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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

‘Ano Novo’: festa pagã ou cristã?


Com o afastamento progressivo dos valores cristãos – fraternidade, partilha, solidariedade e igualdade (a ordem não está trocada) – vemos tantas pessoas cultivarem no Natal, durante e depois dele – como que urge fazer um sério e exigente exame de consciência, questionando-se e interrogando os outros...sobre o sentido destas ‘festas’ e de quem é, de facto, festejado.
Retinindo ainda nos nossos ouvidos os festejos natalícios, entramos com alguma sofreguidão na ‘passagem d’ano’, atendendo ao que isso envolve pessoal, familiar e socialmente.
Nalgumas mentes e, sobretudo, em tantos dos comportamentos, dá a impressão que se pretende exorcizar, dentro e fora, as vivências dum ano vivido... Disso vemos alguns resquícios de paganismo, não vivendo numa linha de sequência o tempo, mas tentando romper com o passado... como se este não nos tenha algo a ensinar para o presente e em relação ao futuro.
Por outro lado, as expetativas lançadas para com o futuro parece que envolvem algo de supersticioso e não tão cristão como seria desejável, pois se lança uma visão do futuro muito egoísta e individualista e não numa abertura à Providência, que cuida e acolhe quem somos, o que vivemos e para onde caminhamos.
Certos festejos de ‘passagem d’ano’ roçam mais um certo paganismo de critérios e de valores do que dum sentido cristão da vida e de quanto nela acontece ou virá a acontecer. Inclusive os cumprimentos e augúrios de ‘bom ano’ sofrem duma atroz cumplicidade com as coisas sem Deus do que permitindo que Ele nos conduza e guie...
Alguns ‘rituais’ de passagem d’ano cristalizaram uma tendência em que se fizer duma determinada forma isso dá-me sorte, mas porque não tem dado, se cumpro os ditos costumes? Não será porque não ouso mudar – permitindo que Deus seja incluído – que não vejo a dita sorte na viragem de cada ano?

Respigamos algumas reflexões/orientações do ‘Diretório sobre a piedade popular’:
- «No dia 1 de janeiro, oitava do Natal, a Igreja celebra a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. A maternidade divina e virginal de Maria constitui um acontecimento salvífico singular: para a Virgem Maria, foi pressuposto e causa da sua glória extraordinária; para nós, é fonte de graça e de salvação, porque ‘meio dela recebemos o Autor da vida’» (.º
115).
- «O dia 1 de janeiro é, no Ocidente, um dia de felicitações; é o início do ano civil. Os fiéis, envolvidos pela atmosfera festiva do começo do ano, trocam entre si e com todos, votos de ‘bom ano’» (n.º 116).
- «Entre os bons votos com que os homens e as mulheres se cumprimentam no dia 1 de janeiro, destaca-se o dia da paz. O ‘desejo de paz’ tem profundas raízes bíblicas, cristológicas e natalícias; os homens de todos os tempos reconhecem o ‘bem da paz’, embora atentem contra ele, frequentemente, do modo mais violento e destruidor: pela guerra» (n.º 117).

Desde 1967, no rescaldo do Concílio Vaticano II, que vimos celebrando a paz no primeiro dia do ano civil como desafio e intenção para o resto dos dias do novo ano!

Atualizando a mensagem da paz, o Papa Francisco intitulou a de 2019: ‘a boa política ao serviço da paz’. Nela se faz uma análise sobre a atuação dos politicos. O Papa enumera os doze vícios da política: ‘a corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos ou de instrumentalização das pessoas –, a negação do direito, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a justificação do poder pela força ou com o pretexto arbitrário da «razão de Estado», a tendência a perpetuar-se no poder, a xenofobia e o racismo, a recusa a cuidar da Terra, a exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato, o desprezo daqueles que foram forçados ao exílio’.

Não teremos nada a mudar? Não precisaremos de fazer um exame de consciência sobre a nossa presença política neste tempo?

‘Ano novo’ poderá ser significado de atitudes novas… e temos dois momentos de eleições – em maio para o Parlamento europeu e outubro para a escolha nacional – para nos pronunciarmos. Não deixemos para outros o que nos é devido!

 

António Sílvio Couto



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