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terça-feira, 6 de setembro de 2022

Contra uma política ‘erotizada’ – educar para a poupança

 

De há uns tempos a esta parte – sociedade ocidental em geral e especificamente em Portugal – temos vindo a assistir (talvez até a participar) ao incremento de uma cultura de consumo: faz-se crer que gastar mais é a solução, mas se tal não se consegue, lança-se dinheiro sobre os problemas, destejam entretidos a consumir e/ou a reivindicar tal ‘direito’.
Com a devida e necessária ressalva poderemos comparar os mentores – económicos, sociais, políticos ou outros – desta onda de consumismo com aqueles programas de erotização (pornográfica ou não) que excitam os interessados e logo tentam impingir os placebos de contenção, preservando ou anulando as consequências.

1. Num país que se quer nivelar pela fasquia da vida europeia vemos crescer essa aferição ao superior nível de vida, mas andamos muito por baixo quanto aos rendimentos e à mentalidade, isto é, como diz o nosso povo: temos barriga de rico e bolso de pobre. Traduzindo: a nossa capacidade de trabalho – produtividade e organização – está a quilómetros daquilo que acontece no resto da União Europeia. Por alguma razão rendemos melhor lá fora do que por cá… Somos bons, mas têm de ser, normalmente, os outros a organizar e a gerir… Por que será?

2. Bem podem os políticos de uma certa esquerda reclamar aumento de salários, mas como podem estes crescer se a produtividade não acompanha o mesmo ritmo? Podem argumentar com salários que condigam com as tarefas, mas como podem suportar as empresas – na sua maioria pequenas e quase familiares – os encargos se o custo de produção ultrapassa os lucros de manutenção? Esses que até têm na sua linguagem as ‘mais-valias’, saberão que estas são sugadas pelos impostos e tragadas pela incapacidade de fazer face àquilo que o Estado exige e cobra sem-dó-nem-piedade?

3. A subtileza de quem nos governa é lançar dinheiro – no início barato, mas depois cobrado fortemente – sobre os problemas. Não se cuida de educar a gestão daquilo que é fornecido. Nota-se um certo complexo quanto ao incentivo à poupança, como se isso fosse uma espécie de resquício de ‘estado-novo’. Preferem reclamar dos direitos – muito deles adquiridos de forma injusta e enganadora – e nunca de ensinar a poupar hoje para ter o suficiente amanhã. Vemos pulular a mentalidade de que ‘alguém’ há de pagar, mesmo as obrigações para com os bancos – devido aos sucessivos empréstimos – ou até os cartões que desfilam em maré de ir às compras…muitos deles só ocupam a carteira, pois não valem nada nem têm cobertura na conta…

4. Já conhecemos – de outras épocas de austeridade (coisa que não assumem, mas semeiam) – a estratégia de certos partidos, quando colocados a governar: distribuem dinheiro, mas não criam riqueza; espalham benesses, mas não fizeram nada para que isso possa ser explicado… Veja-se a situação atual: a cobrança de impostos – iva, sobre produtos petrolíferos, resultante do crescimento da inflação – enche os cofres do Estado e logo surgem os reclamadores da preguiça a querem esbanjar já o que pode ser preciso em breve.

Em nada as medidas enunciadas pelo governo – mais de dois mil milhões de euros em prebendas ao povo… na mutação a gosto da ‘família’ – mudam a forma de estar, pois não será com uns poucos euros de sobejo que seremos capazes de enfrentar – agora e no futuro próximo – as mazelas de má gestão. Os problemas são mais do que discrepâncias de inflação, estão entranhados na nossa malha estruturante como povo…

5. Há uma mentalidade estrutural que abjura a poupança e com isso não se educa (nem se deixa educar) para que não gastemos além das nossas posses. Desde tenra idade, é preciso não criar essa mentalidade do desperdício, pois isso pagar-se-á com juros, não só económicos como psicológicos e sociais.

Em vez de entreterem as pessoas com mexeriquices da vida alheia – falsa, preguiça e fútil – os programas televisivos (e não só) deveriam ensinar as regras do aproveitamento do não-desperdício, já.

Contra o consumismo lutar e saber defender-se, com critérios e valores mais do que materialistas!



António Sílvio Couto

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