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domingo, 23 de abril de 2023

Dançar com soante a música

 

Esta expressão pode ter ainda um outro grafismo – dançar conforme a música, isto é, fazer as coisas segundo o contexto em que se inserem. Daqui podemos inferir que nem a música é só música e tão pouco a dança é só dança. Deste modo poderemos encontrar muitas músicas (estilos, modos e tempos) que se adequarão às danças e estas entrarão no ritmo daquelas.

No espetro da vida nacional – seja qual for o setor – encontraremos múltiplos exemplos de dançar com soante a música. Vejamos alguns exemplos, certos sinais à mistura e com situações desnecessárias.

1. Por que falou Lula da Silva na China e posteriormente perante um diplomata russo contra a União Europeia e os Estados Unidos na questão da guerra da Ucrânia? Foi para agradar aos interlocutores ou porque o Brasil está do outro lado (físico) do conflito e tal não o incomoda? A quem interessa estender o problema da TAP, juntando tantos adereços que a peça pode emperrar na solução? Parece que há ‘parecer’ ou este foi invenção sem nexo? A campanha do ‘IVA zero’ satisfaz quem? Serve de ajuda a quem mais possa precisar ou ilude quem se deixa fascinar? A temática da eutanásia deambula entre os centros de poder como se fosse um teste à paciência de quem propõe ou de quem contesta?

2. Respondamos à visita do Presidente do Brasil a Portugal, com as deslocações anteriores ou os passos seguintes. Todos reconhecemos que o ‘país-irmão’ é danado para o samba e outros modelos musicais. Ora, o atual presidente tem sabido dançar bem em conformidade com os ritmos que lhe tocam…assim se explica que tenha voltado ao poder anos doze depois de lá ter saído. A vinda de Lula a Portugal foi precedida por uma visita à China, onde o dito teve declarações que assustaram desta parte do Atlântico, ao colocar a Europa como uma das culpadas da guerra na Ucrânia, na linha de pensamento e de ação com Putin, o chefe do país invasor. Não sabemos se o metalúrgico convertido à política teve lições de ‘dialética marxista’, mas que ele foi conjugando tese com antítese em vista de nova tese, isso ficou até agora subentendido nas declarações entre Pequim e o resto das suas intervenções. Talvez aqui se radique a boa onda da maior parte da comunicação social lusitana favorável ao caudilho brasileiro… Seja qual for o resultado da visita aos lusos pré-históricos do achamento do Brasil continuamos a dançar mais ao ritmo do samba do que do vira-do-Minho ou do fandango ribatejano…

3. Quem quiser classificar o nosso país como do ‘terceiro-mundo’ não se escusará de dar como exemplo acabado e quase perfeito o da transportadora aérea nacional: pretendida como empresa-bandeira tornou-se o símbolo quase perfeito do despesismo. Suportada ideologicamente por uma certa (dita) esquerda vai sendo o sorvedouro nacional das economias de todos, mesmo daqueles que nunca voaram na dita. Deambulando entre ser estatal e em ser gerida pelo setor privado, a TAP só serve para enganar quem governa, mesmo que arrastando a localização do novo aeroporto à volta da capital. À semelhança do que aconteceu com os ‘estaleiros navais de viana do castelo’ há que esconjurar milhentos interessados em viverem à custa dos subsídios sem resultados que desmintam a insolvência adiada e sem futuro…

4. Com a pretensa dedução do ’IVA à taxa zero’ continuamos a ser enganados, pois a música que nos tocam soa mais a marcha fúnebre do que a corridinho algarvio, isto é, uns míseros cêntimos não dão desagravo ao povo, mas servindo a todos, não ajudam a ninguém. Diga-se que o ensaio para o festival foi tão longo e fastidioso que o espetáculo torna-nos a todos ridículos…

5. Pela quarta vez pretenderam fazer sinfonia com a eutanásia. Nem a mais ingente música de carpideira conseguirá fazer dum assunto tão funesto algo que faça canta vitória, seja de quem for. Aos promotores da iniciativa auguramos que sejam acompanhados pela música que mais apreciam, pois o ar funesto e lúgubre com que se apresentam em cada ‘vitória’ pírrica como que se anuncia que nem eles acreditam naquilo que propõem e nunca serão agradecidos, mesmo que sejam eutanasiados como propõem… para os outros.



António Sílvio Couto

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