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quinta-feira, 28 de abril de 2022

‘Proibir’ – nunca mais ou nunca menos?

 


Por estes dias ouvi um desses ‘iluminados’ na comunicação social de serviço ao regime de quem está no poder (ontem como hoje), convertidos da linguagem marxista, a querer advogar que ‘uma certa direita quer ilegalizar o partido’ (comunista) de onde veio…e que, posteriormente, contestou noutras agremiações. Onde andará esse intelectual de entre os seus (muitos e desalinhados) alfarrábios de antanho? Guinado de onde veio não terá ainda esquecido a dialética (‘diamat’) de discussão, em vista de outra antítese? A quem interessará conjeturar sobre a ‘ilegalização’ de uma formação partidária em erosão crescente? Não será mais avisado deixá-los ir a votos até à sua (possível) extinção?

 1. 48 anos depois da dita ‘revolução do 25 de abril’ ainda pululam em muitas mentes (e noutros mais comportamentos) fetiches saudosistas de serem perseguidos e nisso conquistarem identidade. Mesmo que tendo alguma aceitação votante – diga-se em volátil expressão – não conseguiram estar à luz do dia nem adquiriram identificação não-subversiva. Aquilo pelo qual lutaram, que diziam ser a liberdade, ainda está enquistado na forma, na expressão e mesmo no conteúdo…da resistência ao ‘fascismo’!

 2. Cada vez mais se pode perceber que a bolha em que certos ‘políticos’ falam, vivem ou se movem não está articulada com a realidade. Bastará ver o breve hiato – meses ou dias – em que se posicionam entre o tempo de eleição e o espaço de decisão (governança, orientação ou até atitude), tanto ao nível local como no geral. Nalgumas situações quase se torna ridículo ver pessoas encavalitadas – literalmente sobre cavalos, quando os casos envolvem tais equídeos – e se prestam para ‘festas ou romarias’… Como dizia uma figura do anedótico televisivo: não havia necessidade!

 3. Num país quase sempre dependente dos meios de subsistência do exterior como que se torna ousadamente lúcido desejar que tenhamos capacidade de sermos autónomos nas coisas mais básicas e essenciais. Depois de termos aderido à CEE, em 1985, fomos perdendo, de forma crescente, os ‘meios de produção’ na agricultura e nas pescas, comprando a outros o que podíamos ser nós a produzir… Somos mais do que sol e restauração…barata!

 4. Com quase uma década transcorrida chegou por cá o refrão: ‘proibido proibir’ – do ‘maio de 68’ francês. Lá como cá deu-se azo à liberdade em conjugação de libertinagem, fazendo e fazendo fazer quanto pudesse sair da normalidade mais simples e razoável.

Foi com razoável velocidade que a trilogia de antes do ’25 abril’ – Deus. Pátria e família – foi revertida em afastamento desses princípios e a cacofonia dos ‘três efes’ – futebol, Fátima e fado – se converteu numa abjuração na área do proibido mesmo sem proibir.

5. É sintomático que certas forças ideológicas se sintam ostracizadas quando o seu pensamento destoa – no caso da guerra na Ucrânia – da condenação geral. Vieram a terreno – pena é que sejam ouvidos e difundidos de forma quase-acrítica – considerar que estavam a ser vítimas de uma espécie de delito de opinião. Eles que sempre se reclamam das ‘amplas liberdades’ estão a provar daquilo que fizeram nesta longa ditadura (dita) democrática, onde quem não pensa como eles é antidemocrata. Por isso, será bom que reflitam sobre essa rampa deslizante até ao (possível) desaparecimento… como noutros países da Europa civilizada.

6. Só quem tem medo das ideias dos outros, duvidando da veracidade das suas, é que os quer reduzir ao silêncio. Mais do que combates anacrónicos do século vinte, precisamos de ter ideais, que, normalmente, não morrem com investidas de maiorias nem são vencidos quando há convicção, serenidade e capacidade de mobilização. Com certos intérpretes da nossa praça há que ter cuidado, pois nem sempre sabem quem são e com facilidade desvirtuam o que os outros dizem… ‘Proibir’ continua a ser a arma mais subtil dos ditadores e/ou dos ignorantes… e são tantos/as!  

 

António Sílvio Couto

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