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segunda-feira, 8 de maio de 2023

Eu trabalhador, me acuso!

 

Deixa-me sempre alguma confusão ver e ouvir certos ‘sábios’ do sindicalismo reclamarem do aumento dos salários, tendo como parâmetro médio o número de cerca de mil e quatrocentos euros/mensais. Estes dados (mais ou menos oficiais) referem que os atingidos são pessoas com formação superior ou formação técnica na área e que trabalham nas grandes cidades do nosso país.

Quando se quer falar de dinheiro – auferido e vertido em impostos – convém comparar com outros países. Em que ponto estamos na escala europeia? Talvez seja útil ver ainda o número de portugueses que recebem o ‘ordenado mínimo’... em contexto estamos na linha da produção de riqueza. Com que meios poderemos fazer tais aumentos reclamados?

1. Segundo as instâncias europeias com o assunto das estatísticas podemos recolher os seguintes dados: a média anual dos salários na União Europeia anda pelos 33,5 mil euros. Os dados de Portugal situam-se nos 19, 3 mil euros. Os salários mais elevados estão no Luxemburgo (com 72 mil euros), na Dinamarca (63 mil euros) e na Irlanda (50 mil euros). Itália, Espanha, Malta ou Chipre também apresentam uma média mais alta do que Portugal. O salário médio mais baixo é registado na Bulgária (10,4 mil euros), na Hungria (12,6 mil euros) e na Roménia (13 mil euros). A Grécia também está entre os países com um salário médio mais baixo do que Portugal. O salário médio em Portugal corresponde assim a 58% da média da UE e a 68% da média em Espanha.

2. Segundo dados do governo português mais de 50% dos trabalhadores receberam salários inferiores a mil euros, em 2022, uma percentagem que sobe para 65% no caso dos jovens com menos de 30 anos. Seguindo ainda dados oficiais na análise aos salários médios pagos no mercado de trabalho português pode perceber-se que, no final de 2022, o salário médio nas atividades ligadas à agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca era de 933 euros, o mais baixo entre os diferentes tipos de atividade... enquanto nas atividades de eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio, a remuneração média era de 3.521 euros, quase quatro vezes mais... Outro dado digno de registo é que empresas com um a quatro trabalhadores registavam um salário médio mensal de 1.027 euros, enquanto empresas com 250 a 499 trabalhadores pagavam, em média, 1.909 euros.

3. Desde janeiro deste ano que o salário mínimo nacional é de 760 euros. Estima-se que 30% da população usufrua deste ‘vencimento’ mensal.

4. Vejamos coisas concretas e com incidências pessoais. De facto, ao ver os dados dos salários nacionais quedo-me abaixo dos da agricultura/pesca e um pouco acima do ‘ordenado mínimo’ em vigor. Recebo 850 euros ilíquidos... não atingindo os treze mil euros anuais e que, por um pouco menos, quase ficava fora da declaração obrigatória...Isto de se ser normal no trato com as coisas dos impostos, obriga-nos a cumprir e dá-nos direito de reclamar. Já passou o tempo em que os eclesiásticos eram vistos como exceções no relacionamento com o dinheiro, pois eram vistos como ‘alguém’ que não se submetia às obrigações dos outros cidadãos e podiam colocar-se (ou ser colocado) em plano superior de entidade quase-fora deste mundo. Hoje vivemos fruto do nosso trabalho e usufruindo de todos os direitos e obrigações de quaisquer outros trabalhadores... Não sei se outros da vida pública poderão dizer e confirmar o mesmo?

5. «No trabalho, a pessoa exerce e cumpre uma parte das capacidades inscritas na sua natureza. O valor primordial do trabalho pertence ao próprio homem, seu autor e destinatário. O trabalho é para o homem e não o homem para o trabalho. Cada um deve poder tirar do trabalho os meios de subsistência, para si e para os seus, e a possibilidade de servir a comunidade humana» (Catecismo da Igreja Católica, n.º 2428).



António Sílvio Couto

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