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quarta-feira, 6 de abril de 2022

Das imagens de guerra à guerra das imagens

 Desgraçadamente somos a toda-a-hora-e-momento metralhados com imagens de guerra, tanto da invasão russa à Ucrânia como de outros conflitos exibidos nas televisões e noutros meios de difusão noticiosa…nessa espécie de guerra de audiências, com a cativação de espetadores e, sobretudo, numa manipulação dos públicos. Deste modo a imagens de guerra tem-se tornado também guerra de imagens, onde nem sempre se saberá o que é verdadeiro ou aquilo que nos querem impingir por estratégia de comunicação…

 1. Decorridos quase quarenta dias do conflito ucraniano-russo começamos a ver imagens inconcebíveis: mortos às centenas, destruição irremediável, prejuízos irreparáveis…pessoas em fuga, combatentes em estado de confronto, situações ignóbeis a toda a classificação. De facto, o homem é lobo do homem, deixando emergir, em força e sem controlo, o que há de mais animalesco, primário ou selvático. Aquelas imagens de guerra são a pior amostra do ‘caim’ que há em cada ser humano… As vidas ceifadas clamam por justiça diante de Deus!

 2. Os órgãos de comunicação como que se deleitam com o espetáculo com que se entretém a difundir. Dizem que as imagens são violentas, suscetíveis de melindrar os mais vulneráveis, mas mesmo assim gastam horas e horas em emissão. Se dúvidas houvesse de que a comunicação social é servidora do mal, os tempos mais
recentes se encarregam de confirmar o estado doentio da nossa sociedade. Com tantos abutres a farejar a morte podemos perceber que este tabu foi destronado, mas não foi ultrapassado…Não se justifica que as televisões portuguesas tenham enviado repórteres especiais à Ucrânia. Não se justifica que se gastem tantos meios e recursos para dar cobertura a coisas tão nefastas e sem nexo…para pessoas equilibradas, sensatas e humanamente respeitadoras da dor alheia.

 3. Foi um corrupio aquele que vimos desenvolver-se para acudir – nos primeiros dias – aos milhões de deslocados/refugiados procedentes da Ucrânia. Meios e campanhas de socorro apareceram em vários pontos do país, num vai-e-vem de levar coisas e de trazer pessoas. Se aquelas foram sendo distribuídas, estas (as pessoas, sobretudo, mulheres e crianças) chegaram aos milhares – dizem que mais de quinze mil. Muitos foram para casas de familiares, já por cá residentes e uns tantos vieram mais à deriva.

Passado um primeiro impacto de simpatia, torna-se essencial dar passos de boa organização, criando as condições suficientes para que se cuide de quem nos procura, muito para além das prestações materiais, sem nunca esquecer que estas pessoas deslocadas merecem respeito na sua integridade psicológica e espiritual. Podem não saber a (nossa) língua, mas entendem a linguagem, essa universal da boa-fé, da sinceridade e mesmo da simpatia bem manifestada.

Certas iniciativas de algumas entidades ‘oficiais’ – de autarquias e do governo central/centralista – mais parecem tendências para aparecer nalguma foto de propaganda do que para serem projetos em ordem a dinamizar, seja quem for, os de lá ou de cá!...

4. Neste como noutros momentos de acutilância humana e de fragilização das pessoas aparece pouco, de forma clara, a referência a Deus. Veja-se a forma algo sobranceira como foi tratado o momento de consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, que ocorreu no passado dia 25 de março. Para alguns parecer situar-se o assunto na esfera de menos interessante, senão mesmo lateral. Como se a paz não fosse um dom divino! Até um largo setor católico primou pela ausência e pela indiferença pessoal e comunitária. Não tivesse o Presidente da República trazido o assunto para a luz da memória, pela sua presença no ato decorrido no santuário de Fátima, e nem numa nota de rodapé mereceria…

 5. Se o Presidente-comediante, Zelensky se tem comportado como um herói, os cidadãos do Ocidente mais parecem palhaços de feira em maré de saldos, tal a inoperância e a falta de bom senso ético e cultural! Se os ucranianos merecem respeito e admiração, muitos outros povos deixaram a nu a falta de sentido de nação!        

 

António Sílvio Couto

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