma comunicação que inflame os corações, seja bálsamo nas feridas e ilumine o caminho dos irmãos e irmãs. Sonho uma comunicação eclesial que saiba deixar-se guiar pelo Espírito Santo, gentil e ao mesmo tempo profética, capaz de encontrar novas formas e modalidades para o anúncio maravilhoso que é chamada a proclamar no terceiro milénio. Uma comunicação que coloque no centro a relação com Deus e com o próximo, especialmente o mais necessitado, e esteja mais preocupada em acender o fogo da fé do que em preservar as cinzas duma identidade autorreferencial. Uma comunicação, cujas bases sejam a humildade no escutar e o desassombro no falar e que nunca separe a verdade do amor».

5. Quanto mais adequada for a comunicação – em linguagem clara e com estilo simples – melhor seremos capazes de fazer acontecer a mensagem de Jesus. A nossa comunicação atingirá nos outros aquilo que em cada um de nós foi tocado…Assim o queremos e desejamos!



António Sílvio Couto

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