Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 18 de abril de 2023

Com a mentira (assim) nos governam?

 

Já não é de agora, parecendo que tem vindo a acentuar-se a convicção: com a mentira nos governam e quase nos tratam como lacaios de um servilismo atroz. Os mais diversos campos da nossa vida coletiva como que se têm tornado espaços de desconfiança, colocando sob suspeita muitas das palavras que nos dizem e – pior – boa parte das ações com que nos querem ludibriar.

Esta sensação de desfasamento entre aquilo que se diz – as célebres promessas eleitorais e não só – e o que se faz, vai criando um ambiente de não-acreditar nos outros ou até de desmotivação quanto ao que envolva estar com outros.

1. A propaganda não é um dos fatores para espalhar o engano? As agências de informação não serão mais veículos de mentira do que espaços de verdade? A multiplicidade de órgãos informativos favorece a boa comunicação ou torna-se fator de confusão social e quase cultural? A quem interessa articular o alinhamento noticioso, quando uns tentam controlar os outros? Não haverá muitos fait-divers para levar a cabo aquilo que seria mais difícil de impingir a cru? Teremos intérpretes competentes ou andaremos a adular artistas sagazes?

2. Efetivamente a propaganda do ‘IVA zero’, em quarenta e seis produtos de primeira necessidade, deixará poucos mais recursos ao público em geral. Sendo uma medida-cartaz torna-se injusta, pois não favorece – como se dizia no princípio – os mais desfavorecidos, mas atinge pobres e ricos de forma transversal. Parece que este engano não foi possível esconder desde o seu altissonante anúncio e agora, que é posta em prática, serve para que se fale e se gastem horas de emissão televisiva, mas não consegue nada (ou muito pouco) do pretendido. Este um exemplo acabado da ineficiência de quem nos governa, capciosamente, sob o epíteto romano de ‘pão-e-jogos’, isto é, assim se entretem o povo, que não reclama...

3. Se olharmos para o espetro da comunicação social no nosso país poderemos aferir que não passam de quatro ou cinco os fazedores de notícias, nos diveros palcos de visibilidade. No entanto, outros mais subtis ‘trabalham’ os assuntos e põem-nos na rua sem grande diferença nem independência dos executores. Esta habilidosa forma de fazer não nos deixa espaço para a diversidade de perspetivas nem nos dá capacidade de questionar os problemas, tal a uniformidade. Quantas vezes os discursos só enfatizam uns aspetos, deixando de fora da seleção outros bem mais importantes. Não será isto uma forma quase-institucionalizada de apresentar as coisas e, portanto, uma manipulação informativa e noticiosa?

4. O prolongamento no tempo de certos assuntos parece ser mais uma tentativa de distrair para que, na sombra, se executem outros temas bem mais essenciais e, por vezes, dolorosos ao povo. Vejamos alguns exemplos: a crise da transportadora aérea (num labirinto de questões quase de polvo), as reivindicações dos professores, a guerra na Ucrânia e seus adereços, a solução para a habitação... No específico dos setores – na Igreja católica: o tema dos abusos, os meandros das substituições de bispos, o custo do palco das jornadas da juventude; no desporto (em especial o futebol): as tricas clubísticas entre norte e sul, os erros de arbitragem, as artimanhas de alguns sobre outros; na economia: o custo dos combustíveis, a oscilação das taxas de juro, o sobe-e-desce da inflação; na justiça: os tiques e truques do alçapão da lei, os prazos de execução...

5. Quando se pensava termos aprendido com erros do passado, eis que eles se repetem no nosso quotidiano e, por vezes, com os mesmos figurinos. A má gestão de outros tempos dará idênticas consequências a curto prazo. Artimanhas de habilidosos trarão resultados muito semelhantes. Cresce a sensação de impunidade para com certos ‘artistas’ da política e de outros campos de atividade, pois se consideram julgados quando, em eleições, ganham ou perdem. Temos de acabar com este engano ou entraremos em colapso de civilização. Efetivamente, a mentira não poderá ser um posto de consagração de tantos incompetentes de serviço...



António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário