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quinta-feira, 24 de maio de 2018

Cantilenas desafinadas…lá como cá


 
Na voragem das notícias, por entre as que mais chamuscam e que fazem correr tinta, gastar palavras e demorar horas, vemos umas outras que, mesmo sendo significativas e de interesse geral, são ofuscadas por aquelas mais sonantes ou exploradas para encobrir estas.

Foi noticiado no país vizinho que um alto dirigente duma agremiação política, maila sua companheira, ambos responsáveis na estrutura, estava prestes a adquirir uma moradia pelo módico valor de meio milhão de euros… Ele que tinha feito cavalo-de-batalha para com outro político em tempos não muito recuados por idêntica façanha, estava agora a ser apanhado na voragem da incongruência… O posto de mando parece que está em risco e a lógica de ‘olha para o que eu digo e não para o que eu faço’ não parece surtir efeito lá…

Por cá um governante foi caçado a ter vendido uma casa pelo dobro do preço pela qual a tinha adquirido…só no espaço de dez meses. Até aí seria de contentar-nos com a habilidade/esperteza no negócio… Só que esse mesmo senhor tem vindo a fazer da sua conduta pela habitação uma cruzada tal – pela não especulação imobiliária, sobretudo envolvendo pessoas idosas. Ora foi exatamente o que aconteceu: o senhor governante comprou o apartamento a um casal de idosos, que agora se sente ludibriado e de alguma forma explorado pelos ganhos do defensor da não-exploração imobiliária. 

= Postos os factos, talvez tenhamos de fazer uma certa análise à luz da lógica de quem diz e não faz ou, então, que faz o contrário daquilo que diz…sobretudo sob a complacência de certos ‘fazedores de opinião’ e por entre as pingas das discussões à volta da (pretensa) violência (só) no fenómeno desportivo.  

– Antes de mais é de prevenir que outros – ainda em fase de irem a julgamento – tanto quanto é possível saber, foi deste modo displicente e disfarçado que começaram a constituir o seu património e as confusões que daí advieram. Dá a impressão que os casos do passado não têm servido de lição para ninguém… nem para os jornaleiros nem para os intervenientes!

– Não pode haver uma visão e leitura para a tropelias cometidas por uns – os da direita – e uma desculpa mais ou menos tácita para outros – os da (dita) esquerda – ou andaremos a viver numa sociedade enviesada na sua conduta…onde os preconceitos reinam e fazem com que não haja justiça nem democracia e tão pouco igualdade para todos.

– Nota-se que para uns tantos não há freio para os seus intentos, desde que sejam cometidos pelos da sua simpatia, até se poderá dar um certo desconto – bem mais alto do que as taxas de impostos – pois talvez, um dia, possam precisar de cobertura para os seus lapsos, erros ou enganos…Já estamos escaldados de leituras ideológicas quanto baste, pois mal vai um país/nação se uns forem tratados de forma mais benemerente atendendo à coloração do cartão, seja de militante, seja de sócio da agremiação do fiscal…  

= Cada vez mais é preciso que haja moralidade na vida pública, tenha ela a nota da ‘ética republicana’, tenha a da visão e da vivência da moral cristã ou ainda segundo uma proposta muçulmana, budista, hinduísta… até na linguagem humanista sem referência religiosa. Não basta clamar contra, é preciso fazer algo de construção. De que adianta ter legislação contra a corrupção, se ficam brechas na lei que permitem aos gabinetes de advogados – alguns são os mesmos, legisladores e intérpretes – livrar da condenação quem possa estar sob a alçada da condenação? Não será ilusório querer ajustar contas com quem sabe como pode escapar? Não terá algo de manipulação que nos façam crer que se está a combater a corrupção, mas, na hora da sentença, não haja mais do que pequenos indícios apanhados na teia e não o grosso dos prevaricadores? 

= Os casos que nos fizeram ocupar neste texto são como que a ponta do icebergue da política visível. Muitas outras situações andam por aí camufladas e tentaculares. É preciso cercear a hidra para que as ramificações não proliferem à vontade e de forma impune. Mais do que pequenos e inofensivos caracóis, que fazem a delícia de tantos em tardes de canícula, importa capturar a multidão de escorpiões, que deambulam pela vida política, procurando a quem infetar com o veneno da imunidade de executores das tarefas nem sempre descobertas e tão pouco castigadas…  

 

António Sílvio Couto

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