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sexta-feira, 9 de julho de 2021

Quando emergem falcatruas…antigas

 


Como se fosse já o tempo das vindimas, eis que caem na trituradora da vida – da justiça, da comunicação social ou da opinião pública – casos de pessoas, aparentemente, impolutas, veneráveis, benfeitoras e dirigentes…

Uns tantos esfregam as mãos de contentamento – quais infantis em maré de vitória – sobre as situações em apreço, pois eram concorrentes em espaço e modelo de conduta…os ‘perseguidos’ como que simbolizariam ideias contrárias aos regozijantes… num indisfarçável conluio de interesses e/ou de simulações.

Outros sentem-se embasbacados pelos que foram trazidos à barra do questionamento, pois até eram suporte de propaganda em maré de eleições…o vermelho, virou encarnado, simulando um e outro quem ajuda quem, quando, onde ou como…agora como no passado. O flamejar do estandarte revela poucas vitórias!

1. Com breves dias de diferença vimos figuras recentemente alçadas na vida pública – social, política, desportiva, cultural – a caírem com estrondo e aparato, desde logo não escapando ao juízo da populaça e com os inexplicáveis sabichões na comunicação social a atiçarem os problemas. Gente que fez o regime há poucos anos, está estatelada, censurada e, nalguns casos, coartada na liberdade…Quais mitos nas suas áreas de intervenção tornaram-se lazarentos de quem se foge por medo de contágio. 

 2. É quase medonho e diabólico o afã com que as pessoas são esquartejadas na sua personalidade, quando caem em desgraça: os que antes pareciam amigos, agora escafedem-se de mansinho e como ratos em maré de tempestade fogem dos infetados; os que os tinham por adversários saltam como inimigos sem dó nem piedade; os que nada têm a ver com o assunto, julgam-se capazes de emitir opinião e de apedrejarem quem antes quase-adulavam…dado o posto em que se exibiam.

 3. Diante destes episódios mais recentes surgem-me algumas perguntas nem sempre fáceis e tão pouco abonatórias: a maldade das pessoas emerge quando os outros são pisados e ofendidos? Não haverá pitada de compaixão para com quem é exposto na hora da desgraça? Serão estes indícios da classificação tão atroz de que ‘o homem é lobo do homem’? Não andaremos enganados e a enganarmo-nos, quando difundimos mais o mal dos outros e não tanto as suas qualidades? Porque se regozijam certas forças com as debilidades alheias, será vingança ou mesquinhez de mal resolvidos, invejosos e traumatizados? Esta onda negativista, que esta a percorrer o nosso país, não nos irá custar caro psicológica e culturalmente?

4. Como povo propenso para um certo fatalismo e dramaticidade estaremos a cavar a sepultura coletiva na proporção em que nos afundamos sem nexo nem pejo. Nota-se uma recorrência em vermos explorados casos de figuras ligadas ao mundo do futebol. Jogo de muitas paixões continua o setor do futebol a ser propício para jogadas nem sempre claras ou às claras. A mistura de interesses – autárquicos, políticos, religiosos, regionais ou de incidência mais nacional – tornou-se explosiva para quantos nele se metem, por vezes com outros intuitos que não os do desporto. Atendendo aos milhões de euros envolvidos – à vista de todos ou sob a mesa e/ou à socapa – os relacionamentos no futebol merecem ser colocados de atalaia, tanto mais que os casos conhecidos serão como que a ponta ínfima do icebergue…

 5. Urge, por isso, saber a verdade. Esta deverá sempre ser a melhor causa de quem está na vida pública, na medida em que a exercita na componente privada. Sem pretendermos defender ou acusar seja quem for, será necessário tratar todos os dirigentes e não só os da nossa não-simpatia com a mesma bitola de justiça, pois soaria a populismo esconso querer rotular uns como menos sérios e outros – só porque ainda não foi descoberto ou trazido à luz da informação – passarem pelo pingos da denúncia sem terem de pagar, se for o caso, as suas responsabilidades.

Há tanta gente com poder, mas sem autoridade e há quem exerça a autoridade no nível mínimo de poder.          

 

António Sílvio Couto

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