Como vem
sendo habitual, por esta ocasião do ano civil, surgem as propostas/candidatas à
‘palavra do ano’ de 2018. Na lista encontramos (por ordem alfabética, que não
de graduação votada): assédio, enfermeiro, especulação, extremismo, paiol,
populismo, privacidade, professor, sexismo e toupeira…
Pela
minha parte já votei na palavra de 2018: populismo.
Reportando-nos
a um certo arquivo podemos encontrar como ‘palavra do ano’ de 2009 – esmiuçar;
de 2010 – vuvuzela; de 2011 – austeridade; de 2012 – entroikado; de 2013 –
bombeiro; de 2014 – corrupção; de 2015 – refugiado; de 2016 – geringonça; 2017
– incêndios!
Ora,
diante deste projeto de escolha da ‘palavra do ano’, podemos como que fazer uma
sucinta aferição ao que foi a principal preocupação dos anos transatos. Esta
iniciativa que já vai na sua 10.ª edição em Portugal pode-nos ajudar a captar o
que de mais importante vivemos nos anos mais recentes, fazendo com isso memória
e, possivelmente, criando história.
= Há, de
facto, ao longo de todo um ano uma multiplicidade de acontecimentos, de
figuras, de ocasiões ou mesmo de oportunidades que nos fazem viver numa espécie
de ritmo mais ou menos frenético, que, só ao final do ano, nos apercebemos que
muita coisa aconteceu e que foi marcante na vida das pessoas, das instituições
e da sociedade.
Segundo
dados tornados públicos estão como mais votadas para ‘palavra do ano’ de 2018:
professor, enfermeiro e toupeira… revelando-se, desde logo, os contextos
sociais, profissionais ou desportivos em que cada um destes termos estão
inseridos. Os mais de cento e quarenta mil votos validados revelam, deste modo,
que os cidadãos participam neste processo de escolha, que tem tanto de
indicativo, quanto de simbólico.
= Numa
sociedade que devia ser mais de cidadãos do que de números – sejam os da nossa
identificação, sejam os da matemática economicista – este processo da escolha
da ‘palavra do ano’ reveste-se de alguma configuração cívica, pois precisamos,
urgentemente, de sair do nosso casulo de conforto para sentirmos os outros com
quem vivemos e as formas de interligação necessárias, mais do que meramente
toleradas.
Muitos
dos nossos coevos vivem mais colhendo do fruto do que fazem os outros do que
participando nas sinergias e nas múltiplas interdependências. Ora é neste
aspeto tão simples que conflitua muito do nosso presente e do futuro. Na medida
em que podemos compreender que não nos é permitido viver nessa atitude
sanguessuga de nada fazer e de tentar usufruir dos benefícios sem se sujar no combate.
Intolerância e radicalismo podem ser alguns dos inimigos mais imediatos que
devemos combater e exorcizar do nosso ambiente… Outra tendência manifesta mais
recentemente é a forma anónima com que se pretende revelar o protesto – os
ditos ‘coletes amarelos’ são a ponta dum tal icebergue – mais pela destruição
do que pela apresentação objetiva de razões e motivos para a mudança.
Não
deixa de ser inquietante que a indumentária do capuz sobre a cabeça permite,
hoje, criar alguma desconfiança entre as pessoas e abrigar quem não dá a cara
pelo que diz e/ou pelo que faz. Com relativa vulgaridade há quem se esconda sob
a capa de perfil falso ou pela denúncia anónima para lançar a suspeita sobre
muitos ou quase todos. Ninguém está a salvo de ser difamado só porque alguém
lança um comentário sem rosto…Não pode a justiça ir por esse caminho, pois, em
breve, estaremos a lutar contra a própria sombra, sem nos darmos conta de que algo
vai mal em nós e à nossa volta…
=
Precisamos de acreditar mais uns nos outros, sem entrarmos na bonomia do
tendencialmente bom, mas procurando acreditar que o espírito que nos foi
infundido no Natal de Jesus possa ser vivido para além das parcas horas da
nostalgia ou das memórias infantis. No entanto, se continuarmos a mergulhar no crescente
consumismo materialista bem depressa nos tornaremos inimigos de estimação em
maré de saldos ou em feira de produtos (ditos) biológicos sem rótulo.
Será que
a nossa vida está ao serviço da paz? À luz da mensagem do Papa para o 52.º dia
mundial da paz que sejamos dignos de participarmos na sua construção com
humildade e confiança…uns nos outros!
António
Sílvio Couto
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