No final da ordenação episcopal, no último dia de
março, no Porto, D. Américo Aguiar proclamou-se construtor de pontes… isso já
desde o tempo da juventude (disse ele, na vertente política), acentuando para o
futuro que deseja ser ‘pontífice’ (fazedor de pontes) entre as várias regiões
socioculturais do país (Porto-Lisboa) e até na nomenclatura desportiva de
rivalidades…
Para quem conheça minimamente o recém-ordenado bispo
saberá que é pessoa afável – mesmo na intrincada mescla da comunicação social –
e com um sentido de presença da Igreja muito para além das despesas comuns e
factuais. Embora não tenha uma idade onde se apensa bastante experiência de
vida pastoral, não deixará, certamente, de ser isso mesmo que anunciou tão solenemente:
criador de pontes nos campos que enunciou e em tantos outros em que Deus o
colocará como presença, instrumento e intérprete.
* Ser
pontífice
Esta nota de criador de pontes costuma ser aduzida
ao Papa, a quem comummente se lhe chama ‘sumo pontífice’, elevando à categoria
de fazer pontes quem está no (dito) ligar cimeiro da Igreja católica. Embora já
usado, na linguagem do mundo, tornou-se no século V da era cristã como que um
título dado a bispos notáveis e passou a ser utilizado, especialmente, pelos
Papas, depois da rutura entre católicos (Roma) e ortodoxos (Constantinopla) no
século IX.
No entanto, a função de fazer pontes sempre foi
considerada uma tarefa de grande utilidade humana e cultural, na medida em que
era difícil atravessar os rios e as pontes permitiam tal desejo de passar duma
para outra margem… Isso ainda é mais valorizado quando se veem a despontar
tantos muros entre povos e civilizações, entre culturas e nações…sem esquecer
as barreiras psicológicas que os muros arrastam na mentalidade hodierna.
Na linguagem e no comportamentos algo agressivos com
que nos temos de confrontar, pretender ser pontífice parece um bom programa de
vida, sobretudo para quem terá de estabelecer diálogo com situações onde as
boas intenções nem sempre favorecem quem delas se pretenda servidor…
*
Querer ser apontador
Esta outra nota adstrita ao ministério de um bispo –
de um padre ou de um leigo – poderá não ser tão desfasada da realidade do que
possa parecer, pois ser apontador merecerá ter algo para onde indicar e
apresentar meios para tal atingir. Inserido em meios variados, o termo
‘apontador’ poderá ajudar-nos a compreender a missão de alguém que aponta,
traça uma diretriz ou que ajuda a fazer caminho numa determinada direção. Ser
apontador poderá ainda apresentar ideias correlacionadas ou situações afins,
criando nessa função modos de resolver questões, por vezes, um tanto complexas,
mas que com ajuda se poderão ultrapassar.
Quem é que não deve ser apontador, na vida, das
soluções do Evangelho? Quem não desejará tornar-se apontador de metas e não
quedar-se pelas etapas? Quem não descobrirá mais incentivo para caminhar,
quando conseguir envolver outros nos projetos?
* Que
apontamento?
Ao longo da nossa vida já tomamos muitos
apontamentos, isto é, fomos recolhendo para nossa orientação, instrução e
aprendizagem muitos pensamentos, tantas frases e multíplices ideias de outros
que connosco tal partilharam, ensinaram ou conviveram. Há apontamentos
importantes e notas de rodapé. Há apontamentos que ficam para a vida e outros
que esquecemos na voragem dos dias. Há apontamentos quase sagrados porque nos
foram ministrados por mestres da sabedoria, da vida e da santidade.
Talvez nos falte o hábito de tomar notas – tirar
apontamentos – das coisas simples da vida, mas seria de grande utilidade
aprendermos uns com os outros na escola do dia-a-dia, onde o mais pequenos
sinal nos possa falar de Deus e os outros possam ser os nossos mestres na
interpretação dos mistérios divinos na vida.
Ao novo bispo desejamos que seja pontífice,
apontador e apontamento de Cristo em todo o momento…
António Sílvio Couto
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