E, se
repente, se começassem a escarafunchar as relações familiares entre os membros
do governo? Os tentáculos de sangue e os laços sociais de parentesco são
muitos, diversos e quase impressionantes…
Mas será
tudo isto (e o resto) novidade? Bastará consultar o organigrama da maioria das
autarquias – grandes ou pequenas, seja qual for o partido reinante ou tenha o
tempo de governança que tiver – para percebermos esta tendência a roçar o
nepotismo elevado à potência mais sobrenatural!
Não será
para atingir um lugarzito de razoável emprego que muitos (velhos ou novos) se
inscrevem nos partidos políticos…que podem aceder ao poder com maior ou menor
dificuldade? Não será para proteger os seus que alguns se sacrificam em estarem
na vida da política pública? Não será para conquistar protagonismo que uns
tantos passam pelo tirocínio de colar cartazes, de figurar em comícios e até
serem fiéis ao chefe, seja o geral, o particular ou mesmo o disfarçado de
amigo/companheiro/camarada?
É diante
deste puzzle de cumplicidades que foram à procura de nomes comuns no atual
governo. Assim encontraram muitos apelidos iguais em funções variadas, não
disfarçando que um grupo familiar – há quem lhe chame como se fosse ‘uma ceia
de natal’ – fiel ao chefe tem tudo e todos na mão, isto é, na obediência às
orientações congeminadas, nos antros da reunião de parceiros do mesmo bolo.
Costa, Vieira, Marques, Santos, Cabrita, Martins, etc… são apelidos que
percorrem vários nomes, num crescendo nas várias remodelações – uma em 2016,
quatro em 2017, duas em 2018 e uma em 2019 – fazendo inclusão de mais e mais
afetos à mesma linha de rumo e aos vínculos familiares entre si… Por isso,
poder-se-á considerar que, atendendo à época pré-pascal, vão sobrevivendo aos
conluios em maré-de-páscoa, que, se bem souberem as passagens bíblicas, por lá
se incluem traidores, trânsfugas e acobardados…
= Se
olharmos a outros contextos – de governos anteriores e a situações autárquicas conhecidas
– quase que somos tentados a reconhecer que nada há de novo sob o ritmo da
terra. Outros fizeram idêntico percurso e as coisas foram pagas por todos com o
recurso a maus resultados. O pior é que ainda não foi desfeito o novelo de
confusões não muito distantes e já estamos a dar os mesmos passos para
recebermos os resultados outrora conseguidos…De facto, ainda não aprendemos as
lições, algumas delas pagas a peso de grande austeridade – nunca vencida, mas
tão-somente dita como aliviada – e com restrições de enorme crise e de contenção
de regalias. Mesmo que nos queiram persuadir, que algo vai continuar na senda
do (dito) sucesso, vivemos numa bolha artificial, que bastará um pequeno
arremedo de instabilidade social, económico-financeira ou mesmo de segurança e
tudo desabará como castelo de ilusões…
De
verdade faltam-nos critérios de conduta alicerçados nos valores de cidadania,
de responsabilidade e na cultura da harmonia entre direitos e deveres. Não será
com facilitismos de créditos para serviços secundários que iremos recuperar a
credenciação do país, das famílias e das organizações socioeconómicas. Não será
com a polarização de benesses para uma parte da população – os cerca de
setecentos mil funcionários públicos são pouco mais de 15% dos que estão em
vida ativa – sobre os que contribuem com o seu trabalho, os impostos e a
criação de riqueza, que iremos ser um país de sucesso, de produtividade e de
futuro. Torna-se urgente criar igualdade de direitos e de deveres para todos,
particularmente para com os que mais contribuem para que o país não se afunde,
nem se faça do miserabilismo uma boa fonte de rendimentos.
= Agora
que quase tudo foi revertido em favor das reivindicações como iremos prosseguir
na senda do progresso, se os abutres já sobrevoam sobre os cadáveres?
Desculpando
a observação: ninguém é como é, sem razões. Isso mesmo nos faz tentar
compreender a Nação que somos: de hospitaleiros e asseados parece que entramos
na senda do terceiro-mundismo mais primário, onde as famílias se prolongam no
poder, como se tivesse sido restaurada uma tal monarquia republicana.
Portugal
merece melhor. O nosso futuro não pode esperar por lições que já deviam ter
sido aprendidas. Basta deste incipiente nepotismo…à portuguesa!
António Sílvio Couto
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