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sábado, 22 de junho de 2019

A missa começa no final eucaristia?


Tendo celebrado por estes dias a solenidade do Corpo de Deus – em que uma das componentes é essa de ir em procissão para a rua com Jesus presente na hóstia consagrada – ouso deixar um breve reflexão sobre esta temática – a missa começa quando acaba a eucaristia?

Entendamos por ‘eucaristia’ todo o ato celebrativo com as duas partes: liturgia da Palavra e liturgia eucarística, bem como tentemos entender a palavra ‘missa’ com que tantas vezes designamos a própria eucaristia…ao menos no sentido missionário.  

«Recebendo o Pão da vida, os discípulos de Cristo preparam-se para enfrentar, com a força do Ressuscitado e do seu Espírito, as obrigações que os esperam na sua vida ordinária. Com efeito, para o fiel que compreendeu o sentido daquilo que realizou, a Celebração Eucarística não pode exaurir-se no interior do templo. Como as primeiras testemunhas da ressurreição, também os cristãos, convocados cada domingo para viver e confessar a presença do Ressuscitado, são chamados, na sua vida quotidiana, a tornarem-se evangelizadores e testemunhas. A oração depois-da-comunhão e o rito de conclusão – a bênção e a despedida – hão de ser, sob este aspeto, melhor entendidos e valorizados, para que todos os participantes na Eucaristia sintam mais profundamente a responsabilidade que daí lhes advém. Terminada a assembleia, o discípulo de Cristo volta ao seu ambiente quotidiano, com o compromisso de fazer, de toda a sua vida, um dom, um sacrifício espiritual agradável a Deus (cf. Rom 12,1). Ele sente-se devedor para com os irmãos daquilo que recebeu na celebração, tal como sucedeu com os discípulos de Emaús que, depois de terem reconhecido Cristo ressuscitado na «fração do pão» (cf. Lc 24,30-32), sentiram a exigência de ir imediatamente partilhar com seus irmãos a alegria de terem encontrado o Senhor (cf. Lc 24,33-35)» – João Paulo II, Carta apostólica ‘Dies Domini’ sobre a santificação do domingo, n.º 45.
Efetivamente a palavra ‘missa’ vem da expressão de envio, no final da celebração: ‘Ite, missa est’, isto é, ‘ide, sois enviados’. Com efeito, aqui ‘missa’ vem do verbo latino ‘mitto’ que significa enviar, e, na aceção da expressão latina – ‘ite, missa est’, quer dizer alguém que é enviado com uma missão… No caso de quem participou na eucaristia com a missão de fazer Jesus Ressuscitado acontecer no mundo, onde estão os cristãos.
Eis como o Papa Bento XVI, na Exortação apostólica pós-sinodal ‘Sacramentum caritatis’ sobre a a eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja, explica esta expressão, dando-lhe conteúdo de missão: «Depois da bênção, o diácono ou o sacerdote despede o povo com as palavras «Ide em paz e o Senhor vos acompanhe», tradução aproximada da fórmula latina: Ite, missa est. Nesta saudação, podemos identificar a relação entre a Missa celebrada e a missão cristã no mundo. Na antiguidade, o termo «missa» significava simplesmente «despedida»; mas, no uso cristão, o mesmo foi ganhando um sentido cada vez mais profundo, tendo o termo «despedir» evoluído para «expedir em missão». Deste modo, a referida saudação exprime sinteticamente a natureza missionária da Igreja; seria bom ajudar o povo de Deus a aprofundar esta dimensão constitutiva da vida eclesial, tirando inspiração da liturgia. Nesta perspetiva, pode ser útil dispor de textos, devidamente aprovados, para a oração sobre o povo e a bênção final que explicitem tal ligação» (n.º 51).

Será que é com espírito de missão que saímos da missa?

A missa faz-nos ir em atitude de missão para o mundo?

Não será, por vezes, demasiado molhe a nossa saída em missão da missa em que estivemos?

De verdade, força de missão, precisa-se!


António Sílvio Couto

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