Segundo
dados obtidos recentemente, em fontes fidedignas, o que se está a passar no
‘mundo do futebol’ tem tanto de preocupante, quanto de revelador de imensas
teias de poderes entrecruzados e complexos. Com efeito, há casos em que,
tentáculos de forças transnacionais, vão deambulando, de país em país e de
continente em continente, à procura de clubes em frágeis condições económicas
em ordem a tentarem impor as suas regras subterrâneas, onde se inclui a lavagem
de dinheiro e outras subtilezas, por vezes não-vistas pelas autoridades…
- Se há,
por hipótese (ou na realidade), um jogador com salários em atraso há mais de
seis meses, como poderá ele reagir ao montante apontado para, com pequenos
erros/faltas/transgressões, angariar meios para resolver problemas vários?
- Se,
por entre tantas vicissitudes da vida e da curta carreira de atleta, surgem
oportunidades de vencer barreiras de meses e de anos, não será suscetível de
cair quem com tais aliciantes possa ser tentado?
- Se
está a carreira ou a vida em jogo, não poderá fazer cair quem, subtilmente,
possa ser ameaçado?
= É
impressionante o supermundo onde se pavoneiam tantos dos nossos jogadores.
Dizia-se, por estes dias, a propósito dos conflitos numa das agremiações mais
populares do nosso país: é percetível ver a presença dos jogadores, tal é a
quantia de carros de alta cilindrada e topo de gama… Isso mesmo era confirmado
no desfile de carrões em vários dos momentos noticiados. Não andarão aqueles
cidadãos a viver acima das suas possibilidades? O controlo das finanças não vai
investigar os tais sinais exteriores de riqueza? Com tais tratamentos de
vedetas não estaremos – cada qual ao seu nível – a contribuir para que os
jogadores se sintam seres superiores, senão nos dotes ao menos nos proveitos? O
simpatizante, o adepto, o associado e toda a outra cadeia de investidores no
negócio do desporto – e do futebol em particular – não terão culpa por terem
contribuído para essa ‘bolha social’ em que foram colocados estes dotados e bem
pagos?
Muita
coisa está mal no reino da bola – tenha ela o formato que possa apresentar – na
medida em que se vive num submundo com outras regras e outros tantos critérios
que não são captados por todos. Quanta comunicação social gravita em volta do
desporto. Quantos negócios se fazem e/ou desfazem sem se entenderem os quês nem
os porquês. Quantos vivem como se a vida fosse só isso ou se os problemas do
mundo se reduzissem à configuração do tratamento dado ao desporto e, sobretudo,
às questões verificadas na área do futebol.
= Talvez
nunca como agora a nossa sociedade ocidental – e a portuguesa em especial – se
tem deixado guiar e viver pelo lema ‘pão e jogos’ da época decadente do império
romano do ocidente, em meados dos séculos quarto e quinto depois de Cristo. Ao
tempo o imperador entretinha os seus súbditos dando-lhes pão e fornecendo-lhes
divertimento. Isso mesmo temos vindo, progressivamente, a experimentar nas
décadas mais recentes. Resolvidos muitos dos conflitos bélicos entre os povos,
agora como que chafurdamos numa espécie de amoralidade sem lei nem regras, a
não ser o de usufruir do bem-estar pessoal, nem que mais não seja à custa de
serem atropelados os outros… E nem as propostas éticas/morais escapam à
subtileza deste amorfismo crescente.
Aquilo
que poderia ser um ambiente de atenção aos outros, pois muitas das necessidades
primárias estão resolvidas e asseguradas, tem vindo a degenerar num fechamento
aos outros, gerando mais e mais egoísmo e até egolatria. O ‘eu’ marca pontos
sobre os ‘outros’ e estes como que podem ser considerados inimigos da conquista
dos direitos individuais. Na cultura de Esparta – uma cidade grega onde a
esfera do eu corporal tinha precedência sobre a dimensão cultural – saber
roubar, desde que não fosse descoberto era como que uma regra de conduta. Assim
hoje parece reinar o ditame: rouba desde que não te descubram…
Estamos
num tempo pré-cristão, com a agravante de agora ter acontecido que outra
versão: a mensagem cristã foi-se degenerando e perdendo o sabor para salgar o
mundo e as pessoas. Há sinais de inquietação cultural e de eminente capitulação
de algo que foi a matriz de conduta de séculos, mas em breves décadas, dá a
impressão que deitamos tudo a perder…
António Sílvio Couto
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