As mais
recentes discussões sobre a despenalização/legalização da eutanásia –
eufemisticamente apelidada de ‘morte medicamente assistida’ – trouxe à liça a
conjugação de trocadilhos não menos irónicos: a humanização dos animais versus
a animalização dos humanos, onde se têm vindo a trocar os direitos dos animais
pelos deveres dos humanos, tanto na conjugação de uns com os outros como no
confronto entre os dois vetores…
Com
alguma facilidade vemos grupos partidários e formações ideológicas transversais
a defenderem com mais vigor os animais, colocando os humanos na linha da morte
senão imediata ao menos pretendida. Não é um pouco isso o que se pretende fazer
com o combate fundamentalista às corridas de toiros, enquanto se promove a
divulgação da eutanásia? Que dizer ainda da exaltação dos animais – sobretudo
os ditos de companhia – enquanto se desincentiva a natalidade – com leis,
mentalidades e ações –, tornando aqueles os substitutos dos filhos e de entes
queridos? Como é entendível que formações partidárias concorram coligadas,
quando nas iniciativas próprias defendem o contraditório dos outros?
Não está
em causa, nesta argumentação que pretendemos apresentar, de forma alguma que os
animais sejam tratados de modo menos respeitável e com menor cuidado, mas antes
que não se sobreponham estes aos humanos, pois pelo caminho que vamos, teremos,
em breve, uma cultura demasiado holística para que as pessoas humanas não
tenham de reivindicar os seus direitos tais são os atropelos no confronto com
as regalias e benesses dadas aos animais…
= Este
fenómeno de hipervalorização dos animais relativamente aos humanos não será uma
espécie de mudança cultural e quase fracionária da nossa condição de humanos?
Que pensamento está subjacente a esta tão rápida mudança? Não andaremos
iludidos com esta modificação na mentalidade de tantas pessoas e de muitas em
simultâneo?
Por
outro lado, como se poderá compreender que a desvalorização do ser humano tenha
descido tão baixo e de forma tão rápida? Não foram os animais que pediriam nem
que executaram esta modificação, mas alguns humanos ‘iluminados’ às ordens sabe
lá de quem e com que finalidade. Os desenvolvimentos no final do século passado
e parte deste têm feito um tal caminho que será de arrepiar sobre o futuro
próximo… Humanidade e humanismo chegaram ao descalabro quase total!
=
Perante certos guardiães duma tal moralidade social, vemos emergir uma
tendência trotskista e afins a censurarem tudo e o resto daquilo que não são os
seus objetivos mais ou menos dissimulados. Se uma campanha antitabágica não
lhes agrada – sabe-se lá se a atriz na alinha nos seus ideais! – logo pedem a
suspensão da mesma com rótulos de misoginia e adjetivos quejandos. Quando
pretendem impor a sua orientação sexual, logo fazem o resto de tudo para que
pareça que a maior parte os secundariza. Quando acham que os mais novos
precisam de drogas a pataco, logo insinuam os benefícios da canábis, primeiro
medicamentosa e em breve aduzida como terapêutica contra os problemas da sua
claque, mas estendidos à possibilidade para todos.
Foram
estes guardiães da tal moralidade que quiseram trazer para a discussão – a que
lhes interessava e não a da população em geral – a temática da eutanásia, mesmo
que julgando ganhar antes de irem a jogo. Talvez nesta área da saúde devêssemos
fazer uma mutação na designação do titular, passando a chamar-lhe ‘ministro da
doença’, tal é a complexidade de problemas a enfrentar, mas que ele – quem o
acompanha e os outros elos da cadeia – vai chutando para o lado, numa espécie
de não-resolução despachada a contento…
= A
leitura e interpretação do personalismo quase capitulou, mesmo nos partidos que
disso se reclamavam. Pé-ante-pé a dialética marxista tem vindo a querer
sobrepor-se na vida pública e privada. Os tentáculos leninistas e trotskistas
estão novamente a enredar muita gente, senão ao nível do pensamento, ao menos
na vida prática. Temos de estudar mais as razões e os comportamentos, não nos
deixando ludibriar com a ética republicana, que tem servido para uns tantos
irem flutuando sobre a nuvem de esterco… É preciso acordar!
António
Sílvio Couto
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