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quarta-feira, 12 de junho de 2019

‘Ser professor’: profissão ou vocação?


Há dias ouvi uma observação de uma mãe sobre o futuro de sua filha ainda adolescente em que esta terá referido que nunca quereria ser professora… Diante desta referência de alguém ainda novo poder-se-á questionar se a profissão de professor/a estará em risco e com isso a possibilidade de aprender.

Pelo que temos visto, ouvido e lido esta área profissional dos professores/as está a passar por alguma convulsão e não são só os protestos em defesa das suas regalias ou direitos, mas também aquilo que poderá ser o futuro da educação no nosso país.

Atendendo à sublime importância dos professores na vida de qualquer cidadão considero urgente encetar um processo reflexivo sobre aquilo que se está a passar no presente, tentando acautelar o futuro.

Desde logo fique claro que esta arte de ser professor é bem mais importante do que pela forma como dela se fala ou mesmo pela consideração que se lhe possa atribuir.

Ao longo da minha vida de estudante – desde os 6 até aos 24 anos, acrescido posteriormente dos 33 aos 35 – tive dezenas de professores, nos vários graus de ensino e de estudo, mas muito poucos deixaram marca de referência. De alguns colhi a lição de aprender a estudar – procurando ter um método próprio, adequado e pessoal – mas outros não deixaram sequer resquícios de gosto pela matéria, como por exemplo na matemática, pois o professor sabia do assunto, mas não era capaz de ensinar nem de motivar a aprendizagem…uma boa parte conhecia os assuntos e conseguiu que aprendêssemos as matérias, mas tantos outros estudaram-nas, mas não sabiam como ensiná-las… De facto, não basta ter de prestar provas diante de quem se antecipou a aprofundar os assuntos, será sempre preciso ser cativado, positivamente, pela vocação de ensinar… seja qual for a idade do ensinado.  

= Dar aulas ou ensinar?

Ontem como hoje podemos encontrar quem ministra conhecimentos, mas nem sempre ensina a pensar. Há dias o professor premiado, este ano, com o ‘global teacher prize’ dizia que, na sala de aula, não podia ser só ele a pensar, também os alunos deviam estar a pensar ou, então, estariam todos a perder o tempo.

Diante desta declaração como que se torna essencial vermos se a escola é um lugar onde se aprende ou se, pelo contrário, por desmotivação, não se consegue criar condições entre todos os intervenientes para que o processo educativo se torne uma ferramenta cultural e não só um espaço de ocupação do tempo em sala de aula…com a posterior prestação de provas/conhecimentos.

Mesmo que forma simplista poderíamos distinguir entre ‘dar aulas’ e ‘ensinar’, na proporção entre ganhar a vida na escola como noutra profissão qualquer e a arte de fazer crescer os estudantes, tornando-os mais do que meramente alunos, isto é, ‘crianças a alimentar’…com novos conhecimentos.

Quem não terá já ouvido a frase: o acabar de um curso, com o possível grau de licenciatura, é a autorização para começar a estudar e não como etapa de chegar, pelo contrário, a uma nova fase de caminhada…com outros meios e recursos. 

= Questões de sobrevivência…no presente e para o futuro

Com o decréscimo da natalidade temos vindo a ver a diminuição da ‘matéria-prima’ dos professores: sem crianças não terão, naturalmente, emprego. Há casos em que são os próprios professores que não têm filhos, coartando eles mesmos a possibilidade de sobreviverem profissionalmente.

Embora se comecem a vislumbrar ténues sinais de recuperação – as creches estão sobrelotadas, enquanto os jardins-de-infância perdem gente – isso só será notado daqui a dez anos e aí talvez venha a faltar um leque de professores disponível para exercer a profissão condignamente. De facto, as escolhas para vir a ser professor/a é cada vez menor nas opções dos estudantes universitários… bastará dizer que menos de metade das vagas para os lugares de cursos ligados ao ensino foram preenchidas no concurso do ano passado.

Uma questão percorre este tema ligado à educação: os professores/as são-no por vocação ou servem disso para exercerem uma profissão? Pelo que temos visto e sentido em muitos dos professores/as parece que a segunda vertente pesa mais do que a primeira… Queira Deus que a menor quantidade apure a qualidade!     

 

António Sílvio Couto

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