Vivemos
num país muito ‘sui generis’: com grande facilidade vemos vingar (vencer,
enganar, sobreviver, ser popular) quem melhor sabe mentir, surfando por entre
as ondas (mais ou menos alterosas, de mar chão ou na força da tempestade) e
sair penteadinho do outro lado da dificuldade…como se nada tenha sido consigo
nem com as responsabilidades que deveria assumir.
Que
dizer dos fogos fatais (junho e outubro) em 2017? Como explicar o folhetim das
armas (o antes e o depois) de Tancos? Será que se percebeu alguma coisa das
greves na saúde, na educação, na justiça ou nos transportes? Como enquadrar
certos acidentes e incidentes com vítimas mortais, há ou não culpados?
Por
entre os pingos duma certa chuva ácida se vai percebendo que nada nem ninguém
tem responsabilidade, tem culpa e tão pouco é acusado. Os números – tenho para
comigo que se há de descobrir, em breve, que são nitidamente forjados,
escondidos e camuflados – da economia entretêm os mais incautos, pois mais uns
cêntimos no bolso e logo se amordaça a contestação, tanto sobre o que se ganha
agora como aquilo que virão a ser os reais proventos no futuro. Que são dez
euros de aumento para os reformados? Isso dá para alguma coisa, que não seja um
engano, fazendo com que se perca em preços o que se ganhou em aumentos…
Agora se
pode compreender um tanto melhor que há forças que não olham a meios para
atingirem os seus maquiavélicos fins: calam-se agora, quando antes fariam
protesto; concordam agora, porque em breve colherão os pretensos frutos em
votos ou lugares no poder; silenciam em surdina o que antes era motivo mais do
que suficiente para criar ambientes de crispação e de conflito… Diria o povo na
sua sabedoria: coloquem-lhes um osso na boca e com dificuldade falarão, pois
estarão entretidos com os restos ou as migalhas que caem da mesa do poder…da
mesma coloração.
Pior do
que tudo isto é a censura ardilosa duma boa parte da comunicação social: muitos
dos jornaleiros de antanho ferozes e ríspidos para com quem governava, agora constroem
discursos adjetivados – essa doença costuma ser a compra dos ditadores ou dos
vendidos – que passam por desconstruir falhanços, por tolerar erros e gafes, à
mistura com encómios saídos do devocionário de lojas (e não são comerciais),
dos sítios (e não são lugares) da moda e até dos lóbis (e não são os da
superfície) mais ou menos desconhecidos.
Um clima
tendencialmente favorável – talvez seja mais favorecido – de quem está no poder
continua a ser uma das formas mais capciosas de manipulação: saber enganar sem
nunca se enganar é uma arte bem antiga, que tem dado frutos com muitos daqueles
que, desde o poder controlam, quem os bajula. É isso que está acontecer no
nosso país – e não é só na área política, autárquica ou social – assumindo
formas culturais preocupantes. Já aconteceu no passado recente e não soubemos
aprender as lições… Será que levará muito tempo a aprender para o futuro
próximo?
Muitos
do que agora reinam terão de ser vencidos para aprenderem a lição da humildade
pela humilhação. Esta sempre foi a melhor escola para ser verdadeiro e sincero…
António
Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário