A nova onda ecologista – em muitos casos sob a
camuflada influência ‘new age’ – tem vindo a exaltar, defender e promover algo
que pode ser considerado uma espécie de contrassenso: fazem dos animais umas
das vertentes mais difundidas, mas tornam essa propaganda sem significado, pois
tiram os animais do seu habitat, colocando-os em casas e prendem-nos como se
fossem coisas ou objetos para os humanos.
Com que facilidade vemos os cãezinhos – termo mais
do que diminutivo ou pejorativo – serem condicionados pelas trelas dos seus
‘donos’. Ora esta palavra, ‘dono’, contradiz todo o significado de defesa dos
animais e até mesmo da sua autodeterminação. Com efeito, fazer de um animal –
seja lá qual for ou tenha o porte que tiver – alguém de quem me aproprio para
meu bel-prazer ou mesmo para ser ‘bicho de companhia’, é distorcer a mais
ínfima consideração pelos animais.
Ainda recentemente, por ocasião dum acontecimento
político, víamos dois cães de razoável complexão fazerem parte do cenário, mas
estavam aprisionados pelos seus donos ou tratadores. Será isto a dignificação
dos animais? Não será, antes, manipulação das ideias pelo contraditório do
comportamento? Teremos todos de ficar calados, quando uns se dizem tão defensores
dos animais, mas que os maltratam com benesses pouco dignas da condição humana?
Será justo e correto – embora possa ser aceite/tolerado – obrigar animais do
campo a estarem presos em casas e gaiolas, mesmo que douradas e limpas? Não se
estará a usar os animais como substitutos afetivos, quando os tratadores estão
a viver em disfunção emocional?
Com o passar do tempo e a campanha insistente, os
animais como que foram banidos da maior parte dos espetáculos dos circos e de divertimentos
afins. No entanto, não impera a mesma lógica para com quem usa (ou abusa) dos
animais de companhias, em tempos ditos ‘domésticos’, condicionando-os, muitas
vezes, aos caprichos dos (pretensos) donos, aprisionando-os em andares e casas
nem sempre adequadas para a convivência entre humanos e animais, sem as mínimas
vivências normais da naturalidade em que deviam viver…
= Mesmo que de uma forma um tanto difusa, o Papa
Francisco, na encíclica ‘Laudato si’ sobre o cuidado da casa comum, de maio de
2015, apresenta alguns aspetos a ter em consideração nesta questão do
relacionamento entre ser humano e seres sensíveis não-humanos. «Ao mesmo tempo que podemos fazer
um uso responsável das coisas, somos chamados a reconhecer que os outros seres
vivos têm um valor próprio diante de Deus e, «pelo simples facto de existirem,
eles O bendizem e Lhe dão glória», porque «o Senhor Se alegra em suas obras»
(Sl 104/103, 31). Precisamente pela sua dignidade única e por ser dotado de
inteligência, o ser humano é chamado a respeitar a criação com as suas leis internas,
já que «o Senhor fundou a terra com sabedoria» (Pr 3, 19). Hoje, a Igreja não
diz, de forma simplicista, que as outras criaturas estão totalmente
subordinadas ao bem do ser humano, como se não tivessem um valor em si mesmas e
fosse possível dispor delas à nossa vontade; mas ensina – como fizeram os
bispos da Alemanha – que, nas outras criaturas, «se poderia falar da prioridade
do ser sobre o ser úteis».
O Catecismo põe em questão, de forma muito directa e insistente, um antropocentrismo desordenado: «Cada criatura possui a sua bondade e perfeição próprias. (...) As diferentes criaturas, queridas pelo seu próprio ser, reflectem, cada qual a seu modo, uma centelha da sabedoria e da bondade infinitas de Deus. É por isso que o homem deve respeitar a bondade própria de cada criatura, para evitar o uso desordenado das coisas» (Laudato si, n.º 69).
O Catecismo põe em questão, de forma muito directa e insistente, um antropocentrismo desordenado: «Cada criatura possui a sua bondade e perfeição próprias. (...) As diferentes criaturas, queridas pelo seu próprio ser, reflectem, cada qual a seu modo, uma centelha da sabedoria e da bondade infinitas de Deus. É por isso que o homem deve respeitar a bondade própria de cada criatura, para evitar o uso desordenado das coisas» (Laudato si, n.º 69).
Vejamos, então, algumas repercussões deste tema tão
‘ecologista’ na ética/moral, sobretudo tendo em conta a reflexão
cristã/católica. Talvez falte uma razoável educação de valores, para que não se
gere confusão de prioridades, como tem sido recorrente nos tempos mais
recentes, onde se vem dando uma hominização dos animais à mistura com uma outra
animalização dos humanos. Certas forças contestatárias da cultura
judaico-cristã vão-se aproveitando da visibilidade lobista das suas posições
para irem criando esta onda de exaltação dos animais, deixando os humanos num
plano de complexa inferiorização…
Não podemos permitir que certas forças anarco-populistas se aproveitem da confusão e do descontentamento sociopolítico para se considerarem mentores de uma nova doutrina sem trela em governo…desumano!
António Sílvio Couto
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