Andou
divulgado nas redes sociais e nalguma comunicação social que uma senhora
deputada foi fotografada a pintar as unhas durante a apresentação do orçamento
de estado/2019. Ao que parece foi fácil de identificar a sujeita, que se
manteve em silêncio até ao momento em que se achou no direito de rotular de ‘imprensa
antidemocrática’ quem ousou difundir, comentar, acrescentar, vituperar tal
façanha pouco digna para quem é paga com o dinheiro do povo, pretensamente discordante
do seu comportamento.
Ler
algumas das tiradas da dita deputada fazem corar o mais envergonhado da vida em
sociedade, desde rotular de ‘pasquim’ quem não a considera, segundo ela, como
devia, indo até à ofensa aos jornalistas e colaboradores dos jornais,
televisões e órgãos de comunicação pela internet, invetivando intenções e quase
argumentando com tentativas de golpes antidemocráticos pela simples razão de
não serem da sua coloração, tanto partidária como de lóbi de costumes… Chega a
dizer: ‘é a livre formação da nossa opinião que está em causa. É a democracia
que está em causa’…
Quem
quer ser respeitado tem de se dar ao respeito, pois, não será com dislates
desta jaez que tal deputada será respeitada, dado que não aprendeu a conviver
com a diferença de opinião e logo classifica de ‘antidemocrático’ nos outros o
que talvez seja sua deformação…em abuso de poder e de posicionamento.
Já se
suspeitava que a senhora se achava o suprema-sumo das ideias que fazem andar o
mundo. Ora, o pai, que é uma das figuras mais venerandas da nossa vida
democrática real, nunca quis atrair a atenção para tanto que fez nestes
quarenta anos após a revolução. Pois, ela achasse no direito e na obrigação de
se pretender respeitada por ela e pelo progenitor…Isso que diz seria tolerável
no ‘estado novo’ que o pai serviu anos a fio! Ainda diz que a imprensa não é
democrática. Aceitar o seu praguejar é algo do mais sublime que se pode
entender e considerar para com quem não pode ser minimamente beliscada, se
ainda houver onde e como!
= Este
episódio quase rocambolesco dá como que a nota sobre algumas das figuras da
nossa praça, que podem dizer tudo e o resto do que lhes apetece, mas que se
melindram quando, metendo o pé na argola, são dignas de crítica, de serem
ripostadas e, sobretudo, de não se acharem acima do resto da populaça, se bem
que precisem dela para se manterem no poder com as mordomias que lhes estão
adstritas, até de poderem pintar as unhas nas horas de serviço…
Começa a
cheirar a regime de ditadura certos tiques dalguns que têm estado na atual governança:
umas vezes combatem as rendas à habitação, mas auferem largas maquias com
prédios, andares e heranças; outras vezes criam suplementos de impostos sobre
meios de investimento, mas aprovam conluios de forças contra os seus proventos;
nalguns casos fazem-se de vítimas para conquistar os desatentos, enquanto vão
servindo interesses nem sempre claros e sérios… Falamos de casos de barrigas de
aluguer, das ideologias de género, de benefícios para turismo rural ou
alojamento local, de aumentos de ordenados sem olhar a meios, de combate à
iniciativa privada, que alimenta o sorvedouro do funcionalismo público…Quase
tudo para proveito dos seus simpatizantes, eleitores e militantes!
Parece
que tudo serve para dar depressa o que nos cairá encima da cabeça, quando não
formos capazes de continuar a manter a vida de preguiça e de alienação que vai
sendo o verniz da tanta desta gente sem escrúpulos nem princípios…democráticos
e de tolerância. Porque não vão pregar este sermão da abundância às terras de
Maduro e da Coreia do Norte, de Cuba e dalguns países esfomeados pelas opções (impostas)
das suas correntes ideológicas? Aqui pagam-lhes para desfazerem, lá podiam
trabalhar para construir. Aqui têm a possibilidade de dizer e de fazer tudo o
que lhes apetece – mesmo ofendendo quem pensa de forma diferente da sua – lá
talvez pudessem ajudar a reivindicar o mínimo, desde os direitos cívicos
básicos até à alimentação e à saúde. Aqui podem dizer mal do capitalismo, mas é
este quem lhes sustenta a prosápia e os faz receber chorudos ordenados no
parlamento europeu e nacional…
A
democracia pressupõe – penso eu – diversidade. O pensamento único conduz –
creio eu – à ditadura. A unanimidade – parece-me – faz dos cidadãos joguetes de
poderes pequenos…sem valor nem qualidade. De facto, o verniz das unhas pintadas
estalou e já pouco se pode remendar. Haja tento e bom senso, hoje e sempre!
António
Sílvio Couto
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