Está
prestes a completar cem anos de existência, o jornal ‘Diário do Minho’, com
sede em Braga.
Para
além de se dizer, no estatuto de editorial, que é um jornal de ‘informação
geral, de expansão regional e de inspiração cristã’, apresenta-se como ‘a voz
dos sem voz’, não privilegiando ‘interesses particulares’ nem ninguém,
rejeitando os totalitarismos (de direita ou de esquerda), mas estando ‘ao
serviço de todo o homem e do homem todo’, construindo ‘uma sociedade cada vez
mais justa e mais fraterna’ e opondo-se, pelos seus princípios, a ‘tudo quanto
se opõe à vida humana’.
As
circunstâncias do seu surgimento, 1919, eram assaz conturbadas…tanto dentro
como fora das fronteiras. Em Portugal recuperava-se do assassínio de Sidónio
Pais, lutava-se contra a gripe pneumónica…que vitimou, nalgumas regiões, dez
por cento da população, num total de 60 mil do nosso país. Na esfera
internacional davam-se passos para a consolidação da paz, no final da primeira
guerra mundial, com o ‘tratado de Versallhes’. Ao nível da Igreja católica era
Papa, Bento XV, que, em novembro desse ano, escreveu, entre outros documentos,
a carta apostólica ‘Maximum illud’ sobre a atividade desenvolvida pelos
missionários no mundo. Ao tempo era arcebispo de Braga, D. Manuel Vieira de
Matos, considerado um grande resistente à lei da separação na primeira
república…e introdutor no escutismo no nosso país.
Feito
este enquadramento histórico-social-eclesial talvez possa ser útil reporta-nos
a algumas das linhas daquele diário de inspiração cristã.
* Rejeitando interesses
particulares e totalitários
Este
jornal sobreviveu a três repúblicas – a primeira em cujo contexto surgiu; a
segunda sob a tutela salazarista; a terceira – pós revolucionária…em vias da
pretensa democracia. Uma obra não se mede pela popularidade conseguida, mas
pela atitude de caminhar rumo à meta, fazendo das etapas, isso mesmo, degraus
que fazem crescer e não os meros lucros a que se deixa enfeudar sem saída…
* Em defesa da vida
Neste
aspeto o jornal define, no seu estatuto de editorial, quais são os campos em
que se compromete a lutar pela vida: na sua expressão mais simples e direta – ‘homicídio,
genocídio, pena de morte, aborto, eutanásia e suicídio voluntário’; naquilo que
pode ser entendido como ofensa indireta – ‘tudo o que viola a integridade da
pessoa humana, como as mutilações, os tormentos corporais e mentais e as
tentativas para violentar as próprias consciências’; os aspetos atinentes à
dignidade humana – ‘tudo quanto ofende a dignidade da pessoa, como as condições
de vida infra-humanas, as prisões arbitrárias, as deportações, a escravidão, a
prostituição, o tráfico de mulheres e jovens’; e ainda as vertentes
sócio-laborais – ‘as condições degradantes de trabalho, em que os operários são
tratados como meros instrumentos de lucro e não como pessoas livres e
responsáveis’.
De
quantas formas este diário tem denunciado, anunciado e proposto este valor
inquestionável da vida humana. Em certos momentos – sobretudo na fase dita da
democracia – houve tensões, provocações e momentos em que os valores cristãos
foram atacados, ofendidos e menosprezados, mas o bom senso e a correção
voltaram a fazer caminho… Uns exemplares a menos vendidos não valem a subversão
do essencial!
* Ser a voz dos sem voz
Parece-me
que este aspeto continua a ser um dos mais relevantes da linha editorial, Com
efeito, quando tantos se querem fazer ouvir, pelas mais díspares (nalguns casos
disparatadas) formas, ser a ‘voz dos sem voz’ é (e continua a ser) um objetivo
cada vez mais audaz, pertinente e urgente.
Nem
todas as notícias dadas são as mais importantes, algumas ignoradas deviam ter
espaço, comentário e análise. Quando tantos se acham no direito de fazerem
parte das notícias, será essencial que os profissionais não se demitam nem usem
de menos boa conduta, só porque uns tantos se colocam em bicos de pés sem outra
intenção de serem figurantes de um episódio de classe inferior…até nas coisas
da Igreja.
‘Os sem
voz’ precisam de ser atendidos, acolhidos e apresentados na chamada à primeira
página, pois eles são o reflexo dos anónimos, dos votantes, dos cidadãos, dos
crentes…com dignidade de filhos de Deus!
António Sílvio Couto
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