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quarta-feira, 16 de maio de 2018

Desfile de lerdices…na eurovisão


Nos tempos que correm cheira a ranço o desfile das canções do (dito) festival da eurovisão, não só pela manifesta falta de qualidade das mesmas, mas também pela incongruência dos meios usados que não se repercute na inovação musical desejável… Custa a crer que ainda haja quem aposte numa coisa tão lerda – vagarosa, apática, de raciocínio lento, acomodada, sem iniciativa – e faça disso um acontecimento de grande alcance…televisivamente com um grande share/audiência…à falta de melhor noutros canais.

Houve quem tenha criticado o evento recente, passado em Portugal, mas pareça excluir-se de que foi a sua prestação – tão badalada quão manipulada – que trouxe esta miséria – musical e artística – cá para dentro…

Olhando para a prestação das votações, já lá vai o tempo em que as afinidades políticas e geográficas se exprimiam nessas votações pelos concorrentes em vizinhança… Até isso deixou de ser benéfico para tantos, sobretudo para as nossas cançonetistas, classificadas em último lugar com uma prestação, nitidamente, sem glória nem honra…

Quem tenha somente lido o que foi dito – como é o meu caso – e não tenha seguido as longuíssimas horas de emissão da televisão estatal, terá ficado a saber que foram gastos, na organização do festival, 20 milhões de euros…à mistura com os suficientes proveitos hoteleiros e turísticos, sem esquecer a publicidade ao país e tantos outros ‘benefícios’ ao menos por alguns dias.

A vitória duma canção israelita já começou a fazer fervilhar contendas políticas, colocando alguns países a hipótese de boicote por ser onde se espera que possa acontecer. Muita coisa decorrerá, por certo, até à data do novo festival da eurovisão, mas será de aprender com os erros praticados, este ano, sem deixarmos de questionar a confluência imprevista da vitória do ano transato… A qualidade continua excessivamente fraca para que não se pretenda considerar que a classificação portuguesa deste ano é, de verdade, o retrato da nossa mediocridade artística e cultural…Basta de tentar disfarçar! 

= Algumas questões nos pode levantar a polarização em volta dum acontecimento que bem espremido pouco deixa de substancial e do adjetivado são parcos os qualificativos.

* Os meios usados têm correspondência nos resultados – muito mais do que meramente económicos – obtidos?

* As apreciações intentadas antes, durante e depois do evento não sofrem dalguma moldura preconcebida e onde alguns estereótipos se não encaixam podem ser matéria para exclusão da qualidade e não da promoção? * Como dizia um concorrente vencido – depois da mulher de barba, veio a galinha cantante – não andaremos a fazer de coisas como esta um estendal de mau gosto e de insuficiente valor no espetro europeu e mundial?

* Não será este o critério para que haja um produto desta qualidade: não andaremos a endeusar a música, fazendo desse culto uma religião transnacional e uma obsessão onde se nota a categoria de novo ópio do povo?

Os artefactos em uso em tantos festivais de música – são às dezenas em cada verão – podem-nos fazer crer que a música se tem vindo a tornar em algo mais do que uma arte, mas antes uma produção muito especial para consubstanciar naquilo que arrasta multidões, gera e gere milhões, com muitos outros campos de atividade que lhe estão adstritos…uns legais e tantos outros subterrâneos. Tudo isto com uma difusão à medida das comunicações atuais e com os meios cada vez mais sofisticados para aliciarem novos adeptos e consumidores. Talvez nem tudo sejam tão limpo como se pretende fazer acreditar. Talvez nem sempre se vejam todos os contornos do mundo da música. Talvez ainda andemos, uma boa maioria, a ser embalados por ritmos que nos querem adormecer e iludir com melodias de enganar.

Quando tanta coisa se estuda e esmiúça, parece-me que seria muito útil estudar mais a fundo o que faz a música tão especial neste tempo eivado de futilidades, de modas e de tendências. Assim haja coragem e vontade de aprender com tudo isto que se vê e tanta outra coisa que não se consegue ver em primeira olhada. Com efeito, depois da canção-mensagem, precisamos de discernir qual a mensagem da canção…e da música que a suporta!   

 

António Sílvio Couto

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