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segunda-feira, 26 de julho de 2021

Sem honra de ser compatriota…

 


Herói ou bandido? Eis o dilema para ‘definir’ o defunto ‘otelo saraiva de carvalho’ (osc).

Desde já fique claro: recuso-me a escrever tal nome sem letras que não sejam minúsculas, retribuindo deste modo o desapreço que ele manifestou por tantos dos seus compatriotas, numa maré onde corremos o risco de deixarmos de ser quem somos e de não podermos continuar a ser os portugueses que sempre quisemos ser: com fé, com Deus e com Pátria.

 1. Herói engordado pelo regime? O militar em apreço (osc), agora desaparecido, fez-se na educação como militar, desde os vinte anos, percorrendo as várias etapas mesmo nas comissões ao ultramar em guerra de libertação…redundando naquilo a que apelidaram ‘movimentos dos capitães’, ele, que desde 1973, já era major… O regime fez dele um arauto de mudança ou um ariete contra o sistema político vigente? Para alguns (mais exagerados) não passará de um mero artesão da política do lacrau…à portuguesa!  

 2. Estratega subtil ou manipulador? Idolatrado como o estratega da revolução de 74, osc não passa de um executor da mutação aveludada num regime podre de ideias e incapaz de perceber que lhe cozinhavam atrás da orelha a convulsão importada de outras latitudes mais coletivistas.

 3. Político ingénuo ou sem jeito? Parecendo impreparado para ter poder – mais habituado a ter subalternos – foi cometendo erros de análise e de condução nos anos subsequentes à revolução: inchado de adulação fez do processo revolucionário um curso com percalços em vários pontos do país, denotando uma macrocefalia da capital sobre o resto do país e de uma visão totalitária colhida em visitas de mau aconselhamento. São dessa época insinuações contra os opositores desejando reduzi-los ao confinamento ao ‘campo pequeno’, numa alusão ao extermínio de quem se lhe pudesse opor….Numa autoanálise posterior considerou-se um tanto ingénuo… e, nós, vemo-lo como alienado pelo poder…sem autoridade.

 4. Revolucionário ao retardador? Com a reposição nos carris dos ideais de ’25 A’, no 25 de novembro de 1975, esfumou-se o poderio de osc. Os eflúvios cubanos-soviéticos ainda emergiram na sua candidatura presidencial – a primeira (1976) com quase oitocentos mil votos e segunda (1980) com pouco mais de oitenta mil votos – recolhendo-se ao reduto de luta popular, à semelhança de outros exemplos latino-americanos…

5. Cúmplice ou falsário? Após a derrota estrondosa de 1980, osc como que se refugiou ou foi conotado com outros processos de má memória coletiva: as ‘fp-25 abril’. Estas fizeram entre 1980 e 1987, dezassete vítimas em atentados… Comparativamente com outras ‘forças revolucionárias de extrema-esquerda’ do resto da Europa – brigadas vermelhas ou Baader-meninhof – deu-se algo de muito grave no nosso país… Desta vez não ficamos fora do contexto europeu, como noutros setores.

 6. Declínio sem glória? Decorridos estes anos, osc saiu de cena para aparecer, na hora da morte, por entre laivos de esquecimento, de aborrecimento e, sobretudo, de aprendizagem para com quem pode ser autor de façanhas, mas construtor de patranhas; mentor de ideais, mas desilusão de ideias; fabricador de bons propósitos, mas destruidor de melhores empreendimentos (mesmo económicos); inventor de perseguições, mas vítima dos seus projetos…

A História o há de julgar: ele será um título ou uma nota de rodapé?

Por mim que vive, mesmo que à distância alguns dos momentos desta figura entre 1974 e 1984, não me merece grande consideração… Ou será isto delito de opinião por discordarmos de quem nos quis fazer mal e talvez já tenha recebido a sua paga? Agora que se fechou o ciclo da sua existência poderemos compreender mais atentamente o seu significado?


António Sílvio Couto

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