Passe a publicidade: ‘ferrero
rocher’ é uma marca de bombom de chocolate fabricado
e comercializado por um grupo italiano, tendo sido criado em 1946, com intuito
de fazer um chocolate diferente dos outros, refinado. É constituído de uma
avelã inteira recheada de chocolate, envolvida por wafers e coberta de
chocolate com pitadas de avelã. Cada bombom possui cerca de 72 calorias e são
embalados tradicionalmente um a um e colocados numa caixa dourada. Este
bombom está tradicionalmente associado ao Natal e Ano-novo.
Nalguns países, devido à rígida política de qualidade, o ‘ferrero rocher’ só é
comercializado durante o inverno.
= Que
pode ter isto a ver com algumas das práticas políticas? Onde e como se nota
mais esta psicologia ‘ferrero rocher’? Qual, então, o sentido sobre a esquerda
portuguesa (ou melhor à portuguesa)? Será que se podem captar certos tiques de
novo-riquismo, quer na moda do ‘ferrero rocher’, quer dalguma esquerda à
portuguesa? Não será que aquilo que reluz é engano e subtileza manipuladora?
* Quem
se recordar do enquadramento cénico da publicidade ao bombom ‘ferrero rocher’
lembrar-se-á do rico carro em que a senhora é levada a passear com o mordomo a
satisfazer os desejos da senhora colocando-lhe à frente, numa bandeja dourada,
uma pequena pirâmide de bombons ao que a dita senhora responde com satisfação:
bravo, Ambrósio!
Ora foi
diante deste take publicitário que me ocorreu trazer à liça certos trejeitos de
alguns setores ideológicos, na medida em que se consolam com requintes
burgueses e se satisfazem com arranjos de quem é servido na indumentária do
protesto camuflado com a degustação dos bombons do capitalismo.
Com que
facilidade vemos alguns dos eleitos pavonearem-se, por entre os que neles
votaram, com ares de quem se sente superior, quando a sua legitimidade lhe
advém da expressão eleitoral – nos votos e nas percentagens – com que foram
escolhidos… Com que facilidade parece que uns tantos eleitos se consideram
ganhadores dum ordenado quase principesco, tendo em conta os vencimentos da
maioria da população, gerindo as suas pretensões ao sabor dos ganhos e não das
responsabilidades adstritas à função de serem representantes do povo e das suas
legítimas aspirações… Com que facilidade parecem viver nessa bolha de eleitos,
como se fizessem parte duma elite, que olha os demais com a sobranceria de
classe inferior, aferindo o seu nível de vida pelas benesses políticas e os
arranjos de ocasião…
Em breve
veremos saírem da lura do parlamento os diversos fazedores da legislação, das
ideias políticas e dos ideais ideológicos, surgindo entre a massa popular para
reclamarem, sobretudo junto dos seus seguidores (do facebook, da cartilha
partidária ou da promoção de lugares), das conquistas conseguidas e mesmo dos
arranjos orquestrados… Agora serão do povo. Agora fazem trabalho político.
Agora mesclam os seus intuitos com os desejos dos enganados… Serão como a
senhora dos bombons que vem oferecer ‘ferrero rocher’ ao povo eleitor, mesmo
que se tenham esquecido de despir a indumentária de serviço lá nos assentos
mais ou menos democraticamente controlados…
* Agora
que caminhamos a passos largos para a fruição das atividades natalinas não
deixará de ser questionável vermos certas posições onde se quer fazer do Natal
aquilo que ele não é nem pode ser, pois frases como: o natal és tu; o melhor do
natal são as crianças… e outras mais referências ao natal como a festa da família
ou de reunião desta… Eis como se foi desvirtuando o essencial do verdadeiro Natal
e de Quem nele é celebrado.
Em
certos lugares vão surgindo ‘festas e feiras de natal’, tentando estender à rua
o chamariz consumista de outros espaços comerciais. O interesse é o mesmo, só
que travestido de populismo à mistura com a exploração dos sentimentos
infantilizados de boa parte da população…sobretudo se fidelizada pela votação
autárquica. Os ingredientes não passam de imitação dos centros urbanos mais
significativos, embora a qualidade deixe um tanto a desejar não só na forma
como no conteúdo.
O natal
não é isto e isto não tem nada de Natal… Haja verdade e honestidade e não
propaganda barata…
António Sílvio Couto
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