Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Alicerçados no turismo – por quê e até quando?

 


Que país será esse, cuja riqueza esteja alicerçada no setor do turismo? Que riqueza será essa, se alimentada por um vetor tão volátil como esse do turismo? Que futuro terá tal país como nação ou como sociedade, se viver das oscilações do turismo?

Esse país, essa nação, tal sociedade é Portugal e está novamente a flutuar ao sabor das conjunturas e das possíveis conjeturas dos nossos dias e do futuro incerto… fascinante e fascinado do turismo.

 1. Por estes dias (27 de setembro) ocorreu o ‘dia mundial do turismo’. Houve mensagens e intervenções como que idolatrando tal setor, numa espécie de categoria económico-cultural de salvaguarda do já visto e sentindo o ainda não concretizado.

O tema geral do ‘dia mundial do turismo’ deste ano foi: «repensar o turismo», sobretudo se tivermos em conta os tempos mais recentes de pandemia. Segundo elementos recolhidos na internet, o objetivo daquelas celebrações foi o de fornecer uma plataforma de diálogo para identificar soluções para desenvolver o potencial do turismo como veículo para a recuperação e transformação, passar a mensagem de que o turismo é uma força inspiradora e transformadora, tendo ainda em conta o papel da  Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas e da indústria na concretização do seu potencial, mobilizando as vontades políticas e cooperação para garantir que o turismo é uma parte central na criação de políticas, e ainda ao colocar questões e de identificar soluções para realinhar o turismo para o futuro.  

 2. Valha-nos o bom senso – coisa rara, senão singular nos tempos que vão correndo – para colocarmos todos os objetivos da economia num campo que tem tanto de atraente, quanto de vulnerável e mesmo de controverso.

Tendo em conta as intervenções sobre o ‘dia mundial do turismo’, em Portugal, os responsáveis nacionais da pastoral do turismo fizeram publicar uma nota sobre o assunto, onde são desafiados todos os que trabalham como agentes de turismo, bem como os turistas, a serem ‘embaixadores da paz’. Nessa mensagem se refere que o turismo ‘é uma atividade altamente inclusiva, já que, criando muito emprego para pessoas com diferentes níveis de qualificação, permite que todos possam ser integrados no mercado de trabalho, desde os que não tiveram a possibilidade de ter estudado muito (mas que, através de treino se tornaram profissionais reconhecidos pela sua capacidade de bem receber), passando pelos académicos e investigadores de diferentes ciências sociais, ou engenharias tecnológicas mais especializadas (hoje, essenciais, por exemplo, na distribuição e comercialização on-line dos produtos turísticos e que têm, neste sector, uma possibilidade de desenvolvimento e afirmação)’.

 3. Perante estas duas asserções quanto ao turismo – como atividade humana e com recursos de índole cultural – sinto que temos de deixar-nos interrogar para além dos números económicos e de cuidar de sabermos se será por este filão que o nosso país precisa de ir explorando ou se não estará a hipotecar todas as suas forças, a curto e a médio prazo.

Depois da experiência após-2019, que foi a pandemia, não teremos de saber vender mais do que ‘sol e simpatia’? Com tanta ocorrência de procura, estaremos capazes de correspondermos às expetativas, sem distorcermos a nossa identidade? Não haverá uma onda de hedonismo que se sobrepuja à dimensão de espiritualidade das pessoas que recebem e que viajam?

 4. Mal vai a cultura de um povo se se vender ao imediato e aos ganhos económicos de tantos dos tentáculos do turismo atual. O turismo religioso não pode ser capturado nem ofuscado pelos interesses mais ou menos subtis das agências de viagens… e são tantas!

Por favor: não matem a galinha-dos-ovos-de-ouro com a pressa de querer estar na crista da onda… Bastará mais um sopro de qualquer vírus e tudo cairá!

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário