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quinta-feira, 13 de abril de 2023

Dar as razões da nossa esperança

 

«No íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça» (1 Pd 3,15).

Neste tempo somos chamados a assumir as razões da nossa esperança, tornando visível e percetível a quem no-lo solicitar, o que nos leva a ser cristãos e, sobretudo, anunciadores de Cristo ressuscitado.

1. Em certas regiões do nosso país é costume, por ocasião da Páscoa – no próprio domingo e no dia seguinte, bem como nalguns casos até durante a semana da oitava – fazer a visita pascal, também designada de compasso. Ora, este ano pareceu verificar-se algo que nunca tinha acontecido – pelos dados que fomos recolhendo – e de uma forma quase inesperada: um número muito reduzido de casas/famílias acolheu tal tradição, ao mesmo tempo que se notava uma certa tristeza no ar… Pode não ter sido geral, mas pareceu quase generalizado em certas povoações.

2. Quais as causas de ter havido um decréscimo de interesse em receber a visita pascal ou o compasso? Foi devido à interrupção verificada com a pandemia? Que terá influenciado esta desmobilização quase consertada? As notícias sobre questões relacionadas com o clero criou um caldo de rejeição das populações a esta tradição tão popular e festiva? Terão sido, pelo contrário, razões de índole económica a retrair os participantes? O fechar da porta à visita pascal revelará um fechar da porta a Cristo pela via social? Não precisarão os crentes agora de pedir a bênção das casas, pela aspersão da água batismal?

3. São múltiplas as motivações para que se tenha conjugado algo que anteriormente era razão de festa. Com que alegria se gerava convívio entre parentes e vizinhos. Com que simplicidade as portas das casas se abriam, mesmo que os meios económicos fossem parcos, isso não interferia no ‘receber da Cruz’. Pelos dados que tomei conhecimento houve quase uma mensagem transversal em vários lugares, sobretudo, na região do Minho. Mais do que a surpresa pelo acontecido, talvez seja de utilidade pastoral e de reflexão de todos – particularmente dos responsáveis e dos intervenientes no assunto – fazer um diagnóstico das causas, tentando atalhar as consequências mais mínimas, sinceras e a curto prazo.

4. É claro e notório que não podemos confundir a árvore com a floresta, mas se algumas árvores mais significativas da floresta apresentam fatores de risco, será urgente analisar o que está a acontecer…antes que toda a floresta seja empestada da mesma mazela. Dá a impressão que este fenómeno é mais do que uma mera coincidência de fatores, possam uns ser mais de ordem sociológica, sejam outros quase sistémicos, pois atendendo novamente aos dados conhecidos a questão pareceu mais profunda do que ocasional.

5. Na minha visão defendo a visita pascal ou o compasso, sabendo adaptar-se aos tempos e aos momentos de cada lugar e circunstância. Já não será preciso reduzir ao compasso a presença do padre/pároco. Talvez ele deva formar – com tempo e qualidade – grupos de anúncio capazes de desempenharem tal tarefa. Será útil desligar o compasso da recolha económica dos fregueses – como acontecia noutros tempos com mais clero e menos povoação, isto é, em tempo de cristandade… essa finou-se! Porque não incluir, preferencialmente, as mulheres como principais testemunhas da visita pascal, à semelhança do que dizem os textos evangélicos? Parece que a invocação da presença de Deus, com a cruz do Ressuscitado, a aspersão da água-benta e o parco tempo de oração deveria motivar as famílias, aí onde são igrejas domésticas de verdade.

6. Por contraste creio que será de diagnosticar as causas mais profundas de tudo isto, numa tentativa de renovar este momento de anúncio de esperança, que é visita pascal ou o compasso, apresentando as razões mais simples, sinceras e serenas, num tempo tão ávido de outros fatores de confusão, de rejeição da presença do divino e, sobretudo, segundo um plano mais ou menos orquestrado por forças apostadas em afrontar o cristianismo e os valores que o caraterizam… Ousadia, precisa-se!



António Sílvio Couto

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