Os
quatro projetos de aprovação – despenalização, descriminalização ou legalização
– da eutanásia – eufemisticamente designada de ‘morte medicamente assistida’ –
foram rejeitados no dia 29 de maio, ao final da tarde…embora os votos
vencedores tenham sido, nos diferentes casos, muitos escassos…tendo as
abstenções dado quase uma vitória pírrica, ganhar sem convencer!
De entre
os diversos projetos submetidos à apreciação foi o dos socialistas que teve uma
aparente maior aceitação, mesmo que rejeitado… Atendendo à proclamação do
último congresso dos socialistas, estes foram os vencidos a quem se pedirá
maior apreciação nesta aposta a destempo e num longo fait-divers para que
outras medidas governativas pudessem passar pelas pingas da indiferença…dos
cidadãos.
Que tem
a dizer agora o chefe que altissonantemente se fez proclamador do direito a
matar pela eutanásia? Encolheu-se e foi digerir a derrota com os mentores da
moção vencedora…no congresso? Esfrega a mãos de contente por não ter de gastar
dinheiros do SNS com máquinas de morte? Estudou o assunto a fundo ou fez de
conta que, fosse qual fosse o resultado, lhe iriam perdoar pelo (dito)
desempenho económico?
Por
outro lado, como vai gerir o líder social-democrata o não-seguidismo do chefe –
era declarada e acintosamente a favor da eutanásia – na hora da votação? Só
seis deputados não votaram contra…embora tomando posições diversas segundo os
quatro projetos escortinados… A líder dos jovens do partido não andará a colocar-se
demasiado nas franjas dos socialistas e não do que não os querem a governar?
= Tal
como noutras ocasiões – lembremos as declarações após os resultados do aborto
em 1998 – os vencidos prometem voltar à carga até que possam vencer os
opositores…nem que seja pela teimosia e insistência a propósito ou a
despropósito. Certos vencidos fazem aquele papel dos mais novos que foram
derrotados, mas pedem a desforra até à desistência dos que não pensam como
eles.
Repare-se
na cultura de imponência na hora da votação em que os que eram favoráveis à
eutanásia nem se deram ao cuidado de conglomerarem os seus defensores, pois
talvez lhes parecesse que a vitória estava garantida ou, então, sentiram que
sair à rua podia ser capitulação sem jogar, preferindo ganhar no sofá…
As
várias associações contra a eutanásia foram-se agrupando e tomando iniciativas
com alguma visibilidade, mas muitos outros terão feito correntes de oração para
que a vida não fosse vencida pelos projetos de morte. Creio, muito
sinceramente, que muitas congregações religiosas, paróquias e movimentos
estiveram a rezar na tarde de 29 de maio para que houve algum sinal de que Deus
não nos tinha abandonado… Dá a impressão que fizemos a nossa parte e que Deus
se encarregou de fazer a sua!
= Do
pouco que vi nas transmissões televisivas deixou-me uma impressão de
desrespeito por quem não entra na lógica materialista da vida as declarações
sobranceiras duma deputada trotskista – a tal que ficou contente por não ver a
estátua de Cristo Rei, quando atravessava, num dia de nevoeiro, o tejo – sobre
quem acredita na ‘vida eterna’… Talvez agora possa aprender a juntar as letras
que compõem a palavra ‘derrota’, tal como o progenitor ajuntou as armas dos
assaltos de antanho… Esta gente ainda não aprendeu a viver em democracia, pois
ao aplausos de hoje podem ser os apupos de amanhã, já para não falar das cinzas
em que se irão converter sem glória nem memória…
De tudo
o que foi dito e insinuado o que mais me desagradou foi a prosápia de humanismo
com que certos defensores se autoapelidavam, considerando os adversários de
menos humanistas do que eles, pois tinham respeito pela dignidade da pessoa e
até lhe dava a morte por considerarem que isso era o melhor para quem sofria. É
triste que uns tantos/as se considerem de primeira qualidade e vejam os
defensores da vida como antiquados, retrógrados e conservadores.
Basta de
arrogância e de oportunismo. O populismo não é bom por ser de esquerda e mau se
não tiver aquela coloração. Esta iniciativa sobre a eutanásia é um dos exemplos
mais sublimares do populismo travestido de democracia… Pela vida – entre a
conceção e a morte natural – sempre!
António Sílvio Couto
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