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terça-feira, 6 de novembro de 2018

Da ilusão…à realidade


Dizem que, por estes dias, Lisboa vai estar nas bocas do mundo devido à realização da ‘web summit’. O acontecimento de alta tecnologia traz à capital cerca de setenta mil novas criaturas, gerando milhões de euros em serviços direta ou indiretamente ligados ao evento.

Falar em milhões parece ser a caraterística mais comum neste acontecimento de novos-ricos, desde os governantes até aos potenciais investidores…quase sempre numa lógica de fartura em exageros senão reais ao menos virtuais. Consta que, só uma noite de dormida, poderá andar muito perto de mil euros por pessoa, isto sem falar nas diversões noturnas e outros adereços à grande.

Por outro lado, surgiu, nos tempos mais recentes uma outra informação que contrasta com este clima efervescente de grande sucesso das massas populares e dos que mandam nos outros. Diz um estudo da União Europeia, feito entre os 28 estados-membros, que os portugueses estão entre os europeus que mais temem chegar à velhice sem rendimentos suficientes: apenas 25% da população portuguesa acredita ter dinheiro suficiente para viver quando chegar a altura de deixar de trabalhar e na fase do envelhecimento.
Por sexos as mulheres (75%) são as mais pessimistas, enquanto os homens se cifram em menos três pontos percentuais...nas preocupações quanto ao futuro, na velhice. Os gregos são os mais preocupados e logo a seguir aparecem Espanha e Portugal. Há também uma diferença de sexo no grau de receio em enfrentar a velhice sem rendimentos adequados. As mulheres são quem apresenta maiores níveis de preocupação na generalidade dos países. Pior do que nós só mesmo na Grécia e na Espanha. Do quadro dos 28 estados-membros da UE surgem com mais preocupados os países da Europa do sul - Grécia, Espanha, Portugal e Itália e alguns dos mais recentemente aderentes, como Letónia, Bulgária, Hungria, Polónia e Eslovénia...  

* Como se pode interpretar esta discrepância sobre factos neste mundo em que vivemos? Até onde haverá verdade: na riqueza a esbanjar ou na pobreza suportada em surdina e com vergonha? Qual é o país verdadeiro: o da ilusão tecnológica e estrangeira ou o da contenção das pessoas entre portas? Quem fala verdade: a prosápia de ricos sem limites de despesas ou aqueles que contam todos os cêntimos para que cheguem ao final do mês e para o resto da vida?  

* Perante a forma como muita gente se conduz na vida é – ou parece ser – cada vez menor o investimento na poupança. Uma parte significativa dos nossos contemporâneos vive a realidade do ‘chapa-ganha, chapa-gasta’, pois o incentivo ao consumo faz com que não se pense no amanhã, sobretudo na fase da velhice. Ora, nada há de mais enganoso do que este clima e tal mentalidade. Dá a impressão que consideramos que os descontos para uma (dita) segurança social irá suportar os incomportáveis gastos da etapa do envelhecimento. O recurso ao ‘pé-de-meia’ com que muitos dos mais velhos se iam revestindo ao longo da vida, deixou, ao que parece, de fazer sentido para muitos dos que hoje ainda têm emprego, gastando tudo ou mais do que ganham. Esta ilusão irá deixar muita gente na valeta da vida, pois sem meios ou recursos os (ditos) lares não darão espaço a quem não seja minimamente sustentável. Isto já para não falar da falência de meios da segurança social, pois sem haver quem desconte, porque não há quem trabalhe, também não será suportável o que nos espera…  

= Uma anedota, que nos poderá fazer refletir sobre o que é essencial, bem como nas respostas que podemos dar a quem não nos perguntou, falhando mesmo a resposta que era necessária e correta.

Um velho senhor foi a um banco para levantar cinquenta euros. Quem o atendeu respondeu-lhe que, ao balcão, só se podia levantar duzentos euros, os 50 euros podiam ser levantados no multibanco. O senhor retorquiu que não sabia funcionar com essa maquineta, tendo o senhor do balcão dito que poderia vir noutro dia e alguém lhe poderia ensinar a funcionar com o sistema. Pensando melhor o senhor freguês aceitou levantar os 200 euros e assim resolver o assunto. Após ter conferido o dinheiro o senhor do balcão inquiriu se havia algo mais a fazer, ao que o senhor mais velho retorquiu: quero, agora, depositar cento e cinquenta euros… Porque havemos de responder o que nós entendemos e não entramos na lógica dos outros? 

 

António Sílvio Couto

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