Embora estejamos sem saber em que etapa estamos
desta crise da pandemia do ‘covid-19’ podemos, de algum modo, ir fazendo uma
leitura de algumas coisas/situações/casos/figuras que fomos percebendo…
Se usarmos como critério de leitura outras vivências
anteriores – possivelmente piores, mas não tão empoladas, dado que havia muito
menos meios de comunicação – poderemos encontrar vítimas dessas pestes, de tais
epidemias, de surtos ou de doenças fatais…onde se destacaram tantos e tantas pela
sua forma como lidaram com os problemas, como os tentaram resolver, pagando,
por vezes, com a vida a sua entrega em favor dos outros.
Dentro de um quadro socio-religioso cristão faz
parte da referência à ‘ajuda’ – intercessão, intervenção milagrosa, suporte ou
defesa – alguns daqueles que viveram momentos de provação e que foram,
posteriormente, invocados por ocasião ‘da fome, da peste e da guerra’, como São
Sebastião ou São Roque.
Vejamos a configuração destes dois grandes testemunhos
em maré de peste e como são ainda hoje invocados.
* Sebastião nasceu em Narbonne (sudoeste
de França), no final do século III, e desde muito cedo seus pais se mudaram
para Milão, onde ele cresceu e foi educado. Atingindo a idade adulta,
alistou-se como militar, nas legiões do Imperador Diocleciano, que ignorava que
Sebastião era cristão, mas devido à sua valentia foi nomeado chefe da guarda
pretoriana. Denunciado por um soldado devido à proteção que dava aos cristãos
perseguidos, foi Sebastião condenado à morte e executado, uma primeira vez a
que sobreviveu e uma segunda, torturado com setas, como se vez na sua imagem
iconográfica. Sepultado com veneração, foram as suas relíquias trasladadas, no
século VII, para uma basílica construída pelo imperador Constantino. Ora, nessa
ocasião, grassava uma forte epidemia em Roma e, conforme iam passando as
relíquias as pessoas ficavam melhores e a dita epidemia desapareceu. Desde,
então, começou a ser invocado por ocasião da ‘fome, da peste e da guerra’, como
aconteceu em Milão, em 1575, e em Lisboa, em 1599, que invocaram com sucesso,
São Sebastião em momentos de epidemia...
Repare-se que, sobretudo nas povoações mais antigas, há algum testemunho de súplica a este santo, colocando essa referência (igreja, capela, nicho ou estátua) à entrada da povoação, como que em jeito de defesa e de proteção...
* Roque nasceu em Montpellier (sul de França), nos séculos XIII-XIV, filho de uma família abastada, ficou órfão muito novo e foi educado por um tio e estudou medicina. Ao atingiu a maioridade distribuiu os bens pelos pobres e partiu em peregrinação a Roma. Pelo caminho foi-se confrontando com várias cidades a viverem surtos de peste. Usando simplesmente um bisturi e uma cruz foi socorrendo as vítimas, que eram curadas. No regresso de Roma a Montpellier, São Roque foi ele próprio atacado pela peste, em Piacenza. Terá sobrevivido no isolamento que escolhera graças a um cão que lhe levava pão todos os dias. Curado milagrosamente, Roque regressou a Montpellier para doar o resto dos seus bens. Porém, com a cidade em guerra civil, foi confundido com um espião e preso. O governador da cidade, seu tio, não o reconheceu, nem ele se terá identificado. Roque permaneceu em esquecimento, preso durante anos, a viver a pão e água e em oração. Numa tentativa de confirmar se ele estava morto, o carcereiro, que era coxo, tocou-lhe com a perna menor e ficou curado. Identificado o morto perceberam que era Roque pelo sinal de uma cruz que tinha no peito desde a nascença. São Roque é invocado contra as pestes e epidemias, sobretudo na proteção do gado contra doenças contagiosas. É geralmente representado com uma ferida na perna, com um cão aos pés e com um bastão e uma vieira típica dos peregrinos...
Repare-se que, sobretudo nas povoações mais antigas, há algum testemunho de súplica a este santo, colocando essa referência (igreja, capela, nicho ou estátua) à entrada da povoação, como que em jeito de defesa e de proteção...
* Roque nasceu em Montpellier (sul de França), nos séculos XIII-XIV, filho de uma família abastada, ficou órfão muito novo e foi educado por um tio e estudou medicina. Ao atingiu a maioridade distribuiu os bens pelos pobres e partiu em peregrinação a Roma. Pelo caminho foi-se confrontando com várias cidades a viverem surtos de peste. Usando simplesmente um bisturi e uma cruz foi socorrendo as vítimas, que eram curadas. No regresso de Roma a Montpellier, São Roque foi ele próprio atacado pela peste, em Piacenza. Terá sobrevivido no isolamento que escolhera graças a um cão que lhe levava pão todos os dias. Curado milagrosamente, Roque regressou a Montpellier para doar o resto dos seus bens. Porém, com a cidade em guerra civil, foi confundido com um espião e preso. O governador da cidade, seu tio, não o reconheceu, nem ele se terá identificado. Roque permaneceu em esquecimento, preso durante anos, a viver a pão e água e em oração. Numa tentativa de confirmar se ele estava morto, o carcereiro, que era coxo, tocou-lhe com a perna menor e ficou curado. Identificado o morto perceberam que era Roque pelo sinal de uma cruz que tinha no peito desde a nascença. São Roque é invocado contra as pestes e epidemias, sobretudo na proteção do gado contra doenças contagiosas. É geralmente representado com uma ferida na perna, com um cão aos pés e com um bastão e uma vieira típica dos peregrinos...
Estes dois protetores/defensores/intercessores –
cristãos com dez séculos de diferença e originários da mesma região francesa –
contra as doenças epidémicas não foram tão noticiados como seria previsível
nesta vaga pandémica. Será que já não precisamos deles ou que eles foram invocados
em fases menos ‘científicas’ da humanidade e até do cristianismo? Será que nos
envergonhamos dos nossos heróis e santos…cristãos?
Voltaremos ao tema para apresentarmos outras figuras
– santos ou não – que dedicaram a sua vida em maré de epidemias, de fome e de
guerra…ontem como hoje.
António Sílvio Couto
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