Desgraçadamente vivemos num tempo onde se diz que
temos liberdade, mas não respeitamos a dita no trato com os outros; onde uns
tantos se acham donos da verdade (a sua) e anatematizam a opinião alheia; onde
uns tais setores sociais se incluem numa bolha, conjeturando em preconceito
contra quem não diz o que eles falam…mesmo sem o assumirem que pensam.
- Uma advertência de princípio: não tenho, nunca
tive nem espero ter algum desaguisado com ciganos. Não os obstaculizo nem os
patrocino e tão pouco os considero de menor ‘qualidade’ social, cultural ou
mesmo económica. Das poucas vezes que lidei com eles tentei tratá-los o mais
possível nos direitos e deveres, mesmo que eles não cultivem estes e enfatizem
(ostensivamente) aqueles…
- Uma segunda nota de esclarecimento: não aprecio
minimamente a esperteza de uma boa parte dos ciganos, quando tentam usufruir de
todas regalias possíveis e imaginárias para andarem a enganar o fisco, a
segurança social, os serviços de saúde, as entidades autárquicas nem as
associações de caridade/solidariedade católicas ou não só.
- Terceira salvaguarda: custa-me ver a ostentação,
por vezes, a roçar algum escândalo – o termo deveria ser ‘pornográfico’ – com
que certos grupos de ciganos se exibem com ouros e lantejoulas, brincos e
relógios, anéis e bijuterias… numa prosápia de ‘novos-ricos’ – onde um tal
manipulador da bola se tornou o expoente máximo de um tal ridículo e da
inconsequência fiscal – deambulando inter-pars ou sugestionando
incautos…bimbos.
- Quarta observação: em maré de crise surgem uns
tantos profetas da desgraça que tentam vislumbrar culpados por entre as
sombras, mesmo a própria. O extremismo nem sempre é bom conselheiro, criando,
na maior parte dos casos, fantasmas, alguns deles míticos e tantos outros
dispensáveis.
= Este tema dos ciganos tem algo de complexo, tanto
na sua origem, história e desenvolvimento, como no modo como que eles são
vistos, entendidos e tratados. Segundo dados, os ciganos são a maior minoria da
Europa com cerca de onze milhões de pessoas…e, em Portugal, haverá cerca de
trinta e sete mil – 0,5% da população – espalhados por várias regiões do país.
Na sua maioria trabalham, embora se possa tratar de um trabalho informal, sem
contrato nem salário. Dizem que metade dos ciganos sobrevive com o rendimento
social de inserção. Uma boa parte dos ciganos portugueses têm baixo nível de
escolaridade (muitos não sabem ler nem escrever ou têm o ensino básico ou
primeiro ciclo incompleto) e casam cedo.
= A ‘bolha’ a que nos referimos no título deste
texto tanto vale para os ciganos – na medida em que se consideram alguém à
parte com as suas regras, comportamentos e (quase) leis específicas – como para
quantos deles se dizem defensores ou detratores, pois se pretendem imiscuir
numa questão que é mais do que meramente social, sendo antes do nível cultural.
Por isso, criar lutas contra ou a favor não faz diluir o problema antes o
acirra e/ou complica.
Pelas caraterísticas apresentadas, o povo cigano
precisa de ser respeitado, mas também não pode querer usufruir de benesses para
as quais não colaborou, antes só se faz beneficiário e não contribuinte, desde
os encargos de segurança até aos proventos do trabalho.
Por outro lado, o preconceito com que muitas vezes
os ciganos são julgados podem não ser tão justos quanto seria aceitável, dado
que, sentindo-se acossados, têm tendência a fecharem-se e, possivelmente, de
forma gregária a atacarem. Não será pela hostilidade que se fará diálogo, mas
também não será pela esperteza pouco inteligente, que se criarão pontes, antes
surgirão muros, senão físicos ao menos psicológicos… = Não chega (!) dizer mal nem
encurralar os ciganos, é preciso fazê-los participar na vida cívica de todo o
país, dando-lhes condições para que sejam cidadãos de participação inteira. Não
interessa criar blocos (!) de defesa, quando se poderá estar a esconder pessoas
sem cultura cívica mínima e suficiente…tanto ao nível pessoal como de grupo. A
quem interessa fazer-de-conta que tudo corre bem, quando há problemas com a
autoridade, com a justiça, com a vizinhança e mesmo com quem possa contrariar
os ciganos. Eles têm de saber estar em sociedade, respeitando e sendo
respeitados nos direitos e nos deveres…seus e alheios!
António Sílvio Couto
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