Foi uma
das mais altissonantes promessas no congresso socialista do último
fim-de-semana: fazer regressar (ou criar condições) aos milhares de jovens que
saíram do país nos tempos mais recentes…
Os dados
desta diáspora estão em permanente atualização. Os referidos no conclave
partidário diziam respeito à vaga dos ‘anos da crise’, mas de imediato foram
apresentados outros elementos que reportavam à emigração de mais de dezassete
mil médicos e enfermeiros desde 2014…com vencimentos muito superiores aos
auferidos por cá.
Só quem
nunca sacudir as cadeias da tacanhez nacional, não saberá comparar os benefícios
de sair para outras paragens – de forma esporádica ou mais continuada – onde se
alargam horizontes e se potenciam capacidades pessoais, profissionais ou
culturais.
Não
tenho a menor dúvida de que, se muitos dos emigrados pudessem tomar a rédeas da
condução do país, estaríamos a falar de coisas bem diferentes da tentativa
seduzir os mais incautos para que regressem à sua terrinha com as consequências
em voltarem à submissão aos poderes que capturam os horizontes que os fizeram
arriscar.
Repare-se
que a maioria dos políticos profissionais nunca estiveram no estrangeiro ou se
o fizeram foi em condomínios de luxo com tudo pago e sem riscos ou ousadias
mais ou menos atribuladas. Muitos deles e delas se partiram fizeram-no com as
mordomias próprias de quem não tem outra condição do que ser uma bolha
protegida e, portanto, com rede estendida para que não se magoem nas lides
encomendadas…
Sobre a
aprendizagem no confronto com outros modos de ser e de estar, valerá a pena
escutar as experiências de muitos que fizeram o Erasmus: mesmo que enquadrados
pelo âmbito escolar tiveram de soltar as amarras das famílias para voarem do
ninho da pasmaceira do protecionismo paternalista e maternalista… Outras
experiências de voluntariado – com ligações a associações e igrejas, com traços
de aventura – têm permitido encontrar novos objetivos, valorizando os dos
outros e relativizando os seus.
= Já
passou o tempo em que uma pessoa nascia, crescia e reproduzia-se (com ou sem
descendência) sempre no mesmo espaço. A mobilidade humana é hoje uma das
maiores caraterísticas dos tempos hodiernos e isto faz-nos viver numa pobreza e
humildade contínuas, vivendo na sensação de que algo vai ser diferente e uns
com os outros vamos aprendendo novos e constantes desafios à nossa própria
aprendizagem e exigência de adaptação…
Diante
da crescente uniformização de condutas – humanas, culturais e mesmo morais – em
resultado da globalização e não só, podemos interpretar um tanto melhor a
miscigenação da Europa com todos os riscos e riqueza que daí advêm. Deste modo
poderá soar a controlo das mentalidades – outros diriam ditadura da condição –
o que foi dito na reunião do partido no governo…E nem os acenos de melhores
condições salariais bastarão para atrair uns tantos mais ou menos seguidistas
para tentarem fazer carreira sem mecha nem lume…
Quem
tenha vivido noutras culturas e experimentado outros voos não virá capitular
diante dos seus anseios de uma vida mais desafogada senão na economia ao menos
na mentalidade. Seremos, de facto, muito rasteiros na prossecução de sermos
mais e melhores cidadãos duma Europa onde os cidadãos valham pelo que são e não
pelos resultados económicos que conseguem.
Quem
avaliar os resultados dos estudos de muitos dos nossos estudantes poderá ficar
estarrecido pela não-cultura que manifestam. Quantos deles se valorizam
estudando, mas depois se acomodam às suas contingências de pequeno mundo das
suas tradições ancestrais e quase ignorantes…na forma e no conteúdo.
= Neste
mundo pluralista e diverso torna-se essencial educar para os valores,
subjugando as conquistas materiais – na maior parte das vezes nitidamente
materialistas – ao derrubar de barreiras e de muros, que as sugestões supra
citadas não passam de quimeras de quem não tem mais nada a propor do que
penachos e aliciantes na mesa do poder estabelecido ou a conquistar. Os mais
novos não podem deixar-se vender por enganos e promessas sem valor… Se assim
for, então, estamos muitíssimo mal!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário