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terça-feira, 20 de julho de 2021

A doença abre a Deus e/ou revela a pessoa humana?

 


De longa data se questiona: há doenças ou antes pessoas que estão doentes? Ao falarmos de alguma doença não temos, antes de tudo, de atender a quem está a sofrer essa/s doença/s? Num tempo que mais parece abjurar as situações de doença como nefastas e complicadas, não deveremos saber distinguir – pesando todas as questões envolvidas – a pessoa do doente mais do que tentar debelar a doença de forma abstrata e talvez pouco consequente?

Numa visão cristã podemos colocar em Jesus toda a nossa capacidade de compreensão sobre o sofrimento, de tantas e tão variadas formas manifestado nas doenças das pessoas, sejam crentes ou não. Com efeito, «comovido por tanto sofrimento, Cristo não só Se deixa tocar pelos doentes, como também faz suas as misérias deles: «Tomou sobre Si as nossas enfermidades e carregou com as nossas doenças» (Mt 8, 17). Ele não curou todos os doentes. As curas que fazia eram sinais da vinda do Reino de Deus. Anunciavam uma cura mais radical: a vitória sobre o pecado e sobre a morte, mediante a sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou sobre Si todo o peso do mal e tirou «o pecado do mundo» (Jo 1, 29), do qual a doença não é mais que uma consequência. Pela sua paixão e morte na cruz. Cristo deu novo sentido ao sofrimento: desde então este pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão redentora» (Catecismo da Igreja Católica, n.º 1505).

Desde os primórdios da reflexão cristã que a figura do ‘servo de Javé’ – Is 42, 1-9; 49,1-6; 50, 4-9; 52,13-53, 12 – se tornou um protótipo da assunção de Jesus de todo o sofrimento humano, Ele que não tinha doenças, configurou em si a humanidade doente e cada pessoa humana nas suas circunstâncias mais marcadas pela doença.

Embora seja uma clara manifestação da contingência da nossa vida terrena, a doença pode tornar-se como que um dos melhores diagnósticos à nossa fé, bem como uma das formas mais subtis de acrisolar a nossa esperança, se bem que possa ainda servir-nos para testar a condição mínima da possível (ou real) caridade.

Se a doença pode ter causas muito diversificadas – mais ou menos aceitáveis, mais ou menos inesperadas, mais ou menos prolongadas –, basicamente poderá ter, numa visão teísta da existência humana, duas consequências: ou nos revolta e questiona quando a Deus ou nos proporciona uma nova abertura ao divino… Quantas pessoas refundaram a sua vida a partir de uma experiência de doença! Quantas pessoas reaprenderam a ver a sua vida e a dos outros com olhos diferentes, após uma vivência de doença, direta ou indireta! Quantas conversões de vida se aferiram mais a Deus, por ocasião de algum estado de doença pessoal, familiar ou de outras pessoas!

 = O que a Bíblia nos diz sobre a doença?

A Bíblia diz que a doença é um dos resultados do pecado no mundo. Assim como todos vamos morrer, todos corremos o risco de ficar doentes. Mas Deus não nos abandona na doença. Em Jesus temos uma grande esperança: na vida eterna não haverá mais doença.

Uma das consequências do pecado é a morte (Rm 6, 23). O corpo degrada-se gradualmente, até cessar a vida. A maldição que caiu sobre o mundo, por causa do pecado, significa que nessa vida enfrentamos dor e sofrimento. A doença é, por isso, parte da vida.

Mas isso não significa que toda doença é castigo por algum pecado, ou sinal de falta de fé. Uma doença pode ter várias origens:

- Física – a degradação do corpo ou o contato com algo nocivo para a saúde,

- Mental – os nossos pensamentos podem afetar o funcionamento de nosso cérebro,

- Espiritual – pecados ou ataques do demónio.

Nalguns casos, uma doença pode ser o resultado de vários fatores. Por exemplo, uma pessoa acamada com uma doença crónica pode ficar com depressão, se perder a esperança de melhorar. Essa pessoa vai precisar de ajuda psicológica, para tratar a depressão e encontrar esperança, mas também de ajuda médica para melhorar a sua condição física.

 

António Sílvio Couto

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