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terça-feira, 20 de novembro de 2018

Celebrar ‘Cristo-Rei’


Porque celebra a Igreja católica (e não só) a solenidade de Cristo Rei? Que significado tem este Cristo apelidado de ‘rei’? Desde quando se vem a celebrar esta solenidade? Ainda haverá conteúdo para esta celebração?
Embora tenha clara fundamentação nos textos bíblicos, a proclamação solene de que Cristo é Rei foi feita, em 1925, pelo Papa Pio XI, na encíclica ‘Quas primas’, relevando, perante certas correntes laicistas, que Cristo é rei não duma forma política nem social, mas do foro espiritual e dos valores cristãos…devendo estes torná-Lo vivo e presente nas coisas do mundo, como testemunho e sinal do seu reinado sobre as pessoas, as instituições e a sociedade em geral, respeitando quem pense de forma diferente, mas se envergonhando de O fazer presente através de nós.
Eis as razões explicitadas na encíclica do Papa Pio XI, após a celebração do ‘ano santo de 1900’:
«Não é necessário passar em silêncio que, a fim de confirmar solenemente esta soberania de Cristo sobre a sociedade humana, os congressos eucarísticos mais frequentes que são celebrados em nossos tempos, e cujo propósito é convocar os fiéis de cada um dos dioceses, regiões, nações e até do mundo inteiro, para venerar e adorar a Cristo Rei, escondido sob os véus eucarísticos; e através de discursos nas assembleias e nos templos, da adoração, em comum, do augusto sacramento publicamente exposto e das procissões solenes, para proclamar Cristo como o Rei que nos foi dado pelo céu. Bem e com razão, pode-se dizer que o povo cristão, movido como que por inspiração divina, tirou do silêncio e como esconderijo dos templos aquele mesmo Jesus que o ímpio, quando veio ao mundo, não quis receber, e o tomou como triunfante nas vias públicas, quer restaurá-lo em todos os seus direitos reais» (n.º 27).
Sobre a envolvência ecclesial da celebração da solenidade de Cristo-Rei diz a encíclica ‘Quas primas’: «Não é necessário, irmãos veneráveis, que lhe expliquemos detalhadamente as razões pelas quais decretamos que a festa de Cristo Rei seja celebrada separadamente daquelas em que essa mesma dignidade parece já indicada e implicitamente solenizada. É suficiente dizer que, embora em todas as festas de nosso Senhor o objeto material deles seja Cristo, mas seu objeto formal é inteiramente diferente do título e poder real de Jesus Cristo. A razão pela qual quisemos estabelecer este feriado no domingo é para que não apenas o clero honre a Cristo Rei com a celebração da Missa e a oração do ofício divino, mas para que o povo, livre de preocupações e com espírito de santa alegria, presta a Cristo um claro testemunho de sua obediência e devoção» (n.º 31).
Liturgicamente a solenidade Cristo Rei celebra-se no último domingo do ano litúrgico e como em conclusão – sem pretender ser encerramento de nada – da vivência dos mistérios de Deus em Igreja.
De algum modo, em Portugal, a celebração da solenidade de Cristo Rei era a ‘festa’ da Ação Católica, no nosso país, pois, ela mesma fundada em 1933, pretendia concretizar por cá os ideais que o Papa traçara ao instituir esta solenidade na Igreja: instaurar tudo em Cristo para Quem convergia toda a vida pessoal, familiar e social, fosse qual fosse a sua expressão profissional ou mesmo etária.
Sobre o futuro desta celebração de Cristo Rei tudo depende do interesse, da dinamização e da vivência em cada paróquia ou diocese…Nalgumas está em quase estado de letargia!

Não podemos esquecer a força da aclamação de Cristo-Rei ocorrida durante as perseguições religiosas no México (1926-1929) e por ocasião da Guerra civil espanhola (1936-1939). Com que ímpeto, força e ousadia tantos católicos morreram proclamando de forma altissonante: ‘viva, Cristo-Rei’… e tombaram sobre o fogo perseguidor! Será que merecemos tais mártires do século passado?

Proclamemos com o cântico vigoroso da fé de antanho: Cristo vence, Cristo reina, Cristo impera!

 

António Sílvio Couto

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