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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Quem melhor mente, mais vinga


Vivemos num país muito ‘sui generis’: com grande facilidade vemos vingar (vencer, enganar, sobreviver, ser popular) quem melhor sabe mentir, surfando por entre as ondas (mais ou menos alterosas, de mar chão ou na força da tempestade) e sair penteadinho do outro lado da dificuldade…como se nada tenha sido consigo nem com as responsabilidades que deveria assumir.

Que dizer dos fogos fatais (junho e outubro) em 2017? Como explicar o folhetim das armas (o antes e o depois) de Tancos? Será que se percebeu alguma coisa das greves na saúde, na educação, na justiça ou nos transportes? Como enquadrar certos acidentes e incidentes com vítimas mortais, há ou não culpados?

Por entre os pingos duma certa chuva ácida se vai percebendo que nada nem ninguém tem responsabilidade, tem culpa e tão pouco é acusado. Os números – tenho para comigo que se há de descobrir, em breve, que são nitidamente forjados, escondidos e camuflados – da economia entretêm os mais incautos, pois mais uns cêntimos no bolso e logo se amordaça a contestação, tanto sobre o que se ganha agora como aquilo que virão a ser os reais proventos no futuro. Que são dez euros de aumento para os reformados? Isso dá para alguma coisa, que não seja um engano, fazendo com que se perca em preços o que se ganhou em aumentos…

Agora se pode compreender um tanto melhor que há forças que não olham a meios para atingirem os seus maquiavélicos fins: calam-se agora, quando antes fariam protesto; concordam agora, porque em breve colherão os pretensos frutos em votos ou lugares no poder; silenciam em surdina o que antes era motivo mais do que suficiente para criar ambientes de crispação e de conflito… Diria o povo na sua sabedoria: coloquem-lhes um osso na boca e com dificuldade falarão, pois estarão entretidos com os restos ou as migalhas que caem da mesa do poder…da mesma coloração.

Pior do que tudo isto é a censura ardilosa duma boa parte da comunicação social: muitos dos jornaleiros de antanho ferozes e ríspidos para com quem governava, agora constroem discursos adjetivados – essa doença costuma ser a compra dos ditadores ou dos vendidos – que passam por desconstruir falhanços, por tolerar erros e gafes, à mistura com encómios saídos do devocionário de lojas (e não são comerciais), dos sítios (e não são lugares) da moda e até dos lóbis (e não são os da superfície) mais ou menos desconhecidos.

Um clima tendencialmente favorável – talvez seja mais favorecido – de quem está no poder continua a ser uma das formas mais capciosas de manipulação: saber enganar sem nunca se enganar é uma arte bem antiga, que tem dado frutos com muitos daqueles que, desde o poder controlam, quem os bajula. É isso que está acontecer no nosso país – e não é só na área política, autárquica ou social – assumindo formas culturais preocupantes. Já aconteceu no passado recente e não soubemos aprender as lições… Será que levará muito tempo a aprender para o futuro próximo?

Muitos do que agora reinam terão de ser vencidos para aprenderem a lição da humildade pela humilhação. Esta sempre foi a melhor escola para ser verdadeiro e sincero…     

 

António Sílvio Couto

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