Parece
um dado incontornável: os portugueses estão a gastar mais dinheiro no jogo…num
total, em 2017, de 3.519 milhões de euros…verificando-se um aumento de onze por
cento em relação ao ano de 2016
Vejamos
os números que são conhecidos.
Nos
ditos ‘jogos sociais’ da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa houve apostas num
valor de 3.028 milhões assim distribuídos: raspadinha – 1487 milhões;
euromilhões – 851 milhões; placard – 502 milhões; totoloto – 100 milhões; lotaria
clássica – 41 milhões; lotaria popular – 23 milhões; joker – 18 milhões;
totobola – 8 milhões. Por seu turno, as apostas em casinos foram de 333,1
milhões; nos bingos – 57 milhões; no jogo online – 122.5 milhões.
= Que
significado pode ter esta febre de jogo, ao que parece, crescente? Isto quererá
dizer que os portugueses desejam enriquecer sem trabalhar? Será, então, um investimento
sem esforço e com resultados mais imediatos? Esta opção pelo jogo é resultado
da abundância (o dinheiro já sobra para gastar sem conta) ou da crise (do pouco
que há, se quer fazer mais rápido)? Será legítimo seduzir as pessoas para o
jogo, pondo em causa a dignidade pessoal, familiar ou social? Mesmo que possam
ser designados de ‘jogos sociais’, será correto recorrer ao jogo para ganhar a
jogar, o que devia ser ganho a trabalhar? Não estaremos a cultivar mais a
sociedade da preguiça e do lucro fácil do que a gerar uma sociedade alicerçada
no trabalho e na justa recompensa do mesmo? Sendo algo de anónimo, o jogo não
estará a seduzir gente sem rosto nem idade para a ele se submeter?
= O que
diz o Catecismo da Igreja Católica sobre este tema do jogo, sobretudo se tem a
componente à designação de ‘sorte-e-do-azar’: «Os jogos de azar (jogos de cartas, etc.) ou as apostas em si não são contrários
à justiça. Tomam-se moralmente inaceitáveis quando privam a pessoa daquilo que
lhe é necessário para suprir suas necessidades e as dos outros. A paixão pelo
jogo corre o risco de se transformar em uma dependência grave. Apostar
injustamente ou fazer batota nos jogos constitui matéria grave, a menos que o
dano infligido seja tão pequeno aquele que o sofre não possa razoavelmente
considerá-lo significativo» (n.º 2413).
=
Tentemos encontrar neste texto da doutrina da Igreja algo que nos poderá exigir
mais à formação da consciência de tantas pessoas que enchem as casas de
apostas, os locais de jogatina e mesmo os espaços onde o fator dinheiro – é
este que move, certamente, tantos dos jogadores – numa cultura bastante
materialista e de dependência em ganhar mais e mais.
* Como
qualquer vício, o jogo será sempre perigoso, se entrarmos nele com objetivos de
apostar, de ganhar e voltar a apostar… Ninguém acredita que possa entrar neste corrupio
do jogo para sair dele sem marcas ou mazelas. Pode começar por pouco, mas a
sedução da riqueza falará mais alto e, quando se aperceber, estará tomado pelo
vício, mesmo naquilo que cria dependência mais ou menos assumida.
* A
divulgação dos números supra apresentados poderá ser ainda mais um aliciante
para que os jogadores queiram mais, pois, se uns conseguiram ter sucesso,
também me poderá tocar – ao menos uma vez – a minha sorte… Fazer fortuna a
jogar não costuma ser algo que faz vencer quem assim aposta, pois o parco ganho
será despendido em novas tentativas de ganhar outra vez e o ciclo continuará
até à ruína mais ou menos próxima… Quanta miséria criada pelo vício do jogo!
= Numa
nota de índole pessoal: que me lembre talvez só tenha andado por esta área do
jogo, apostando nalguns dos ditos ‘jogos sociais’, duas ou três vezes…e sem
grande convicção. Num casino só entrei, a convite, uma vez, recentemente, e
aquilo que vi – era uma tarde de semana – deixou-me apreensivo sobre as pessoas
que por ali andavam a tentar a sua sorte: os rostos eram tristes – talvez pelas
perdas já acontecidas – à mistura com uma certa apreensão, na ansia de vir a
ganhar ou a perder tudo e o resto… A situação geral é preocupante! Os números
não enganam, pois o vício parece entranhado na nossa cultura, em especial!
António Sílvio Couto
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