À luz daquilo que aconteceu na manifestação do ‘1.º
de maio’ da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) poderemos
questionar tantas outras iniciativas de caráter público, seja qual for o
promotor ou os participantes. Isto é, o modo de disposição no terreno dos
presentes poderá ditar que algumas propostas com presença de pessoas possam ter
idêntica configuração: colocadas em filas, com distanciamento considerado de
segurança – dizem que com dois metros de separação – e com espaço ainda entre
as filas…até à ocupação total do terreno.
Perguntado à ministra da saúde se, deste modo,
poderão acontecer as celebrações religiosas do dia 13 de maio, em Fátima, ela
não descartou a possibilidade, senão na prática, ao menos teórica, dizendo: ‘é
uma possibilidade… desde que sejam respeitadas as regras sanitárias’!
= Efetivamente a manifestação do ‘1.º de maio’ da
CGTP, em Lisboa, apresentou um role de atropelos à lei em estado de emergência:
pessoas acotoveladas umas às outras, nos passeios e em muitas das imagens
televisionadas; pessoas procedentes de fora do concelho lisboeta (viram-se
autocarros de várias localidades da ‘margem sul’), quando era proibido sair do
concelho de residência; a presença de elementos maiores de setenta anos, quando
são considerados, genericamente, em idade de risco; figuras sem máscara a dar
ordens ao telemóvel, quando esta já era obrigatória na presença de mais pessoas
em volta…
As filas armadas no terreno não são novidade, pois
nos desfiles já é costume irem daquele modo, só que os cartazes colocados
estrategicamente encobrem mesmo a ausência de pessoas. Ali não era possível
disfarçar. Com efeito, um oficial da polícia deixou escapar esta frase: ‘aquilo
é uma máquina bem oleada’… Sim, só que desta vez se tornaram mais evidentes as
lacunas, noutros anos ofuscadas…
= Tendo em conta os ardis da CGTP não será oportuno
intentar que as celebrações do ‘dia 13 de maio’ possam realizarem-se, este ano,
ainda em Fátima? A organização não deveria reconsiderar a sua posição, mesmo
que trazendo à liça as razões de exceção aduzidas para a CGTP? Ou será que
teremos – como é costume na arte de comunicação da governança – dentro de dias uma
portaria a condicionar o decreto-lei que rege o ‘estado de calamidade’? Não
terá chegado a hora de nos (os católicos, cidadãos, eleitores e contribuintes)
colocarmos mais em confronto do que estarmos tão submissos ao poder, que,
afinal, sabe proteger quem o vota, o elege e o suporta? Teremos ainda cristãos
que não se atemorizam e defendem a sua fé, mesmo que pareçam menos cordatos do
que os responsáveis episcopais? Até onde irá a nossa falsa resignação,
acomodação ou cobardia, quando era preciso ser destemido, audaz e lutador? Não
foi, por sinal Fátima quem desmentiu o político que prognosticou o fim da fé no
espaço de duas gerações em Portugal? Se fosse hoje – e os indícios estão à
vista – a ‘profecia’ não seria facilmente cumprida, tal o amorfismo
generalizado em que vivemos….a começar pelas cabeças? A máquina católica –
dioceses, paróquias, movimentos, associações, fiéis (bispos, padres,
religiosos/as e leigos) – não terá capacidade de se mobilizar ainda para as
celebrações do ‘dia 13’? Mesmo que os ‘peregrinos a pé’ tenham sido
desmotivados, não há muitos outros recursos que poderiam dar uma resposta
superior à máquina sindicalista?
= Não há qualquer interesse em colocar-nos em
confronto ou de entrarmos em comparações, mas não podemos permitir que sejamos
tratados como cidadãos de segunda ou de terceira perante as regalias de uns
tantos bem-pensantes, maldizentes ou provocadores. Como cristãos/católicos
somos e devemos ser cidadãos que se regem pelas leis do estado, mas não podemos
permitir que este seja o primeiro a criar estratos sociais, que foram abolidos
e nunca deveriam ter existido. Confesso: não gosto de ser privilegiado por ser
cristão (católico ou padre), mas também não aceito ser depreciado ou
discriminado por sê-lo…
Basta de conluios entre a ‘espada e o altar’, onde
este parece mais servir aquele do que em ser parceiro com igualdade de
direitos, de obrigações e respeitando-se, mutuamente, nas suas funções. Foi
assim que calaram tantas vozes proféticas, não pelo combate, mas pela adulação!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário