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terça-feira, 13 de julho de 2021

Preço dos combustíveis – da vergonha ao silêncio

 


Nos tempos mais recentes o preço dos combustíveis disparou duma forma assustadora e quase vergonhosa, tendo, da parte dos consumidores, uma espécie de reação de silêncio cúmplice, amorfo e sem nexo.

Há casos em que um litro de gasóleo custa – no correspondente à moeda antiga – quase quatrocentos escudos, isto é, 1,8 euros. Se repararmos bem e de forma atenta, exigente e consequente pagar 1,6 euros por um litro de gasolina faz-nos recordar que isso seria de cerca trezentos escudos… sem apelo e muito agravo.

 1. A coberto da pandemia temos visto e assistido, duma forma quase anódina ao aumento de tropelias por parte de quem nos governa, recebendo da maioria da população um tratamento concordante com quase tudo, parecendo que desistiu de reclamar, de se manifestar pela discordância ou de tornar audível seja na posição que for. A governança narcotizou o povo e este, num seguidismo atroz, caminha para o matadouro do fim dos seus direitos mínimos…se assim continuarmos.  Breves e ténues arremedos contra os preços praticados para com os combustíveis como que destoam do conformismo geral e generalizado.

 2. Dá a impressão que o vírus atingiu a racionalidade da imensa maioria dos nossos concidadãos: pelas não-reações a tantas malfeitorias ou na concordância nas benesses encapotadas de quem ocupa o espaço executivo, poderemos considerar que vivemos numa paz, que, além de podre, é infetocontagiosa pela desistência. Onde param os contestatários de outras épocas? Fugiram cobardemente ou desistiram pela acomodação às regalias adquiridas? Envelheceram nas ideias ou venderam-se nas circunstâncias. As manifestações de rua hibernaram por conveniência ou desapareceram por insolvência? Tantos dos cartazes provocadores fazem já parte do espólio de sindicatos e afins?

3. Com tantos e tão graves sinais procedentes desta dita ‘sociedade covil’ torna-se difícil não perceber que as pessoas preferem salvar a pele – literalmente e de forma vacinada – a questionarem o caminho por onde vamos. A situação afigura-se-nos perigosa, pois o ‘pão e jogos’ de outras épocas já não entretém nem ilude a populaça, por agora mais reservada nas suas reivindicações, refugiada nas suas ocupações e mesmo entretida nas suas devoções…que não meramente as religiosas de antanho.  

 4. Vejamos, a título de exemplo os preços dos combustíveis, em 2016 (tempo de verão), na vigência deste governo da geringonça e hoje, ano e meio em tempo de pandemia: a ‘gasolina 95 aditivada’ custava – 1,3 euros, agora custa 1,7 euros… depois de ter percorrido tabelas mais baixas. O gasóleo normal custava – 1,1 euros naquela data e hoje tem o preço de 1,5 euros...

Há uma pergunta que quase todos fazemos: o preço do litro de combustível reflete o quê? Qual o valor real lançado e vilipendiado pelos impostos? Qual a panóplia de taxas e taxinhas que estão associadas ao custo do litro de combustível?

65,3% do preço do litro da gasolina 95 representam impostos e taxas. No gasóleo, o valor de impostos é de 59,1%;. O custo final do combustivel apreenta os seguintes impostos; Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP), o adicionamento sobre as emissões de CO2 (Taxa de Carbono), a contribuição de serviço rodoviário (CSR).e ainda o montante de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA)…numa palavra: mais de dois terços do valor pago pelo consumidor/contribuinte vão para impostos. É digno de registo: só os impostos sobre produtos petrolíferos (ISP) rendem aos cofres do Estado cerca de 3,5 mil milhões de euros…anuais!

 5. Vou discriminar uma fatura simplificada de 12.7.2021, às 16.01 horas, num posto de abastecimento da A1, na Mealhada:

Gasolina sem chumbo 95: 22,05 litros X 1,814 euros – 40 euros;

Numerário IVA 23%, 7,48 euros de 32,52 € líquido;

Taxa – ISP: 0,668/litro – 22,05 – 14,73 €.

Continuamos calados, deixando que nos explorem. Somos uns dos países mais caros da Europa. Até quando?

 

António Sílvio Couto

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