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quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Ser professor ou dar aulas?

 


Está prestes a começar o ano letivo. Apesar de ser ‘novo’ traz problemas velhos e questões não-resolvidas noutras circunstâncias ou com visão mais do que do passado.

O número de docentes – nos vários graus de ensino: pré-primário, básico, secundário e superior – abrange um largo leque de necessidades, cada ano, postas mais e mais a manifesto. Por outro lado, o número de alunos vai diminuindo, no entanto as questões mais básicas como que se vão continuando a agravar.

A área do ensino – educação é (ou deve ser) outra questão – continua a ser um dos quatros campos de ação sociopolítica – à mistura com a saúde, a justiça e a segurança – com mais problemas, dificuldades e necessidades.

1. Por que será que se continua a misturar ensino com educação? Terá o Estado de ser quem educa e não meramente quem instrui? Até quando teremos de aguentar uma estatização do (dito) ensino, não deixando espaço para essa tão propalada liberdade, nem sempre vivida corretamente? Essa espécie de universalização do ensino que valores veicula para além dos ideológicos sub-reptícios? Por que razão caiu com tão estrondoso descrédito a categoria profissional de professor? A quem convinha tirar a autoridade ao professor, dentro e fora da sala de aula? Ainda se irá a tempo de suster o desinteresse pela área de estudos do ensino?

2. Apesar de um largo leque de deputados no parlamento atual conter uma percentagem razoável de eleitos provindos do setor do ensino, não se tem visto vertido em lei e no comportamento político uma maior creditação dos professores, seja qual for a instância de hierarquização. Em certos momentos da nossa vida coletiva fomos vivendo maus exemplos de desrespeito para com os professores, nalguns casos até protagonizados por pais e (ditos) encarregados da educação.

O perfil do professor/a tem vindo a mudar e nem sempre os próprios/as têm facilitado uma definição que ajude a nutrir por eles/elas mais respeito e consideração cultural: se atendermos ao modo de se apresentar e virmos ainda a postura poderemos ter dificuldade em conseguir ver os docentes como mentores da sua própria creditação…

3. De formas bastante diversificadas foram construídos certos esquemas de nivelamento pela negativa quanto à função de professor, isto é, em relação a alguém que cuida de ensinar, semeando em quem é educado (ensinado) algo que há de ser visto em frutos e em consequências de vida. Quem não recorda algum professor que nos fez crescer na aprendizagem e foi semeando projetos de sabedoria, mais do que de mero saber? Quem não terá – infelizmente! – experiências de ter encontrado quem sabia até muito, mas não era capaz de transmitir, pedagógica e culturalmente, as suas lições aos ouvintes/alunos/estudantes? Quem não terá vivências de professores que eram mais do que comunicadores de matérias de aprendizagem, mas nos davam lições mais pela vida do que pela sabedoria, mesmo que fosse muita e claramente bem assimilada?

4. De facto, a missão de ser professor é essa mais de ensinar com a vida do que de ‘dar aulas’ – como dizia uma vez um colega: dadas, não; pagas e bem pagas…noutros tempos – quer dizer: é preciso ter vocação para ser professor, nessa tarefa de não deixar que as matérias se sobreponham nem acumulem coisas já sabidas, mas atendendo sempre a quem é ensinado, primeiro a pensar e só depois a exprimir o que aprendeu.

Ora, como dizem por aí com a falta de professores e, se recorrerem aos que têm habilitação suficiente e não à capacitação própria, correremos o risco de fazer cair ainda mais no nível de instrução. Temos de saber investir naqueles/as que fazem evoluir a sociedade através do ensino. Precisamos de pagar condignamente àqueles/as que ajudam a aprender a pensar mais do que a obter conhecimentos sem utilidade.

5. Os professores «são os “artífices” das futuras gerações. Com o seu conhecimento, paciência e abnegação, transmitem um modo de ser que se transforma em riqueza, não material mas imaterial, criando o homem e a mulher de amanhã. É uma grande responsabilidade» – Papa Francisco, 7 de fevereiro de 2020.



António Sílvio Couto

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