Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quarta-feira, 9 de maio de 2018

Tocar conforme os bailarinos ou dançar ao ritmo da música?


Por vezes dá a sensação que certos assuntos são noticiados para agradarem a determinado leque de interessados ou que outras vezes surgem questões para encaixarem nas temáticas de maior sensibilidade a quem as deseja tratar. Isto é, umas vezes toca-se a música tendo em conta quem a vai interpretar, enquanto noutras circunstâncias são os dançarinos que se adaptam ao reportório apresentado.

Vem isto a propósito do tema da eutanásia – como já aconteceu noutros assuntos de costumes e de valores – quem introduziu a questão na discussão pública atendeu mais ao seu ritmo e calendário do que ao que era mais importante tratar na vida pública e política… Se isto era razoável quando o tema surgiu pela primeira vez pela mão das forças trotskistas, é no ainda mais agora que veem fugir o espaço de reivindicação em matéria de assuntos sociais, laborais e anticapitalistas…

 * Nota-se que há forças que não medem a utilidade dos assuntos, antes se guiam pela necessidade de estarem na crista da onda, mesmo que essa vaga possa ser-lhes menos favorável. Talvez tenhamos de saber antecipar com mais antecedência os problemas, mesmo eles nos possam nem sempre ser os mais necessários. Neste campo da eutanásia – bem como de outras questões da ética/moral, da família/vida – a Igreja católica tem andado mais a reboque na tomada de posição e do esclarecimento público – em reação um tanto desajustada – com um desfasamento temporal nem sempre entendível para quem sabe da importância destas questões, devendo prevenir antes de remediar… Até porque não está garantido que uma boa parte da população portuguesa – a percentagem a favor pode ser quase arrasadora – não seja mais pela ‘morte doce’ do que pela valorização da vida ‘entre a conceção e a morte natural’… Há expressões e sentimentos que se ouvem – até por ocasião do falecimento dalgumas pessoas, sobretudo das mais sofridas e sofredoras – que leva a ir por esta posição mais materialista de matar antes de estar a sofrer…  

* Como muito bem sido dito, falta informação credível sobre o tema da eutanásia nos países – Holanda, Bélgica ou mesmo Suíça – onde já é legal. Em muitos casos temos sido informados/intoxicados com dados que são mais favoráveis ao incremento da eutanásia… quase como ‘falsas notícias’.

Depois de ter sido colocado o item do ‘sofrimento incomportável’ como razão plausível para o recurso à eutanásia foi-se deslocando – ou talvez se possa considerar resvalando – para o âmbito da dignidade como forma de tornar aceitável o pedido de eutanásia ou da solicitação até da família – sobretudo no caso de velhos e com demência – para que uma pessoa possa ser eutanasiada…De facto, colocar a discussão na barreira da dignidade torna este problema ainda mais acutilante, pois o critério de ‘dignidade’ é tão variável quanto a mentalidade que lhe pode estar subjacente.

Na Bélgica houve situações em que foi ministrada a eutanásia a alguém que se encontrava em depressão e solicitou aquele recurso de colocar termo à vida…  

* «De forma sintética, podemos dizer que subjacente à legalização da eutanásia e do suicídio assistido está a pretensão de redefinir tomadas de consciência éticas e jurídicas ancestrais relativas ao respeito e à sacralidade da vida humana. Pretende-se que o mandamento de que nunca é lícito matar uma pessoa humana inocente (“Não matarás”) seja substituído por um outro, que só torna ilícito o ato de matar quando o visado quer viver. Consequentemente, intenta-se que a norma segundo a qual a vida humana é sempre merecedora de proteção, porque um bem em si mesma e porque dotada de dignidade em qualquer circunstância, seja substituída por um outro critério, segundo o qual a dignidade e valor da vida humana podem variar e podem perder-se. Ora, na nossa conceção, isto é inaceitável» – Nota pastoral do conselho permanente da Conferência Episcopal Portuguesa, ‘Eutanásia: o que está em causa? Contributos para um diálogo sereno e humanizador’ (8 de março de 2016), n.º 3.

Não deixemos que nos façam dançar com uma música que não queremos interpretar nem que nos queiram tornar executantes duma outra música que abjuramos…em razão dos nossos valores, que exigimos que sejam respeitados como eles querem pensar e agir, à sua maneira!    

 

António Sílvio Couto  


Sem comentários:

Enviar um comentário