É este
o tema da 27.ª ‘semana da vida’, que decorre, em Portugal, de 10 a 17 de maio.
Certamente
que temos por substrato a vivência mais recente da pandemia e que o ‘dia
internacional da família’ (15 de maio), aliado à celebração aniversaria das
‘aparições’ em Fátima (dia 13), fazem desta semana algo de grande intensidade,
simplicidade e humildade.
Da
mensagem apresentada no guião para a ‘semana da vida 2020’ da Comissão
Episcopal do Laicado e Família – Departamento nacional da pastoral familiar,
respigamos alguns aspetos, aos quais acrescentamos algumas outras
considerações.
«Reconhecer e aceitar a própria fragilidade e
cuidar das fragilidades em que ela se manifesta torna a pessoa mais humana, é
condição indispensável de humanização pessoal» - diz-se na abertura daquele
guião.
Idêntica
atitude se deve ter para com os outros, na medida em que «conhecer
e aceitar a fragilidade do outro, suportar, acolher e perdoar as suas
consequências e cuidar das fragilidades em que ela se manifesta, ajuda o outro
a ser mais humano e humaniza as relações, que se tornam fonte de humanização». Nas indicações da CELF é salientado que
esta sensibilidade «é particularmente
relevante para a vida das famílias».
Por seu turno, «cuidar dos mais frágeis humaniza-os, humaniza aquele que cuida e humaniza a sociedade.
A qualidade humana de uma sociedade avalia-se na qualidade dos dinamismos de solicitude e estratégias de cuidado dos seus membros mais frágeis». Efetivamente, considera a CELF que «só é verdadeiramente humana uma sociedade compassiva, capaz de promover a justiça social e os mecanismos da solidariedade que a reequilibrem quando as consequências da fragilidade humana partilhada por todos se abatem sobre alguns».
Por seu turno, «cuidar dos mais frágeis humaniza-os, humaniza aquele que cuida e humaniza a sociedade.
A qualidade humana de uma sociedade avalia-se na qualidade dos dinamismos de solicitude e estratégias de cuidado dos seus membros mais frágeis». Efetivamente, considera a CELF que «só é verdadeiramente humana uma sociedade compassiva, capaz de promover a justiça social e os mecanismos da solidariedade que a reequilibrem quando as consequências da fragilidade humana partilhada por todos se abatem sobre alguns».
À luz
destas observações, poderemos perguntar: temos aprendido a ser mais humanos
porque mais sensíveis às fragilidades pessoais e dos outros? Não teremos andado
mais a camuflar, maquilhar ou iludir as nossas fragilidades, desviando as
atenções alheias para os nossos disfarces e travessuras quase infantis? Certo
pietismo – mesmo religioso com verniz cristão – não enferma de alguma
imaturidade, de suficiente negligência e mesmo de razoável mentira? As famílias
serão, de facto, escolas de humanismo e cordialidade ou mais antros de maledicência
e de chacota dos defeitos alheios?
Aquele
bacoco slogan – ‘vai ficar tudo bem’ – é bastante revelador da confusão em que temos
andado a viver e em que parece que pretendemos ludibriar os outros…incautos
como nós!
Como
orientações para esta 27.ª semana da vida, o Departamento nacional da pastoral
familiar sugere, em conexão com a vivência da Igreja católica quanto ao
sofrimento, as seguintes diretrizes a cultivar e a propor: «uma saudável espiritualidade
do sofrimento; uma nova e transversal pastoral da fragilidade e do cuidado; a
promoção das condições para uma competente participação evangélica e
evangelizadora nos debates em curso na cultura e na sociedade contemporâneas: o
debate antropológico sobre a fragilidade humana, o debate ético sobre a vulnerabilidade
e o cuidado, os debates nos ‘fora’ de definição das consequentes opções
político-económico-sociais».
Não
teremos andado a tentar dourar o sofrimento com pinceladas de autodomínio e
salamaleques de religiões orientais? Teremos sabido apresentar Cristo como
Aquele que não disfarçou, mas assumiu a sua fragilidade sem medo nem
adiamentos? Depois de uma tal ataraxia estoica – com tantas influências nas
resignações católicas – conseguiremos ainda dar sentido ao sofrimento/dor
cristão? Não faltará à formação espiritual de muitos dos nossos praticantes –
mesmo na eucaristia – uma salutar vivência dos sacrifícios, dores e privações
tal como os vivenciaram os pastorinhos de Fátima?
De
referir que a ‘semana da vida’, celebrada na terceira semana de maio, foi
instituída, em Portugal, na sequência do ‘ano internacional da família’, em
1994, dando ainda cumprimento a um desejo expresso pelo Papa João Paulo II no
encerramento do sínodo da Europa, em 1991, e corroborado pela encíclica
‘Evangelho da vida’ (n.º 85) de 1995.
Mais do
que viver sob o regime de pandemia, em medo e temor, importa viver a vida na
sua fragilidade…
António Sílvio Couto
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