Herói ou
bandido? Eis o dilema para ‘definir’ o defunto ‘otelo saraiva de carvalho’
(osc).
Desde já
fique claro: recuso-me a escrever tal nome sem letras que não sejam minúsculas,
retribuindo deste modo o desapreço que ele manifestou por tantos dos seus
compatriotas, numa maré onde corremos o risco de deixarmos de ser quem somos e
de não podermos continuar a ser os portugueses que sempre quisemos ser: com fé,
com Deus e com Pátria.
1. Herói engordado pelo regime? O militar em apreço (osc), agora
desaparecido, fez-se na educação como militar, desde os vinte anos, percorrendo
as várias etapas mesmo nas comissões ao ultramar em guerra de libertação…redundando
naquilo a que apelidaram ‘movimentos dos capitães’, ele, que desde 1973, já era
major… O regime fez dele um arauto de mudança ou um ariete contra o sistema
político vigente? Para alguns (mais exagerados) não passará de um mero artesão
da política do lacrau…à portuguesa!
2. Estratega subtil ou manipulador? Idolatrado como o estratega da
revolução de 74, osc não passa de um executor da mutação aveludada num regime
podre de ideias e incapaz de perceber que lhe cozinhavam atrás da orelha a
convulsão importada de outras latitudes mais coletivistas.
3. Político ingénuo ou sem jeito? Parecendo impreparado para ter poder
– mais habituado a ter subalternos – foi cometendo erros de análise e de
condução nos anos subsequentes à revolução: inchado de adulação fez do processo
revolucionário um curso com percalços em vários pontos do país, denotando uma
macrocefalia da capital sobre o resto do país e de uma visão totalitária
colhida em visitas de mau aconselhamento. São dessa época insinuações contra os
opositores desejando reduzi-los ao confinamento ao ‘campo pequeno’, numa alusão
ao extermínio de quem se lhe pudesse opor….Numa autoanálise posterior
considerou-se um tanto ingénuo… e, nós, vemo-lo como alienado pelo poder…sem
autoridade.
4. Revolucionário ao retardador? Com a reposição nos carris dos ideais
de ’25 A’, no 25 de novembro de 1975, esfumou-se o poderio de osc. Os eflúvios
cubanos-soviéticos ainda emergiram na sua candidatura presidencial – a primeira
(1976) com quase oitocentos mil votos e segunda (1980) com pouco mais de
oitenta mil votos – recolhendo-se ao reduto de luta popular, à semelhança de
outros exemplos latino-americanos…
5. Cúmplice ou falsário? Após a derrota estrondosa de 1980, osc como
que se refugiou ou foi conotado com outros processos de má memória coletiva: as
‘fp-25 abril’. Estas fizeram entre 1980 e 1987, dezassete vítimas em atentados…
Comparativamente com outras ‘forças revolucionárias de extrema-esquerda’ do
resto da Europa – brigadas vermelhas ou Baader-meninhof – deu-se algo de muito
grave no nosso país… Desta vez não ficamos fora do contexto europeu, como
noutros setores.
6. Declínio sem glória? Decorridos estes anos, osc saiu de cena para
aparecer, na hora da morte, por entre laivos de esquecimento, de aborrecimento
e, sobretudo, de aprendizagem para com quem pode ser autor de façanhas, mas
construtor de patranhas; mentor de ideais, mas desilusão de ideias; fabricador
de bons propósitos, mas destruidor de melhores empreendimentos (mesmo
económicos); inventor de perseguições, mas vítima dos seus projetos…
A
História o há de julgar: ele será um título ou uma nota de rodapé?
Por mim
que vive, mesmo que à distância alguns dos momentos desta figura entre 1974 e
1984, não me merece grande consideração… Ou será isto delito de opinião por
discordarmos de quem nos quis fazer mal e talvez já tenha recebido a sua paga? Agora
que se fechou o ciclo da sua existência poderemos compreender mais atentamente
o seu significado?
António Sílvio Couto
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