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sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Ao drapejar das bandeiras

 


Por estes dias se houve imagem que nos foi dada ver com mais enfâse pode ser o drapejar das bandeiras: na despedida à rainha defunta ou mesmo em sinal de alegria pelas conquistas desportivas lusas em várias modalidades. Digamos que o drapejar das bandeiras é (ou pode ser) emissor de vários sentimentos, desde que tal sinal seja entendido por quem o usa, por quem dele se serve ou mesmo das intenções colocadas na comunicação…Aliás a ‘bandeira’ emite significações que ultrapassam o retângulo ou o quadro de pano ou de qualquer outro material… Em Portugal a bandeira, conjuntamente com o Presidente da República e o hino nacional, são símbolos máximos da Pátria!

 1. Numa espécie de orfandade coletiva, vimos as longas e quase-intermináveis horas de emissão gastas a falar de alguém que se tornou bem mais do que a soberana de alguns países, o símbolo de tantas nações ou mesmo a chefe de estado de alguns povos…Ela representa uma cultura, que é mais do que um regime político. Ao drapejar da bandeira percebemos que estávamos quase perante um ‘mito’ com rosto, com história e com imensa sabedoria… À falta de referência atualizadas e com qualidade, prestámos-lhe uma espécie de culto… senão religioso, quase cultural.

 2. Ao vermos drapejar a bandeira-material como que temos de inferir sobre essa outra bandeira-causa de conduta de vida. Ora sobre faculdade da bandeira ainda temos muito a refletir, pois ela deverá ser enquadrada, deverá ser descoberta a finalidade dessa causa e mesmo deveremos perscrutar o alcance mais alto, se queremos participar nesse objetivo.

 3. Num tempo algo complexo torna-se importante perceber porque estamos à deriva devido à falta de líderes – dirigentes, responsáveis…condutores, guias, chefes – nos mais diversos campos de atividade humana. Não será necessário recuar mais do que duas ou três décadas na história para compararmos a ausência atual de pessoas que sejam capazes de assumirem a condução dos destinos dos povos e das nações, das associações ou coletividades, dos países ou dos partidos…das escolas e dos sindicatos, dos governos e dos parlamentos… das dioceses e das paróquias… ao perto ou ao longe.

Se colocarmos a data de 1989 – queda do ‘muro de Berlim’ – como tempo de referência fica-nos a sensação que é, cada vez de menor, a qualidade daqueles que têm de assumir tarefas de responsabilidade não sem que aos atuais investidos em poder lhes falta autoridade. Não fossem tantos dos desinteressados em aparecerem que veríamos um colapso sem retorno do modelo ocidental daquilo a que ainda apelidam de ‘democracia’.

 4. Sem deixarmos uma sensação de quase rutura das nossas sociedades, pela impreparação dos mais novos em ordem à assunção dos destinos pessoais e coletivos, precisamos de criar, educar e promover as ‘elites’ – não é um termo desfasado das preocupações mínimas e suficientes – que sejam em breve os semeadores da confiança e do compromisso, que são muito mais do que favores egoístas e individualistas. Não podemos continuar a misturar os mais novos – jovens ou adultos jovens – com as menos boas práticas de uns tantos sobre uma razoável maioria. Dado que vamos tendo uma população ainda jovem – idade de referência máxima de trinta anos – não podemos facilitar no campo da aquisição de conhecimento, bem como na frente de participação nos destinos de todos e de cada um.

5. Será que há a coragem mínima para criar laços que sejam mais do que nós ou impedimentos a que os mais competentes sejam aqueles que nos guiam? Nas horas dramáticas, que percorrem a história humana atual, haverá capacidade de destronar os menos válidos e oportunistas? Como poderemos ter bons líderes que não se envergonhem da sua fé, em vez de alinharem pela marca do ‘avental’ sem rosto nem dirigentes, que deem a cara?

Acordemos desta letargia de pântano em que estamos. Comecemos hoje a levar a sério a falta de líderes à altura dos acontecimentos atuais. Quanto mais tarde nos empenharmos pior. O futuro começa agora!  

 

António Sílvio Couto

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