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segunda-feira, 29 de abril de 2019

Ódios sub-reptícios do 25A


Por ocasião das comemorações dos quarenta e cinco anos do ’25 de abril’ escutamos – como nunca anteriormente – vozes a clamarem de resquícios de ódio que perpassaram esses longínquos dias e outros momentos de convulsão…nas hostes militares e não só.

Fuzilamentos e ajustes de contas entre quem fez a revolução e outros oponentes, à mistura com um certo branqueamento que nos foi passado de que na mudança de regime político não tinha havido mortos registados, quando, afinal, houve uma mão cheia de vítimas (quatro civis e um funcionário da polícia política), só mais tarde reconhecidas e lembradas…

Decorridas quatro décadas e meia, ainda foi possível captar nas imagens da (dita) manifestação popular, vozes reclamando da vida de outros que não têm nada a ver com o assunto dos fantasmas com que tantos/as se enfrentam na sua memória. Pretender encomendar a um santo a morte de um chefe de estado estrangeiro não deixa de ser além de esquisito um sinal mais do que evidente de que há pessoas que se reclamam ‘democratas’, mas isso só funciona em circuito fechado para os que são da sua cor, ideologia ou simpatia do lado da barricada. Ainda há gente que fareja as atrocidades de outras paragens e parece querer implantar por cá laivos desses regimes facínoras e praticantes de carnificinas sobre quem não pensa ou não concorda com a sua mentalidade, visão do mundo ou entendimento da pessoa humana.

Mais uma vez poderemos aduzir a estes casos o nosso adágio popular: se queres conhecer o vilão, coloca-lhe o pau (do mando) na mão! Isto é, certas pessoas quando chegam a postos de importância – o tal lugar do mando, seja a instância que for – revelam quem são, tratando os outros da forma que não deixa dúvidas de que por ali há tiques de ditadura, mesmo que sob a capa de ‘democracia’…mal-amanhada. 

= Para além da discriminação em não se viver numa das duas áreas metropolitanas – Lisboa, que vai de Setúbal a Vila Franca de Xira, passando por Cascais, Sintra e Amadora; e do Porto, que abrange concelhos desde a Póvoa de Varzim até Santa Maria da Feira, passando por Gondomar, Valongo e Santo Tirso – temos ainda de suportar alguma petulância de certas figuras que consideram os que não vivem nestes espaços como portugueses de segunda categoria. A AML tem quase três milhões de habitantes, a AMP com quase dois milhões de habitantes, perfazem, deste modo, mais de metade da população do país.

Se a isto acrescentarmos a concentração da maior parte das estruturas, infraestruturas e investimentos, poderemos considerar que bastará pacificar os vivem nestas áreas metropolitanas para manter o país em sossego e numa certa paz social. Veja-se o que aconteceu há duas semanas na ‘crise dos combustíveis’, privilegiando no reabastecimento estas regiões para que não houvesse alarme social… Os ganhos e custos destas áreas metropolitanas percebem nas campanhas publicitárias/políticas, nas apostas de reivindicação e mesmo no nítido favorecimento dos salários para aqueles que ali vivem.

O monstro está a engordar e parece que não há interesse algum em fazê-lo entrar em dieta, pois daí vêm os votos nas eleições e até os cartazes privilegiam quem por aqui mora, dado que podem decidir quem possa continuar a beneficiá-los. As franjas da capital – o Oeste ou a Estremadura, tendo em conta ainda o Alentejo – e do grande Porto – como os distritos de Braga e de Aveiro – continuam à espera que caiam as migalhas das mesas dos ricos, que, embora não produzindo, gerem os impostos que recolhem de espaços bem mais trabalhadores e produtores de riqueza do que as ditas áreas metropolitanas... 

= Neste momento histórico e cultural nota-se que falta horizontes a tantos/as que exercem o poder, nas suas várias formas: político, religioso, de comunicação social, desportivo e mesmo económico. Na maior parte dos casos quem decide olha para o seu umbigo e para a forma de capitalizar – mesmo que alguns se digam combatentes do capitalismo – em influência as decisões que tomam ou as posições em que se colocam… No entanto, esta vertente de ódio com que vemos certas situações serem geradas e geridas podem trazer dissabores ao país em geral e aos menosprezados ou até desprezados em particular.

Até quando haverá um leque de iluminados que se acha dono do ’25 de abril’? Até quando teremos de suportar incompetentes arvorados em chefes? São fracos para serem mandados, quanto mais mandarem!

 

António Sílvio Couto

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