Há dias ouvi uma observação de uma mãe sobre o
futuro de sua filha ainda adolescente em que esta terá referido que nunca
quereria ser professora… Diante desta referência de alguém ainda novo
poder-se-á questionar se a profissão de professor/a estará em risco e com isso
a possibilidade de aprender.
Pelo que temos visto, ouvido e lido esta área
profissional dos professores/as está a passar por alguma convulsão e não são só
os protestos em defesa das suas regalias ou direitos, mas também aquilo que
poderá ser o futuro da educação no nosso país.
Atendendo à sublime importância dos professores na
vida de qualquer cidadão considero urgente encetar um processo reflexivo sobre
aquilo que se está a passar no presente, tentando acautelar o futuro.
Desde logo fique claro que esta arte de ser
professor é bem mais importante do que pela forma como dela se fala ou mesmo
pela consideração que se lhe possa atribuir.
Ao longo da minha vida de estudante – desde os 6 até
aos 24 anos, acrescido posteriormente dos 33 aos 35 – tive dezenas de
professores, nos vários graus de ensino e de estudo, mas muito poucos deixaram
marca de referência. De alguns colhi a lição de aprender a estudar – procurando
ter um método próprio, adequado e pessoal – mas outros não deixaram sequer resquícios
de gosto pela matéria, como por exemplo na matemática, pois o professor sabia
do assunto, mas não era capaz de ensinar nem de motivar a aprendizagem…uma boa
parte conhecia os assuntos e conseguiu que aprendêssemos as matérias, mas
tantos outros estudaram-nas, mas não sabiam como ensiná-las… De facto, não
basta ter de prestar provas diante de quem se antecipou a aprofundar os
assuntos, será sempre preciso ser cativado, positivamente, pela vocação de
ensinar… seja qual for a idade do ensinado.
= Dar
aulas ou ensinar?
Ontem como hoje podemos encontrar quem ministra
conhecimentos, mas nem sempre ensina a pensar. Há dias o professor premiado,
este ano, com o ‘global teacher prize’ dizia que, na sala de aula, não podia
ser só ele a pensar, também os alunos deviam estar a pensar ou, então, estariam
todos a perder o tempo.
Diante desta declaração como que se torna essencial
vermos se a escola é um lugar onde se aprende ou se, pelo contrário, por
desmotivação, não se consegue criar condições entre todos os intervenientes
para que o processo educativo se torne uma ferramenta cultural e não só um
espaço de ocupação do tempo em sala de aula…com a posterior prestação de
provas/conhecimentos.
Mesmo que forma simplista poderíamos distinguir
entre ‘dar aulas’ e ‘ensinar’, na proporção entre ganhar a vida na escola como
noutra profissão qualquer e a arte de fazer crescer os estudantes, tornando-os
mais do que meramente alunos, isto é, ‘crianças a alimentar’…com novos
conhecimentos.
Quem não terá já ouvido a frase: o acabar de um
curso, com o possível grau de licenciatura, é a autorização para começar a
estudar e não como etapa de chegar, pelo contrário, a uma nova fase de
caminhada…com outros meios e recursos.
=
Questões de sobrevivência…no presente e para o futuro
Com o decréscimo da natalidade temos vindo a ver a
diminuição da ‘matéria-prima’ dos professores: sem crianças não terão,
naturalmente, emprego. Há casos em que são os próprios professores que não têm
filhos, coartando eles mesmos a possibilidade de sobreviverem
profissionalmente.
Embora se comecem a vislumbrar ténues sinais de
recuperação – as creches estão sobrelotadas, enquanto os jardins-de-infância
perdem gente – isso só será notado daqui a dez anos e aí talvez venha a faltar
um leque de professores disponível para exercer a profissão condignamente. De
facto, as escolhas para vir a ser professor/a é cada vez menor nas opções dos
estudantes universitários… bastará dizer que menos de metade das vagas para os
lugares de cursos ligados ao ensino foram preenchidas no concurso do ano
passado.
Uma questão percorre este tema ligado à educação: os
professores/as são-no por vocação ou servem disso para exercerem uma profissão?
Pelo que temos visto e sentido em muitos dos professores/as parece que a
segunda vertente pesa mais do que a primeira… Queira Deus que a menor
quantidade apure a qualidade!
António Sílvio Couto
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