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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Dão-se alvíssaras

 


Recordo, em tempos idos, o anúncio em epígrafe – ‘dão-se alvíssaras’, como forma de compensação por algo que podia ser reavido, se outrém ajudasse, mesmo que forma anónima.

Mas qual a origem desta palavra – ‘alvíssaras’? Quais os sentidos que pode ter?

Recorrendo ao dicionário ‘priberal da língua portuguesa’, lemos:

‘Al·vís·sa·ras’ (árabe vulgar al-bixra, do árabe al-buxra, boa nova)
nome feminino plural
1. Prémio dado a quem apresenta objectos perdidos ou ao que dá uma notícia agradável.
interjeição
2. Expressão usada para pedir um prémio por uma boa notícia ou por um objecto encontrado.
3. Expressão usada para exprimir contentamento por uma boa notícia.
Colocada esta informação metodológica, vamos àquilo que motiva esta reflexão.

1. A quem daríamos o tal prémio? Quais serão as boas novas a que nos poderemos ater?  Teremos motivos para reconhecer alguém, por entre tantas lamúrias? Haverá capacidade de tentar ver algo mais do que o negativo? Quando aprenderemos a sacudir a negatividade dos nossos olhos e dos nossos juízos?

2.  À semelhança de Diógenes – o tal filósofo grego que percorria as ruas de Atenas com uma lanterna acesa… em pleno dia. Se alguém o questionava sobre esta estranha atitude, dava sempre a mesma resposta, que levava a candeia acesa porque o ajudava a encontrar um homem honesto. Não consta que tenha encontrado algum...
Bem poderíamos andar por aí de candeia acesa em pleno dia que talvez não conseguiríamos descobrir alguém honesto, isto é, honrado, sincero, sério... Não é que seja impossível encontrar alguém com estas qualidades, mas que elas estão assaz escondidas que quase foram ofuscadas pela incompetência, a habilidade e mesmo a mentira e a corrupção.

 

3. Dão-se alvíssaras a quem conseguir acertar no/na substituto/a da ministra da saúde, ela que foi entronizada com pompa e circunstância no partido e agora é abjurada por quase todos.

Dão-se alvíssaras a quem conseguir adivinhar a solução para o ‘novo’ aeroporto, dado que surgiu uma nova localização a norte de Lisboa, mas sem dados credíveis.

Dão-se alvíssaras a quem der um aceno sobre a solução para algumas dioceses sem bispo residencial – já são três: Açores, Bragança-Miranda e Setúbal – e caminhamos para mais cinco: Beja, Algarve, Portalegre-Castelo Branco, Lisboa, Guarda – cujos titulares perfazem a idade canónica a curto ou a médio prazo... Será por falta de candidatos ou por negativa dada por alguns indicados?

Dão-se alvíssaras a quem descortinar solução para o emaranhado do setor da educação – escolas e professores, alunos e auxiliares de educação, pais e encarregados de educação – dado que não se percebe completamente o que é ensinado, qual a competência (crescentemente desautorizada) dos que ensinam e, sobretudo, se a educação é da escola ou das famílias.

Dão-se alvíssaras a quem consiga dizer sem subterfúgios nem desculpas se certos partidos não passam de agremiações de emprego – ao nível estatal ou autárquico – ou de entidades de encobrimento de interesses mais ou menos sensíveis ao prolongamento do ‘nada fazer’ que possa questionar o poder que não a autoridade...

Dão-se alvíssaras a quem consiga perscrutar quando certos dirigentes deixam o posto – desses que se reclamam tanto de democratas, mas que, afinal, vivem numa espécie de monarquia sem trono – ou ainda quando aprendem a ler a história em sentido diacrónico e não factual...e fixista do império acabado.

 

4. As alvíssaras não estão em saldo, mas podem servir para destronar instalados e servidores do passado!

 

António Silvio Couto

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