Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 29 de maio de 2018

Quem ousa regressar…aonde não é desejado?


Foi uma das mais altissonantes promessas no congresso socialista do último fim-de-semana: fazer regressar (ou criar condições) aos milhares de jovens que saíram do país nos tempos mais recentes…

Os dados desta diáspora estão em permanente atualização. Os referidos no conclave partidário diziam respeito à vaga dos ‘anos da crise’, mas de imediato foram apresentados outros elementos que reportavam à emigração de mais de dezassete mil médicos e enfermeiros desde 2014…com vencimentos muito superiores aos auferidos por cá.

Só quem nunca sacudir as cadeias da tacanhez nacional, não saberá comparar os benefícios de sair para outras paragens – de forma esporádica ou mais continuada – onde se alargam horizontes e se potenciam capacidades pessoais, profissionais ou culturais.

Não tenho a menor dúvida de que, se muitos dos emigrados pudessem tomar a rédeas da condução do país, estaríamos a falar de coisas bem diferentes da tentativa seduzir os mais incautos para que regressem à sua terrinha com as consequências em voltarem à submissão aos poderes que capturam os horizontes que os fizeram arriscar.

Repare-se que a maioria dos políticos profissionais nunca estiveram no estrangeiro ou se o fizeram foi em condomínios de luxo com tudo pago e sem riscos ou ousadias mais ou menos atribuladas. Muitos deles e delas se partiram fizeram-no com as mordomias próprias de quem não tem outra condição do que ser uma bolha protegida e, portanto, com rede estendida para que não se magoem nas lides encomendadas…

Sobre a aprendizagem no confronto com outros modos de ser e de estar, valerá a pena escutar as experiências de muitos que fizeram o Erasmus: mesmo que enquadrados pelo âmbito escolar tiveram de soltar as amarras das famílias para voarem do ninho da pasmaceira do protecionismo paternalista e maternalista… Outras experiências de voluntariado – com ligações a associações e igrejas, com traços de aventura – têm permitido encontrar novos objetivos, valorizando os dos outros e relativizando os seus. 

= Já passou o tempo em que uma pessoa nascia, crescia e reproduzia-se (com ou sem descendência) sempre no mesmo espaço. A mobilidade humana é hoje uma das maiores caraterísticas dos tempos hodiernos e isto faz-nos viver numa pobreza e humildade contínuas, vivendo na sensação de que algo vai ser diferente e uns com os outros vamos aprendendo novos e constantes desafios à nossa própria aprendizagem e exigência de adaptação…

Diante da crescente uniformização de condutas – humanas, culturais e mesmo morais – em resultado da globalização e não só, podemos interpretar um tanto melhor a miscigenação da Europa com todos os riscos e riqueza que daí advêm. Deste modo poderá soar a controlo das mentalidades – outros diriam ditadura da condição – o que foi dito na reunião do partido no governo…E nem os acenos de melhores condições salariais bastarão para atrair uns tantos mais ou menos seguidistas para tentarem fazer carreira sem mecha nem lume…

Quem tenha vivido noutras culturas e experimentado outros voos não virá capitular diante dos seus anseios de uma vida mais desafogada senão na economia ao menos na mentalidade. Seremos, de facto, muito rasteiros na prossecução de sermos mais e melhores cidadãos duma Europa onde os cidadãos valham pelo que são e não pelos resultados económicos que conseguem.

Quem avaliar os resultados dos estudos de muitos dos nossos estudantes poderá ficar estarrecido pela não-cultura que manifestam. Quantos deles se valorizam estudando, mas depois se acomodam às suas contingências de pequeno mundo das suas tradições ancestrais e quase ignorantes…na forma e no conteúdo.  

= Neste mundo pluralista e diverso torna-se essencial educar para os valores, subjugando as conquistas materiais – na maior parte das vezes nitidamente materialistas – ao derrubar de barreiras e de muros, que as sugestões supra citadas não passam de quimeras de quem não tem mais nada a propor do que penachos e aliciantes na mesa do poder estabelecido ou a conquistar. Os mais novos não podem deixar-se vender por enganos e promessas sem valor… Se assim for, então, estamos muitíssimo mal!    

 

António Sílvio Couto 


 

Sem comentários:

Enviar um comentário