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terça-feira, 11 de dezembro de 2018

A trela do cão…em consumismo



Uma associação internacional – de seu nome, em sigla, peta – ‘povo pelo tratamento ético dos animais’ – veio a terreiro reclamar de expressões ofensivas para com os seus protegidos (animais) exigindo que seja corrigida a linguagem de muitos dos ditados populares, pois estariam a constranger os ditos…

Cá pela nossa área de influência logo surgiu uma agremiação partidária a reclamar idêntica projeção nas suas intenções e reclamações de tantos dos cantos infantis, das músicas quasi-ancestrais e mesmo do comportamento ofensivo e ofensor para com os animais, seus e nossos amigos, ou não tanto. 

* Se levássemos a sério as sugestões da ‘peta’ ou do partido nacional à sua expressão, teríamos de reescrever uma boa parte da nossa literatura, ter-se-ia de andar com um espírito inquisitorial para muito do nosso anedótico ou ainda teríamos de conviver com uma censura nunca antes vista, pois alguém poderia entender como ofensivo aquilo que não passou duma figura de estilo, literária ou não. Se tal correção fosse possível, qual seria a data de começo da sua vigência?   

* Deve-se reconhecer que está a emergir – sabe-se lá comandada por quem ou de onde – uma nova cultura, onde os humanos têm de se submeter à sensibilidade dos animais, fazendo aqueles servidores destes e não mais o seu contrário. Esta onda roça o fundamentalismo e insere-se numa espécie de aculturação urbana que não conhece nem nunca contactou com o mundo rural, mas para o qual dita leis e sentenças de laboratório… As crianças já não se sabem sujar e tão pouco defender de vírus, bactérias e fungos!   

* Este fenómeno tem vindo a difundir-se com grande rapidez, podendo ser uma das formas de populismo mais imediato a arregimentar simpatizantes, militantes e votantes. Há, no entanto, indícios de que algo vai mal no reino animal, pois se tem vindo a fazer dos animais entidades com direitos inatacáveis, mas se vai tolerando alguns mecanismos de subjugação aos humanos. Exemplo disso é a trela dos cãezinhos, passeados pelas ruas e nem sempre recolhidos os dejetos respetivos. Se é para que os animais sejam titulares de direitos inalienáveis, então deixem-nos andar livres na rua, não os prendam – seria ofensa dizer acorrentem? – mas também não os obriguem a estar em espaços nem sem adequados à sua condição e natureza. De facto, vemos certos ‘animais de companhia’ serem mais criaturas de estimação do que seres sensíveis num aprisionamento forçado.  

* Que sociedade é esta que tem mais espaços de venda, em supermercados e outras superfícies comerciais, dedicados a alimentação para os animais do que colocados nos escaparates artigos direcionados às crianças? Sim, algo vai mal e pela disposição na carruagem o futuro não se avizinha senão sombrio. Parece muito preocupante a dedicação substitutiva das crianças pelos animais. Repare-se mesmo nos nomes dados aos ditos ‘animais de companhia’, muitos deles têm mais marca humana do que os nomes dos humanos com nome. Não andará algo invertido nestes tempos mais recentes? Não andaremos a ser manipulados nas discussões sobre estas matérias, enquanto sociedades e culturas são aniquiladas pela insensibilidade de uns para com os outros?  

* «É contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os animais e desprezar as suas vidas. É igualmente indigno gastar com eles somas que deveriam, prioritariamente, aliviar a miséria dos homens. Pode-se amar os animais, mas não seria razoável desviar para eles o afeto só devido às pessoas» – Catecismo da Igreja Católica, n.º 2418.

Talvez nos falte equilíbrio e das inconstâncias dos humanos vemos que os animais também sofrem, se bem que estes tenham, nalguns casos, sensibilidade mais refinada do que muitos dos humanos, que se vão tornando mais materialistas à medida em que se consideram sabedores de algo que lhes escapa: a comunhão entre toda a natureza como rosto da beleza de Deus.

Não será o cãozinho pela trela um dos símbolos do consumismo desumanizado…mais recorrente?     

 

António Sílvio Couto



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